segunda-feira, agosto 20, 2007

A Subversão do Paradigma Socio-Referencial

Eu prometi a mim mesmo que não voltaria a escrever esse tipo de texto. É chato e a maioria das pessoas não gosta de ler, mas depois de ler o texto de uma amiga (clicar em Flines ali embaixo), me senti ligeiramente mal por ter abandonado um tipo de manifestação que sempre aprovei, uma crítica social que embora intelectualizada – e acredite, existe um combate ao que é intelectual na maioria dos grupos sociais hoje em dia – e sem o linguajar poético e gostoso de se ler, como o texto supracitado, precisa ser feita.

Embora a grande maioria das pessoas não tenha uma consciência comum de sua situação, é fato que toda sociedade vive contida dentro de um conjunto de regras que ditam seu comportamento e sua realidade. Um conjunto de normas, tradições e referências que foram inclusas no seu subconsciente pela sua interação social e educação. Existe uma “consciência coletiva” que cuida que todos os membros de um mesmo povo ou tribo, desde os primórdios, comportem-se de maneira semelhante, respeitem-se e consigam sobreviver em conjunto. Essa consciência engloba uma série de coisas, seja a Ética, seja a Moral, ou mesmo a Cultura, e uma especificação desse consciente é o que os filósofos chamam de Paradigma – um padrão de modelos a serem seguidos.

Infelizmente vivemos um momento em nossa história em que existe uma triste subversão do que eu vou chamar de “paradigma socio-referencial”, embora não seja esse o nome correto, pensei em chamar simplesmente de paradigma “social”, porém, social abrange muito mais coisas do que eu estou disposto a falar nesse pequeno texto. Fato é, perdemos nossos modelos de referência. Fica claro, hoje, que existe uma confusão mundial que nos rouba uma série de coisas, sejam elas uma identidade social, ou uma identidade pessoal, seja um paradigma de valores sóbrios ou então, os modelos de referência. Era claro que um dos sacrifícios da globalização para os países menos desenvolvidos seria um sacrifício parcial da sua “consciência coletiva” para as influências de outras “culturas” mais poderosas – tudo isso para se formar uma “aldeia global”. Não acho de todo ruim, não sou regionalista ou bairrista (ou sou, mas escondo bem).

Porém, a mistura de valores acentuada por uma degradação moral, e não me refiro à degradação com julgo de valores – mesmo porque, participo e até apoio boa parte dela -, mas é fato que existe uma diminuição de boa parte das “morais” que antes eram fortes, ainda mais num país colonialista e paternalista como o Brasil, fazendo com que a formação dos ícones referenciais modernos seja um retrato dessa nova situação, que ao serem expostos à sociedade tornam-se exemplos não tão sadios de comportamento.

Indo além, subverte-se o que antes parecia correto em prol de uma abordagem moderna só pelo prazer de se ser moderno, e não pelo que aquilo trás de realmente benéfico. E então, posturas que um dia foram corretas tornam-se feias, erradas e passíveis de julgo ou desprezo. Ai, em exemplos mais claros, dizer “eu te amo” é brega ou banal, dar “bom dia” é agressivo e estranho, acreditar que é seguro sair na rua é tolo, falar de política é chato, ser intelectual é patético, acreditar que as pessoas podem ser boas é ingênuo, falar a verdade é raro, ser sincero é proibido e ser honesto é crime. Não usar drogas é careta, reclamar quando alguém fuma em local proibido é ser pentelho, mandar flores é cafona, e posso continuar pra sempre.

E ao criticar esse novo sistema, embora outros poucos assertivos batam palma e uma minoria intelectualizada concorde, você é rechassado pela grande maioria da sociedade, que tem como referência o ator americano que pega a mulher pelo cabelo, o político brasileiro corrupto, o músico britânico viciado em heroína, o jogador de futebol polígamo, e uma dúzia de outros referenciais que vão contra uma série de antigos paradigmas e estão acabando por criar outros em que aquele que faz a coisa do jeito “correto” é passível de punição. E então, entra em vigor um outro movimento social chamado “A Espiral do Silêncio”, em que, pouco a pouco, aqueles que ainda fazem as coisas de um jeito diferente acabam se calando, para poupar o ostracismo social.

Enfim... apenas uma discussão que considero válida.

quinta-feira, agosto 16, 2007

A medida de um ano.

“But somehow I got caught up between
Between my pride and my promise
Between my lies and how the truth gets in the way”

- Linkin’ Park, In Between.


Qual é a medida de um ano?

A resposta mais óbvia para essa pergunta é “365 dias”. Esquece-se então, que não são realmente 365 dias, mas 365,2 dias... “vígula dois”. Menos preciso do que se espera... Alguém mais cético pode ir além, são 52 semanas “vírgula um”, ou 8.765 “vírgula oito” horas, e também 525.948, 7 minutos e, finalmente um número preciso, 31.556.926 segundos.

Mas eu duvido que quando se passou um ano da sua vida você realmente olha para trás e diz “Hm, lá se foram 12 meses de existência”, ou qualquer medida temporal que seja. Existem várias medidas de um ano, e nenhuma delas tem a ver com o tempo que se leva para percorrê-lo, mesmo porque, o tempo por si próprio é algo subjetivo – algumas pessoas começam a contar seus anos bem antes ou depois do dia primeiro de janeiro, seja por conta de uma religião, uma data pessoa significativa ou marcante, e por ai vai. Isso quando algumas pessoas não sentem que o tempo demora mais ou menos para passar.

Você pode medir seu ano pela sua renda, como os americanos, povo estranho, costuma fazer. Se você ganha 40 mil por ano, ou 50 mil por ano, ou consegue cobrir ou não a hipoteca da sua casa com o seu salário semanal. Os pessimistas contam seus anos pelo número problemas do seu ano, três ofertas de emprego perdidas, um corte de cabelo mal feito e duas ex-namoradas grávidas. Os otimistas contam do jeito contrário, uma quina na loteria, cinco visitas inesperadas de amigos desaparecidos e um beijo roubado.

Algumas pessoas contam seu ano pelo número de mortes de amigos e parentes, outras, pelo número de nascimentos. Os românticos podem contar o seu número de corações partidos e poemas rasgados, os garanhões, o número de corações que partiram e telefones que conseguiram. Se você é azarado, pode contar o número de acidentes, se você tem problemas mentais, pode contar pelo número de vezes que adoeceu. A temporada da sua série favorita, ou quantas séries conseguiu acompanhar, quantos filmes assistiu ou quantas peças de teatro visitou. Até ópera, pra alguns, vale de referência.

Rockeiros e moderninhos podem contar pelo número de shows que foram, os “fãs” de música eletrônica, pelo número de raves, e os góticos, pelas noitadas no cemitério, vai saber. Se você é um bandido, talvez conte pelo número de roubos que você conseguiu executar, ou então, pelo número de vezes que foi preso.

A medida de um ano é diferente para cada pessoa, eu, por exemplo, gosto da medida do Rei – “se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”. É uma medida bacana.

Qual a sua medida de um ano? A minha é segredo. ;P
----
Sutilmente inspirado pelo filme-musical Rent.