quinta-feira, abril 12, 2007

Porque eu odeio a Pizza Hut

Estava eu no trabalho quando me convidam pra almoçar na Pizza Hut. Eu sempre, SEMPRE, nego todo e qualquer convite para comer na Pizza Hut não importa de quem venha, mas sabe deus porque hoje decidi aceitar – meio cansado de comer aquela porcariazinha de todo dia aqui do lado.

Beleza... saio daqui da Brigadeiro, pegamos a República do Líbano pra depois cortar por dentro de cair na Bandeirantes onde fica, numa das localizações mais escrotas de Sampa, a Pizza Hut mais próxima. Nessa brincadeira, 40 minutos de trânsito.

Ao chegar lá, você já é assaltado na porta. Estacionamento só com Vallet, 4 reais a hora. Você deixa seu carro com o rapazote e entra no restaurante. Na porta, um banner enorme, um stand da carteira de estudante e dois ou três proletários te abordando incessantemente perguntando se você não quer fazer uma carteirinha de estudante da jovem pan ou raio que o parta. Você se desvencilha depois de uma batalha árdua, uma mocinha te leva pro andar de cima e te pergunta “mesa pra quantos?”, você “três!”.

Ela te enfia num canto e pergunta “nessa mesa?” enquanto aponta para uma mesinha pra quatro pessoas junto da janela com a luminosidade do dia te ofuscando e o calor fritando seu cérebro, “ou nessa mesa?”, outra mesa similar, do outro lado do corredor só que na parede – o detalhe fica por conta do urso de pelúcia enorme e grotesco com o qual você deverá dividir o assento e por ventura comprá-lo se for do seu interesse.

Na sua frente, pelo menos mais doze ursos de tamanhos variados aglomerados nas mesas de canto. Sem problemas, você senta, ela te trás seu cardápio, dois, afinal, três pessoas não precisam de três cardápios, uma delas vai ler alto pra todo mundo do restaurante ouvir. Agora, o cardápio é uma peça a parte. Ele pode ser qualquer coisa menos um cardápio. Parece a revista MTV cheia de marca-páginas. Propagandas de tudo o que você pode imaginar, inclusive da carteirinha de estudante, e promoções variadas. O preço das coisas que é bom, nada. Eu lá, tentando em vão entender como funciona aquele cardápio horrível, procuro na orelha a aba “Pizzas”, e penso “Ah, agora vai”. Abro lá, mais penduricalhos, “uma página dupla inteira (ooh) só para os sabores variados de pizza”, penso eu... que nada, de um lado uma imagem gigante de várias pizzas com massas distintas que você pode escolher, e do outro lado a dúzia de sabores que você pode pedir com o adendo de terem somente nos tamanhos grande ou super grande.

Porra... não quer uma grande, não tem pizza individual nessa merda? Fui perguntar pra atendente, e ela “Tem, desses sabores” e disse quatro saborezinhos rápido que eu só consegui escutar o último, “pepperoni”, e foi aquele mesmo. Sem preço, lógico. Daí pedi uma coca. Não tem coca, só tem pepsi. Tudo bem, manda uma pepsi só com gelo. Quando você pede só com gelo, sub-entendesse que o cara vai trazer um copo com gelo e uma lata de pepsi, mas não... o cara me traz um copo com gelo cheio de pepsi e eu não tenho nem o direito de saber quanto colocaram no meu copo, nem de ver minha latinha ou sequer de saber quanto gelo jogaram ali antes de misturar com o meu refrigerante!

Beleza... Enquanto você espera vinte minutos pelo seu pedido começa a procurar coisas pra fazer, eu faço isso pelo menos. Fiquei olhando a mesa, e percebi que que todas elas tinham um suporte no canto carregado de flyers e panfletos das diversas e interessantíssimas promoções da pizza hut que não couberam só no cardápio. Se você ficar super impressionado pode até tirar um flyer dali e levar pra casa. Me senti agredido.

Fiquei pior quando um rapazote voltou a me abordar, dessa vez eu sentado na mesa. Me deu um flyerzinho pequeno e disse “Você gosta de Café?”, não deu tempo de responder, “Com esse flyer ai você compra um café e ganha outro, é um brinde, blablablablabla”. E eu fazendo “Aham”. Quando eu achei que ele tinha terminado e ia voltar a minha atenção de novo pro cardápio do inferno, ele me veio com outro, e voltou a falar “Esse aqui é assim, é como um cartão pré-pago, sabe? Tipo de celular, só que o crédito que você bota, você ganha em dobro pra consumir. Por exemplo, ta comendo aqui, pede o xyz de mnpq que vai dar mais ou menos 72 reais. Você tem um cartão pré-pago da pizza hut com 40. Com os 10% os 72 vao ficar uns 79 reais mais ou menos, daí é só você dar seu cartão pra pagar e pronto, os 40 valem 80 reais!”.

Não sei que tipo de filha da puta gasta 80 reais numa pizza horrível, de merda, assada no forno com a massa ruim e catchup ao invés de molho de tomate, ainda sendo atacado por todos os lados possíveis por merchandising e promoções horríveis. Mas tudo bem, nessa altura do campeonato eu só queria comer. Meu pedido chegou uns 10 minutos depois que o rapaz me deixou em paz, uma pizzazinha medíocre que não ocupava nem a parte de dentro inteira do prato que eles me deram pra comer. 10 pila. Puta que pariu! E ainda erraram a salada de uma das pessoas que estavam me acompanhando.

Fala sério...

Depois você decide cursar uma faculdade de Publicidade e na sua primeira aula de Marketing te dizem: “Sabe qual o case mais patético da história da publicidade brasileira? A Pizza Hut. A franquia já faliu mais de 14 vezes no Brasil”, e você se pergunta “Uai, porquê?”.

quarta-feira, abril 11, 2007

Sorvete de Creme ou de Baunilha?

Acho que esse post vai ser curtinho porque to no trampo...

Na verdade, só queria dizer que eu não faço a mínima noção da diferença entre sorvete de creme e de baunilha.

Tipo... eu tava comendo o melhor sorvete do planeta, também conhecido como Magnum Amêndoas, e fui ver do que ele era feito. Daí tava lá, “sorvete de baunilha” e pedaços de “avelã e amendoim”. E eu tava crente que era de creme!

Perguntei pro Japa aqui, e ele me disse que sorvete de creme é mais amarelado e doce e o de baunilha é o branco. Mas quando você compra sorvete de Flocos não é de “creme com pedaços de chocolate”?

Acabei de perceber a influência enorme que a baunilha ou o creme possui na minha vida. Eu só tomo sorvete de flocos, creme e crocante... E o melhor picolé do mundo é de baunilha! E agora? Isso sem falar os pedaços de “avelã e amendoim”. Qual a diferença entre avelã e amendoim? Tipo, se você me der uma avelã e um amendoim eu vou saber diferenciar, mas quando ele ta picadinho e no sorvete, como você sabe qual que é qual?

Eu vou na Offner praticamente todo mês e tenho que perguntar sempre pra moça do sorvete qual que é a cobertura de amendoim e qual que é a de avelã, porque parece sempre igual! E esses dias eu reparei que a cobertura de amendoim não era tão gostosa quanto eu lembrava ser, nas épocas de criança, e de repente... BUM! E se a cobertura que eu curto mesmo é a de avelã e nunca soube?

Me mandaram umas receitas aqui, daí no sorvete de creme tem ½ frasco de essência de baunilha, e no de baunilha tem ½ litro de creme de leite. Não parece que tem algo muito errado com tudo isso?

Só pode ser uma conspiração. Alguém tem a resposta? :/

terça-feira, abril 03, 2007

O Tempo.

Tempo.

Havia um cigarro, e haveria também quem o tragasse. O cigarro, fumo e nicotina embrulhados num papel longo e branco, com o fundo amarronzado e seu limite demarcado por um pequeno traço – até onde poderia se por a boca, recebia a marca do batom róseo da mulher de lábios finos e delineadores mal utilizados. Ela parecia sugar com alguma pressão a fumaça para dentro dos pulmões já provavelmente enegrecidos pelos males do vício antigo.

Na mesa, a sua frente, repousava uma revista sobre design. Ela tentava folhear com a ponta de um dos dedos livres enquanto o café sobre a outra página, dentro de uma pequena xícara formava uma pequena bolha de calor. No seu pulso, o relógio caro de vidros safira e pulseira de couro marcava, com suas duas setinhas e algo que se assemelhava a um bastão o tempo do dia. Quatorze horas, trinta e três minutos e oito segundos.

Ao seu lado, o vento parecia curvar-se para bagunçar os cabelos relativamente longos e louros de uma criança de pé junto a máquina de refrigerantes. O menino parecia observar com atenção cada uma das opções, todas ao mesmo tempo, como um plano geral de um filme pouco trabalhado, e buscar em sua mente por uma escolha. Sabe-se disso pela direção dos olhos, o franzimento da testa, a indecisão do pezinho que em breve, provavelmente, se chocaria contra os ladrilhos do chão pedregoso. Era gesto comum em quem não sabe direito o que quer do seu segundo, porém, justo quando visto em uma criança que ainda teve poucos segundos para entender.

Pouco adiante, a mão tocava com as mãos calejadas do trabalho matinal a cadeira alva do hall, em uma mesa ao canto, quase como se sentisse protegida junto à parede. Os dedos claramente forçavam o material sintético do qual o assento era construído, a pele se contorcia, formando pequenas ondas disformes, dada à pressão. A bolsa lhe pendia por um dos ombros, em descendência direta, rumo ao chão. Sabe-se que dentro da bolsa dela, como de qualquer outra mulher, provavelmente existiriam dezenas de pequenas coisinhas de significância razoável que talvez se espalhariam pelo chão tomando os segundos de outras pessoas que, simpáticas a figura solitária materna, decidissem auxilia-las a recolher do chão seus infortúnios.

Do lado de fora, o céu escurecido anunciava a chegada de água. Uma parte mais iluminada entre duas nuvens negras traçava a forma de uma raio e quase chocava-se contra uma outra parte indistinta do horizonte. Não fazia som, no entanto. Ainda. Se pudéssemos ver com mais clareza, ficaríamos espantados com o número de gotículas de água que desprendiam-se ao mesmo tempo do composto gasoso e tombavam verticalmente.

Os ponteiros do relógio então pareceram enervar-se. Rompiam a funcionalidade do tempo eterno e rebelaram-se contra as diretrizes da racionalidade. De forma súbita, a chuva de cem chuvas iguais aquela passou como um raio, sem raios mais veloz que aquele. A mulher virou uma mulher cem anos mais mulher que aquela e seu café voltou a ser grão, de perfume cem vezes mais enebriante que o grão original, a mãe virou filha cem anos mais experiente que aquela, e a criança tornou-se adulta cem vezes mais adulta que as outras. O cigarro se desfez em cinzas, que o vento cem vezes mais forte que todos os outros tratou de carregar em seus braços para cem distâncias mais distantes do que as que ele estava acostumado.

O final é sem fumaça. E na bolsa guardam-se sonhos.

Tempo.