sexta-feira, janeiro 19, 2007

Eu não enxergo bem, e você?

Eu não enxergo bem, definitivamente.

Eu tento. Abro bem os olhos e forço a vista, franzindo o cenho, enrugando a fronte daquele jeito que deixa marcas. Ainda assim, não consigo sustentar o olhar por muito tempo. Me dói a cabeça, uma dor que vai além do físico, uma dor que barra a moral e que transcende o óbvio. É quase um choque. A pálpebra fica cansada, ela pesa um absurdo, então eu pisco várias vezes procurando o foco, mas dói demais.

Posso cobrir os olhos com a mão e protege-los do sol, mas não adianta. Eu não enxergo bem. Não sei se é a iluminação. Às vezes tem sombras de mais, e tudo fica assim, meio encoberto. Meio secreto. Mas quando eu procuro a luz, sem nem sempre encontrar, tudo fica muito claro e perturbador. Todo aquele brilho atrapalha. Tanto contraste! E tem todas aquelas coisas que eu não quero ver.

Eu não enxergo bem. Pode ser a distância entre eu e o objeto do foco. Se ele tá muito perto eu não enxergo o todo, tem todo aquele charme do conjunto que me falta, a forma, a silhueta, o tamanho. Então eu afasto, e os detalhes é que desaparecem. Eu perco a beleza da pequenez, da sombrinha, do maneio. Perco a textura, o cheiro, o relevo. De todo o jeito, as coisas parecem meio borradas, como se tivesse algo errado.

Vou além. Tem vezes que eu não enxergo bem! Bem que eu tento. Juro! Eu olho com cuidado, várias vezes, mas eu nunca consigo olhar por todos os lados ao mesmo tempo. Quando olho de frente, me falta o perfil. Quando olho de cima, perco a perspectiva. Se eu giro em torno é o centro que se perde, e eu queria ver direito, de todos os ângulos pra conseguir entender.

Diz que a formação da imagem é associada com a palavra, que eu sei o que é o que porque tem um nome. Eu acho que não. Eu sei os nomes todos. Cadeira. Cama. Mulher. Ar. Olha ai, ar! Eu sei o nome, e não consigo ver! Porque será?

Diz que nem tudo é igual pra todo mundo, por causa disso. Que a cadeira cada um vê de um jeito, mas que todo mundo sabe que é cadeira. Eu queria é saber como é que as outras pessoas me vêem, eu sei que eu não me enxergo muito bem. Sabe como é, nós somos complexos. Nós temos um monte de palavras pra formar uma imagem só. Às vezes, vai saber, as palavras que eu uso pra me ver são diferentes das dos outros.

Diz que tem coisas que nem todo mundo enxerga. Eu não enxergo cheiro, por exemplo, mas tem quem veja! Eu também não consigo enxergar sentimento, amor, verdade, mentira, essas coisas que todo mundo que vê normal consegue. Eu não vejo fantasma, passado e futuro, não vejo estrada e destino, essas coisas que todo mundo que não é lá muito normal consegue. Deve ter algo errado comigo.

Tem toda a situação da pupila. Quase certeza que o problema ta na pupila. Diz que a quantidade de realidade que você enxerga depende da dilatação da pupila. Diz que tem outras coisas que também influenciam a dilatação da pupila. E que o medo e o interesse são duas delas. Mas o que acontece quando temos medo de mais? E quando temos interesse de menos? Ou vice e versa? Será que não atrapalha?

Sei lá.

Eu não enxergo bem. Mesmo.


--------

Pós Escritos:

Fazia algum tempo que eu não tomava alguma liberdade poética nos meus textos, bom, cá está, aos que sentiram falta.

Demorei um pouquinho por falta de inspiração. Tava assistindo o Grand Slam da Austrália. Agora que o Safin rodou, espero que o Hewitt ganhe. Será que tem alguém que gosta daquele almofadinha do Federer?

domingo, janeiro 14, 2007

Você não sabe, mas lembrei de ti antes de dormir....

Passei o dia inteiro pensando em você.

E eu sou daqueles que acha que faria um bem tremendo para o ego, amor próprio ou auto-confiança (o que preferirem) das pessoas se toda vez que alguém pensasse nelas um bipzinho neurológico soasse, do tipo Bom dia fulaninho, alguém está, nesse momento, pensando em você com carinho!. Óbvio que a rima nem sempre é necessária.

Fato é que todo o dia, em vários momentos, nos pegamos pensando em alguém que nos é especial ou nos marcou de alguma forma. É comum que associemos pessoas a alguma representação sensorial, uma imagem, um som, um cheiro, um gosto, e conforme o dia passa e as situações cotidianas vão acontecendo torna-se praticamente involuntário que as tais associações façam com que nos lembremos dessas pessoas, principalmente quando são associações carinhosas e amorosas, que de alguma forma parecem ter prioridade na nossa psique.

Eu me pego várias vezes ao dia pensando em alguém sem nem ter reparado. Do tipo, caramba, esse filme me lembra fulano, ou nossa, imagina se fulana estivesse aqui agora vendo isso, ou hm, mas esse perfume tem o cheiro de beltrana, entre tantas outras possibilidades. Existem particularmente dois momentos que são de tremenda importância na minha rotina, são os momentos em que mais me passam pela cabeça idéias, lembranças, desejos e porque não, pessoas. Durante o banho – não qualquer banho, mas aquele do fim da tarde, começo da noite, o mais demorado e mais gostoso de todos -, e antes de dormir. Antes de dormir é praticamente uma hora sagrada, é quando repasso como foi meu dia, o que eu poderia ter feito diferente, e é quando as minhas melhores composições e idéias surgem. Já cansei de estar deitado, do nada levantar e vir escrever no blog porque tive um estalo.

Queria eu poder dizer para as pessoas que passam o dia inteiro ao meu lado, não fisicamente, mas em pensamento, que não importa o que seja elas estão comigo. Ou então, dizer para os amigos e amigas com os quais perdi o contato com o tempo, mas que me fazem falta em algum aspecto, que em alguns dias ou em alguns momentos específicos eles surgem na minha cabeça. Que eu me lembro deles com afeição. Aliás, que bacana seria se todo mundo pudesse dizer essas coisas pras outras pessoas. Essas coisas que de alguma forma possuem diversos bloqueios para saírem da idéia e transformarem-se em palavras, seja timidez, seja o medo de parecer tolo, seja qualquer tipo de impedimento social, desses tantos que levamos conosco. É quase a mesma coisa do dizer eu te amo, que hoje em dia vive uma situação tão paradoxal que é mais fácil e costumeiro dizermos eu te amo a todo mundo que não amamos do que conseguir dizer pros que sentimos alguma coisa.

Eu gostaria de poder dizer, por exemplo e sem soar piegas, para a minha mãe e especialmente para a minha avó (visto que vejo minha mãe todo dia e minha avó raramente, não por falta de oportunidades) o quanto eles são presentes na minha vida, mesmo quando estão longe. O quanto eu penso várias vezes ao dia com carinho em ambas. O mesmo vale para meus amigos, que hah, não vou citar nomes aqui porque eles lêem e sabem quem são e meus bloqueios permanecem até quando escrevo, o quanto de alguma forma eles estão sempre presentes. Mesmo que se passem dias, semanas ou meses sem que troquemos algumas palavras.

Eu sei que esse texto sai um pouco do padrão gabs de ser com que a maioria está acostumada. Mas é que entrei numa comunidade do orkut que me fez pensar um pouquinho nessas coisas. É coisa de filme a idéia de, por exemplo, você com sessenta anos ficar sabendo que durante toda a sua vida alguém esteve pensando em você com freqüência e com carinho e que você nunca soube, porque as pessoas não dizem isso umas pras outras com freqüência, e que se soubesse de repente faria seu dia um pouquinho mais feliz. Ou então, toda a sua vida, em casos mais específicos.

Eu não sou um cara que acredita em destino. Eu não acho que as coisas acontecem porque tem que ser. Elas acontecem porque nós fazemos acontecer. Eu infelizmente não tenho o conforto de ser um conformista, a mim sobra o martírio do covarde, aquele que não é capaz de dizer o que eu gostaria, sempre, ainda mais quando se trata de sentimentos bonitos. É muito mais fácil a crítica que o cumprimento. É muito mais fácil a declaração de ódio que de amor. O xingamento do que o elogio. Aos que são importantes, considerem-se declarados.

Passei o dia inteiro pensando em você – eu juro.

-----------------

Pós-Escritos:

Comentários inesperados no último post. Fiquei feliz, de verdade. Também pelo anônimo, que não deveria ser anônimo visto que eu não acho que instigo o ocultamento de ninguém – sou inofensivo, mas mais pelos outros.

Eu escrevo porque gosto de ser lido e gosto do diálogo entre partes. Gosto da discussão. O único motivo de ter mantido esse blog por já, meu deus, exatamente um mês (ele começou dia 14 de novembro) são os comentários. Mesmo que não se tenha nada a dizer, dizer que passou por aqui e leu meu texto já é importante pra mim. Agradeço.

E acho que alguém não vai gostar de saber que eu atualizei ele de novo sem dar tempo pra ele terminar de escrever o comentário do ante-penúltimo post, mas cada um com seus problemas ;P.

Pra quem chegar aqui e não tiver lido os dois anteriores ainda, eu acho que vale a pena. Considero o meu último post um dos melhores que já deixei aqui.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

O charme da imperfeição e toda essa coisa chata...

Essa coisa de perfeição é furada.

Primeiro, explico como nasceu a discussão. São 7:54 da manhã e eu ainda não dormi, estava deitado tentando quando comecei a assistir um filme no Cinemax Prime, mais uma daquelas comédias românticas em que o mocinho só percebe que a garota perfeita esteve sempre do lado dele depois de a menina popular trocar o nome dele enquanto davam uns pegas dentro do banheiro. Pensei comigo, puxa vida... eu também quero alguém assim (óbvio, se for igual a Jennifer Love Hewitt, a garota perfeita do filme, ajuda bastante), como não podia deixar de ser, instantâneamente comecei a relembrar meus relacionamentos passados. Para me aprofundar, acabei fazendo como toda pessoa que quer ter certeza das coisas nos dias de hoje, acessei o orkut. Deparei-me então com três perguntas na aba personal. Elas eram: ideal match, my idea of a perfect date, e from my past relationships I learned.

Fiquei confuso. De alguma forma as duas primeiras respostas entravam absurdamente em contradição com a resposta da última. Decidi que o melhor era tentar uma por uma, já que óbviamente tinha alguma coisa errada – comigo, pelo menos. Primeiro, como seria meu par perfeito? Bom, isso eu sei (ou deveria saber) responder.

Meu par perfeito é alguém inteligente, antes de tudo. Alguém com quem eu consiga conversar por horas e horas sem me sentir entediado, que seja curioso e tenha vontade de aprender coisas novas e traze-las para dentro do relacionamento, novos assuntos, novos interesses, novos hobbies. Meu par perfeito é alguém que saiba demonstrar carinho, não de forma melosa, mas de forma surpreendente. É aquela pessoa que às cinco horas da manhã depois de três dias sem se falar manda um sms dizendo te amo, seu escroto!, ou qualquer coisa parecida, daquele tipo que te coloca um sorriso no rosto quando você menos espera e te faz pensar putz, que doidera!. Ah, meu par perfeito, além de interessante e surpreendente também tem a cara da Scarlett Johanson.

Então eu olho pra minha descrição e penso, bom, olha lá... meu par perfeito não é muito diferente do dos outros não, afinal, quem não quer alguém bonito, interessante e que te surpreenda?

Daí tem o negócio do encontro perfeito. No meu profile tem um encontro perfeito enorme. Sintetizando a idéia, na minha cabeça os meus encontros perfeitos sempre acontecem em locais com número grande de pessoas. Festas, encontros, reuniões, baladas. E então, como num passe de mágica, as duas pessoas se conhecem e é como se tudo em volta desaparecesse. Tão clichê né? Já vi isso em trocentos lugares diferentes, toda comédia romântica tem alguma cena dessas. Mas como o meu encontro perfeito pode ser tão clichézão assim, se ele é meu?

Por último, surge a pergunta chave da sabedoria suprema do universo, o que você aprendeu com suas relações anteriores, e a resposta para as questões fundamentais da vida, do universo e de tudo mais (referência externa) é simples – aprendi com meus relacionamentos anteriores que não existe perfeição. Nada é perfeito. Nem os flocos de neve. Não existe par perfeito, ou encontro perfeito, aliás, se existisse, seria um saco. A perfeição é chata e sem graça. Faz um tempo já que aprendi isso, faz um tempo já que eu venho valorizando mais os tiques comportamentais das pessoas com quem me envolvo do que qualquer outra coisa. O que faz dos meus amigos, das pessoas com quem eu me importo e dos meus amores pessoas especiais são seus defeitos. Enquanto alguém perfeito é chato, uma pessoa balanceada entre características boas, intrigantes, interessantes e pequenos defeitos que marcam uma personalidade é charmosa, é sexy.

A questão então, eu entendi depois de uma pausa breve, não é tanto uma pessoa perfeita, ou um encontro perfeito, ou uma situação perfeita. E sim tudo isso dentro de um contexto. Enquanto perfeição pura e simples não existe, é perfeitamente possível que dentro de um contexto algo se encaixe, algo faça aquilo parecer completo mesmo possuindo uma série de vícios tanto quanto virtudes. Algo como uma pessoa perfeita pra você hoje, um encontro perfeito naquele dia, uma situação perfeita para aquele momento da sua vida. Depois de um tempo, pode ser que aquilo tudo mude. Aqui entra mais ou menos o que eu disse no post anterior – a natureza volátil, e a suscetibilidade às influências externas fazem com que estejamos sempre em mudança, e essas mudanças afetam nossos conceitos sobre tudo, principalmente sobre o gosto, o que é diretamente relacionado a nossa imagem de perfeição. Eu provavelmente possuía outro estereótipo de perfeição antes de conhecer a Scarlett Johanson, eu sempre fui um sucker por ruivas, e não loiras, por exemplo.

Na real, eu sei que ficou confuso pacas. Eu escrevo sempre pensando em deixar de uma forma didática o suficiente para quem ler entender, mas hoje, eu não me preocupei com isso. Escrevi da forma com que as coisas me vieram. Essa coisa toda de amor, perfeição e sexo já são por elas mesmas complexas de mais, anyway. Boto boa parte da culpa disso na televisão e na literatura. Não fosse uma mistificação exacerbada de certos aspectos, como o romantismo ou o ato sexual, não existiria um movimento tão forte contra, o que leva a uma vulgarização, criando uma dicotomia social composta por extremos contrastantes que jogam você no meio, te mexem como uma capirinha e te deixam sem saber se é melhor sair pelo canudo ou dar com a testa no fundo do copo.

Ta, ta, agora eu quis falar bonito mesmo não fazendo sentido nenhum. Além do mais, esse já é outro assunto.

Essa coisa de perfeição é furada, mas bem que é gostoso se sentir perfeito para alguém.

--------------------------

Pós-escritos:

O filme que eu vi chama “Trojan War” e a referência externa é para “Guia dos Mochileiros da Galáxia.

Tecnicamente, sou um jovem liberto até dia 21. Minha família inteira viajou. No entanto, eu não tenho a mínima idéia do que fazer com meu tempo livre. Minha mãe até me deu dinheiro pra eu ir viajar, ao que eu recusei a idéia, mas obviamente mantive o dinheiro. Me sinto tão escroto em não ter interesse pelas coisas como eu gostaria de ter.

Aliás, tava conversando com o Rafa (Rofellos) hoje e falei sobre o comentário dele aqui no post sobre tédio. Eu sinto uma inveja tremenda de quem consegue encontrar valor nas pequenas coisas da vida, não pequenas, mas nas coisas mais simples. Me refiro não só a assistir a chuva cair, como ele falou, mas a todas as outras, tipo caminhar no parque, ficar deitado assistindo TV com a família, essas coisas. Eu simplesmente não consigo agregar valor a essas situações, eu tento, juro.

Antigamente, quando eu era mais borderline e escrevia com muito mais freqüência (escrever – ouvindo musica - é uma das únicas coisas que me faz sentir entretido por um período de tempo considerável) algumas pessoas costumavam comentar que eu era uma alma atormentada. Começo a considerar a possibilidade, se é que eu acredito em alma, ou em tormento. A natureza exageradamente inquisitiva pode ser considerada um tormento, não?

domingo, janeiro 07, 2007

O bacana de prometer é não cumprir.

Eu não acredito em promessas.

Poisé, ainda pegando o ritmo pós festividades de fim de ano, volto com uma série de assuntos a serem discutidos, mas, sem estímulo para desenvolver nenhum. Escrevo então sobre o mais fácil, promessas. Nada mais clichê do que falar disso após o ano novo, aproveitando o embalo. Meus incontáveis cinco fãs disseram que eu devia escrever sobre preguiça. Diz por ai que o Thom York só gravou o vocal de Fake Plastic Trees depois de quase três meses do resto da banda ter feito o instrumental, ele estava esperando o clima certo. Depois de gravar, ele chorou. Eu quero algo mais ou menos assim para poder escrever minha obra prima. Até lá, fiquem no aguardo. Eu prometo que um dia vai.

Aliás...

A maioria das pessoas que freqüentam esse blog tem consciência de que aquele que vos escreve é um dos maiores apoiadores da hipocrisia e do hedonismo. Como na vida de todo cretino hipócrita e cínico o prometer é assunto recorrente – promessas e sarcasmo (considerada por alguns a forma mais baixa de se demonstrar inteligência) poderiam dar, e já deram, origem a inúmeros best-sellers.

Com a experiência enorme dos meus vinte e um anos posso dizer que toda promessa é seguida invariavelmente pela uma descrição de um evento que possivelmente não irá acontecer. Não do jeito que a pessoa diz que vai, pelo menos. Talvez aconteça em períodos diferentes do considerado, talvez aconteça pela metade, mas jamais será aquilo que você espera (um dos motivos da esperança ser a merda que é, vale a pena ler A felicidade, desesperadamente do André-Comte Sponville pra entender o que eu digo).

Isso acontece porque o ser humano é volátil e amplamente suscetível à ação de agentes externos. Estamos sempre em mudanças, e fatores novos (ou até mesmo antigos) influem nas nossas decisões o tempo inteiro, portanto, quando fazemos uma promessa, podemos até ter a intenção inicial de cumprir mas acabamos por optar não fazê-lo. Depois de algum tempo, nossas prioridades são modificadas por uma série de forças que passam a diminuir a importância de manter a promessa frente às outras coisas que parecem mais vantajosas ou importantes na seqüência da nossa existência (acredito que fazemos julgo de valores todo o tempo, e se o valor da promessa for mais baixo que o de quebrá-la, é somente normal que o façamos).

Isso vale tanto para promessas de enorme tamanho e importância quanto para aquelas comunzinhas do nosso dia a dia. Alguns exemplos clichê pra ilustrar: quando um candidato a cargo político diz eu prometo fazer xyz, ele pode até querer cumprir aquela promessa no momento (o que eu duvido, mas whatever) em que a fez, no entanto, depois que ele assume o poder, uma série de fatores externos começam a pressioná-lo e fazê-lo rever suas intenções – a idéia de aprovar a lei que diminui o salário dos deputados para 300 reais por mês com direito a vale refeição e transporte e morrer torturado como mártir da revolução acaba perdendo pro mensalão de 300 mil com direito a cadeira cativa nas festinhas privê do governador. O mesmo vale para o casamento, é muito fácil jurar estar do lado da sua para-sempre-amada na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza quando ela é uma loira gostosa e siliconada no auge da atividade sexual, o problema é fazer o mesmo quando ela estiver obesa, cinquentona e gastando todo o dinheiro da sua conta no bingo.

Esses são só dois exemplos enormes. Existem aquelas promessas pequenas que fazemos costumeiramente, e que parecem aumentar conforme nos aproximamos de datas fronteira, como virada do ano e aniversário. Por exemplo, prometer parar de beber – até a próxima festa lotada de gostosas em que você precisar de um pouco de álcool pra dar coragem. Ou parar de comer chocolate – até terminar com o namorado e a irmã oferecer uma barra de diamante negro. Ou qualquer uma daquelas promessas banais que você faz aos seus amigos todos os dias, do tipo prometo que vou contigo ver tua mãe com lepra no hospital nesse fim de semana, e se lembra, em cima da hora, que a sua avó morreu na noite anterior e você precisa dar força para a família, isso só para deixar caricata a argumentação, visto que vocês podem pensar sozinhos nas diversas promessas que fizeram, e ainda fazem, e não cumpriram ou vão cumprir.

Eu, como um cara estranho, uso as promessas dos meus amigos para observar o valor que a amizade possui para eles. Examino vários aspectos, como por exemplo, a durabilidade. Uma amiga disse que ia ir todos os dias da semana comigo na Mostra Internacional de Cinema, ela manteve a promessa três dias, no quarto ligou pra dar satisfação, no quinto também, no sexto desencanou, no sétimo nem lembrava mais. O valor da minha amizade foi suficiente para manter ela consciente da promessa que fez durante cinco dias. Fiquei muito feliz, isso é quase um recorde. É costumeiro que as promessas tenham a validade de sua duração entre dois ou três dias. Outro aspecto é a assertividade, até quanto uma pessoa está disposta a confrontar a moralidade alheia para manter uma promessa. Ou a interação(x)interesse, qual o vínculo que se criou entre o prometido e o promessor (essa palavra não existe). Por exemplo, se eu prometo ir assistir Xuxa Gêmeas com meu irmão mais novo e fico xingando o filme de cara brava o tempo inteiro e depois reclamando como um velho rabugento (o que eu provavelmente faria), o meu nível de interação com a promessa é negativo mas meu interesse também, logo deve ter em consideração o valor do sacrifício que foi para mim arcar com o prometido mas ainda assim isso não me dá o direito de ficar perturbando ele para sempre (o que eu faria novamente), pra alguns é melhor que o outro não cumpra uma promessa à suportar o mal humor do outro depois de cumpri-la.

O post está ficando longo de mais, enfim... já deu pra passar a idéia principal. A única coisa que vale alguma coisa nesse texto é o quarto/quinto parágrafo mesmo, então se quiserem só lê-lo e comentar, sintam-se a vontade.

Eu não acredito em promessas - e prometo que volto a atualizar o blog de dois em dois dias. Pode cobrar!