segunda-feira, julho 30, 2007

Ingmar Bergman e seus morangos silvestres

“Bergman é talvez o único gênio do cinema vivo hoje.” – Woody Allen, o meu gênio do cinema predileto.

“Eu acredito que Bergman, Di Sicca e Fellini são os únicos três cineastas no mundo que não são só oportunistas artísticos. Com isso, eu quero dizer que eles não apenas sentam e esperam uma boa história surgir e então a filmam. Eles possuem um ponto de vista que é expresso várias e várias vezes em seus filmes, e eles próprios escrevem ou tem um material original escrito para eles.” – Stanley Kubrick, o gênio “modesto” do cinema.

“Cinema não é um trabalho de equipe. O diretor está só diante de uma página em branco. Para Bergman, estar só é se fazer perguntas; filmar é encontrar as respostas.” – Jean Luc Godard, o gênio do cinema que Bergman considerava vazio e tedioso.

Acho válida a menção e um luto comedido em respeito à morte do diretor de cinema Ingmar Bergman. Não tenho a pretensão de fazer um post competente a respeito do homem por simples e mera incapacidade intelectual. Mas como cinéfilo, me reservo ao direito de fazer uma dissertação breve sobre a forma como enxergo a sua obra e um pouco de sua vida.

Ingmar Bergman é talvez um dos últimos filósofos do cinema a falecerem. Seus filmes sempre lidaram com as questões mais profundas dos seres humanos – questionando com uma abordagem muitas vezes sofrida e melancólica as grandes questões universais, tristeza essa que acabou se mesclando com a percepção do público sobre a Suécia, seu país de origem e local da maioria de suas filmagens. Bergman, dizia de forma irônica e evasiva, que buscava contar em seus filmes a verdade sobre a condição humana, a verdade como ele via.

Bergman lidava bem com seus atores – eram amigos, produziam juntos todo tempo, e o diretor permitia que se improvisassem quando necessário. Diz-se que no fim de sua carreira ele parou de escrever diálogos – apenas o conceito da discussão era suficiente, e então deixava que os atores desenvolvessem. Foi um dos últimos cineastas autorais de verdade, cinema autoral, esse, que vem definhando cada vez mais nos últimos anos. Amigo íntimo de Fellini, admirador de Kurosawa e Truffaut, crítico de Orson Welles, Godard e Buñuel, até o fim de seus dias, Ingmar Bergman foi ligado ao cinema e ao teatro, elogiando o trabalho de diretores como Spielberg, Scorsese e Soderbergh.

No fim de sua carreira, chegou a dizer que gostava de dois ou três filmes que fez, mas que não conseguia assistir aos outros por considerá-los depressivos. Foi talvez o primeiro cineasta a relacionar diretamente música e cinema. Para ele, música era a sua maior inspiração, e ele acreditava que o cinema era a forma de arte mais similar à mesma – ambas lidavam com a emoção e ritmo, e não com o intelecto.

Constam em seu currículo filmes como Fanny e Alexandre, O Sétimo Selo, Morangos Silvestres, O Silêncio e O Ovo da Serpente, três ou mais “Oscar” de filmes estrangeiros, uma dezena de outros filmes e prêmios, cinco esposas, nove filhos e uma legião de fãs.

Minha frase favorita, atribuída a Bergman, é:

“Eu jogo uma lança no escuro. Isso é intuição. Então eu devo mandar um exército para dentro da escuridão buscá-la. Isso é intelecto.”

Fica a modesta menção.

quinta-feira, julho 26, 2007

Toujours, tout doux, tout doucement.

Eu não tenho pressa. Quem tem pressa é o tempo, e quem pode dizer abertamente que simpatiza com ele? Eu não. Eu tenho meu próprio ritmo, de música lenta e dançante, daquelas que a maioria dos garotos e garotas hoje em dia jamais dançou, coladinho com a menina que gostava no colégio, tímido e ansioso, sem saber direito o que fazer com as mãos e qual a distância segura dos corpos. Nada parecido com a batida agressiva, que embala os sonhos desses “jovens nervosos” e agitados.

Minha balada pessoal é observativa, inspira-se nos detalhes e pode às vezes se perder nessas pequenas coisas e esquecer um pouco dos pés. Diz-se por ai que os pés são essenciais. Não entendo muito bem de pés. Às vezes, parecem levitar lentamente ou, pesados, grudarem no chão de forma abrupta. O importante é lembrar que não se pode pisar nos pés de quem dança com você, mas quando acidentalmente o faz, pedir desculpas e continuar a dançar. A música é lenta, mas não para.

Eu me divirto alimentando a antecipação com uma ansiosidade de roer o estômago e arrepiar todo o corpo com fluxos crescentes de adrenalina. Quem tem pressa não aprecia a espera e perde boa parte do gosto da realização. Pode parecer estranho, vindo do garoto que fala, ri e briga de mais, mas isso não tem nada a ver com pressa. Apenas com aproveitar o momento – degustá-lo e extrair o máximo que puder, estende-lo ao limite.

“Sempre, tudo lento, tudo lentamente”, como na música em francês da moça talentosa de nome bonito.

Não me arrependo de passear calmamente, carregando o peso das minhas preocupações, mas lidando com uma por vez. E nem me arrependo do tempo que perdi com coisas que podem parecer menos importantes do que realmente são, mas que são minhas. Minhas memórias, minha experiência, e todos os momentos que ri, e fiz rir, chorei e fiz chorar.

Também não me arrependo pelo tempo que não gastei fazendo as coisas que outros fariam ou gostariam que eu fizesse. E não irei me arrepender dos momentos que ainda estão por vir.

A vida não é curta de mais, ela é “todo o tempo que precisamos”. Nada de mais, nada de menos. Não tenho pressa para chegar aonde eu quero.

--

Overfluxo inspirado por:
“Tout Doucement”, de Leslie Feist.

sábado, julho 21, 2007

Um pouco de auto-conhecimento.

Eu sou da filosofia de que pra conseguir entender e compreender as outras pessoas, se tornar um comunicador, uma pessoa social, sociólogo ou um empático qualquer, é necessário primeiro que você conheça de forma razoável a sua própria pessoa – o que pode ser uma tarefa extremamente interessante e exaustiva, visto que a grande maioria das pessoas possui barreiras tão altas que nem mesmo eles conseguem perpassar.

É óbvio que é fundamental a influência social e espiritual dentro dessa questão. Saber e ter convicção naquilo que você acredita – na sua fé, sua religião ou seu culto que seja, ou a inexistência dele – é crucial para poder compreender um pouco de você mesmo. Assim como a cultura de onde você vem também é fator importantíssimo, se você é americano ou chinês, de qual região do país você vem, qual a sua origem social, sua formação pessoal, as éticas e as morais da sua civilização, e tudo aquilo que Durkheim chamaria de “consciente coletivo”.

Porém, eu deixo tudo isso para as pessoas chatas discutirem e estudarem. Eu gosto mesmo é das questões pessoais. Das peculiaridades.

Quer dizer... eu parto do princípio que todo mundo é um pouco surtado. O que é a mais pura verdade do universo, e talvez a única. Não existem pessoas sem manias, peculiaridades, pequenos defeitos ou coisas que fazem com freqüência e que praticamente definem, ou se não, enriquecem, a sua personalidade. Tendo isso em mente, para que você possa se conhecer bem, é necessário que você saiba qual as suas peculiaridades, quais as suas “questões pessoais”.

Eu sou cheio de manias, por exemplo. Costumo brincar com os outros que tenho alguns comportamentos obsessivos compulsivos, o que não deixa de ter alguma verdade. Coleciono coisas desde pivete... no começo colecionava selos, induzido pelo meu avô, e moedas antigas. Ainda devo ter isso em algum lugar. Quer me fazer feliz? Me dê um álbum de figurinhas com vários pacotes e isso me diverte pra sempre. Mais tarde colecionei maços de cigarro e latinhas de cerveja, mas quando mudei tive de dar um sumiço, foi pro lixo. Hoje em dia coleciono CDs e DVDs. Mais caro, porém, mais sadio.

Uma outra mania é lavar a mão sempre depois de comer, raramente antes. Meio nojento, eu sei. Eu também fico desenhando na porta do box quando tomo banho, e meus banhos são sempre fervendo. E eu desenho sempre o mesmo símbolo que não sei de onde vem. Eu rôo unha, estalo os dedos, preciso ir no banheiro quase sempre depois de comer. Yuck. HAEUAE.

Eu costumo pegar a forma de falar das pessoas muito rápido e involuntariamente acabo incorporando algumas das palavras ou sotaques no meu. Eu observo muito, mas falo muito também. Principalmente quando eu estou nervoso ou querendo ser bacana. Quando eu estou mais tranqüilo ou meio pra baixo costumo ficar quieto, e fazer comentários ácidos e irônicos.

Torço pro Palmeiras e nunca gostei de futebol, até um ano atrás. Jogo videogame, meu computador só serve pra jogos e textos, sou um “game maníaco” nerd. Fato. Mordo o dedo quando to entediado, e as vezes os lábios em algumas situações. Coço a nuca quando estou envergonhado, clichê, eu sei. Quando eu chego em casa a primeira coisa que eu tiro é o relógio, eu odeio relógios e tenho preguiça de olhar os analógicos, mas só me dão analógicos, então eu fico com preguiça de olhar todos os meus relógios.

Às vezes eu prefiro muito mais fazer alguma coisa em casa do que sair. E quando saio, prefiro bem mais um barzinho mais suave do que uma balada. Se o barzinho tiver sinuca, melhor ainda. Eu curto competir. Eu sou incapaz de ir sozinho no cinema. Eu costumo xingar as pessoas que eu gosto, é uma forma de demonstrar carinho sem passar vergonha. O problema é quando elas não sabem disso. Eu odeio passar vergonha, do tipo, odeio muito. Não me faça passar vergonha.

Enfim, deu pra entender mais ou menos que tipo de peculiaridades eu me refiro, não? Então, quais são as suas?

terça-feira, julho 17, 2007

A Frieza das Telecomunicações

Seria engraçado se não fosse trágico. Tomo por base os quatro maiores canais de televisão do Brasil: Globo, SBT, Record e Bandeirantes.

Existe um fato – uma notícia séria. Um avião da TAM, com 176 passageiros, provavelmente todos mortos, “deslizou” e atravessou uma das artérias do trânsito paulista, a Av. Washington Luís, poucos quilômetros da minha casa, e se chocou com um prédio da própria companhia do outro lado da avenida. Explosões, fogo, corpos, enfim, prato cheio para o telejornalismo.

Então eu coloco na Rede Globo, e puxa... novela das 8h. Claro que a morte de mais de 170 pessoas não é suficiente para ocupar o horário da novela das oito. Não merece uma transmissão ao vivo, uma apuração jornalística. A novela das 8 é muito mais importante.

Então, vou pro SBT. Jornalzinho do SBT, aquele mesmo blá-blá-blá, políticos, roubalheira, e uma notinha sobre um incêndio no outro Aeroporto mais importante do Brasil, o Santos Dummond do Rio. Hora ou outra, eles mostram uma imagenzinha do acidente aqui em Congonhas, fazem um comentário totalmente patético e voltam para a programação normal.

A Record manteve por umas duas horas uma transmissão “ao vivo” do acontecido, enquanto o fogo queimava e não tinha nada para noticiar. Mas decidiram que a novela deles é mais importante que a notícia do acidente, do que as informações aos interessados e parentes.

A Bandeirantes, que foi o canal que manteve por mais tempo a transmissão, nos obriga a suportar o Datena. Tudo bem, ao menos eles conseguiram infiltrar a Heleonora Pasqual dentre os bombeiros e fizeram uma boa cobertura. Suportar o Datena eu consigo, não consigo é aceitar que interrompam no meio a transmissão pra passar o jogo de vôlei de praia do Brasil contra um timeco qualquer das américas centrais. Que afinal, é muito mais importante que 180 mortos no que pode ser o maior acidente aéreo do Brasil.

Mas lógico, ultimamente nós escutamos tanto esse termo “maior acidente aéreo do Brasil”, que ficou vulgar. Ninguém mais liga.

Será?

Bom... pelo menos a RedeTV tá passando ao vivo.

E parece história de cinema, mas a amiga da minha mãe e madrinha do meu irmão deveria estar nesse vôo. Mas se atrasou e perdeu a viagem. Eu não acredito em deus, mas ela tem que agradecer todo dia por ter praticamente nascido de novo.

segunda-feira, julho 16, 2007

Novo Layout

Olha só... eu achei esse layout realmente bonito, não sei por que. Porém, também achei ele bem de menina. Bem... er... viadinho.

Dai eu mandei pro Aruan, pedindo uma opinião e aproveitando que ele reviveu - ele disse que era bem dahora e me xingou, dai eu achei que podia até ficar bacana (gente sem personalidade é foda, preciso de um empurrãozinho, sempre). Coloquei. Se eu achar gayzinho de mais com o tempo, eu tiro fora e boto um de mulher pelada pra compensar. Bwahaeuhuae...

Só pra constar, com a volta do Aruan, o Soh na Cretinage também retorna. Link ao lado. Estamos procurando um terceiro cretino para auxiliar na atualização, distribuimos alguns (um) convite, e estamos esperando a resposta do dito cujo. Mais informações aonde deve, no próprio blog.

sábado, julho 07, 2007

Sobre a Pirataria Virtual.

Eu não sou um cara que pratica ou apóia pirataria de qualquer tipo de produto. Quer dizer, eu até baixo músicas da internet, mas somente CDs que não chegam ou chegarão no Brasil ou músicas livres de copyright por sites devidamente credenciados, porém, eu não costumo criticar esse tipo de postura.

Eu compreendo que exista uma diferença enorme entre a pirataria no Brasil e a pirataria nos Estados Unidos. Indo por partes, vou falar da pirataria de filmes, pra começar. Um ingresso de cinema no Brasil custa 12 reais em um país que metade da população ganha menos de 400 por mês, logo, não é segredo nenhum que o posicionamento dos cinemas no Brasil é para um público A ou B, e não para a massa. O aluguel de um DVD, por uma diária, custa em torno de 10 reais. O posicionamento das locadoras também não é para a massa. O que sobra, então pros que curtem cinema e não tem dinheiro? Globo, Record ou comprar o dvd pirata por 4 reais no camelô.

Indo além, muitos filmes (quando não são mega-boga sucessos) demoram de 2 a 4 meses para serem lançados nos cinemas aqui e alguns sequer o são. Pior, alguns não saem nem em DVD, ou a maioria das locadoras não possuem no seu acervo (salvo pela já famosa 2001), o que novamente incentiva a pirataria no Brasil. Séries são outro problema enorme, algumas demoram anos pra passar aqui e só passam em canais pagos. Na parte de música a coisa também é mais ou menos parecida, os CDs demoram para chegar aqui e quando chegam tem preços abusivos, o que faz com que a pirataria aumente e respectivamente, aumentem o preço dos CDs, sacaneando as poucas pessoas que ainda compram música. Porém, música não é algo tão caro de se produzir quanto audiovisual, então eu vou deixar um pouco de lado essa questão.

O que me inspirou a escrever sobre esse tópico foi uma notícia que li, dizendo que o rapaz que pirateou os quatro primeiros episódios de 24 horas e lançou num site da web uma semana antes da estréia do programa se declarou culpado e pode pegar até 3 anos de prisão. Eu li a notícia e pensei “nossa, que idiota!”. Em seguida, pensei bem, e falei “ah, mas bem feito!”.

Cara... Tudo bem, aqui no Brasil nós temos uma divergência de classe sociais que faz com que a “cultura” seja basicamente distribuída para as classes A e B, e a massa não tenha acesso, obrigando de certa forma a pirataria a existir. Agora qual a justificativa de um escroto desses? Quer dizer... o cara mora nos Estados Unidos, a série vai estrear em uma semana e ele vai poder assistir quando quiser, assim como os caras que baixaram os arquivos da internet, e mais, sem pagar nada por isso. PRA QUÊ o cara precisa piratear? Ansiosidade? Ou pra falar que ele é fodão?

Não sou o defensor dos estúdios de televisão, mas na gringa é diferente daqui. A maioria das séries são produzidas por produtoras independentes, que investem uma fortuna para fazer séries bacanas e tentar vender para os canais de televisão, que por sua vez, só compram essas séries porque vão obter retorno através de publicidade. Daí vem um escroto desses, e lança, uma semana antes da série estrear, os quatro primeiros capítulos na net e a produtora, o estúdio ou a TV tem um prejuízo bizarro. E a mesma coisa vive acontecendo com cinema por lá. E também com música.

Tudo bem, foi algo “pequeno”. Afinal, o número de pessoas que baixam as séries, filmes é menor do que os que assistem na TV ou no cinema, porque lá eles tem grana pra ir no cinema e é algo que todo mundo pode e gosta de fazer. Mas essa é uma cultura que vem crescendo cada vez mais, e se atitudes não forem tomadas, de duas uma: ou as séries/filmes agora vão ser totalmente dominadas por merchandising de todos os produtos do planeta para suprir a falta de publicidade, ou os prejuízos de exibição, ou então vão diminuir a produção e a qualidade para baratear ou eliminar os custos.

Isso, fora a frustração dos criadores e dos caras que desenvolvem os projetos, já que suas expectativas são furadas por um babaca que libera seu trabalho antes do prazo correto.

Agora, um tempo atrás tentaram aprovar no congresso brasileiro uma lei que beneficiaria o audiovisual brasileiro, obrigando que por volta de 30% da programação de todos os canais fosse de produção nacional e independente, o que movimentaria de forma absurda o mercado de produtoras além de beneficiar roteiristas desconhecidos mas com boas idéias. Essa lei foi vetada pela Rede Globo. Quer dizer, um cara, um dos “diretores” da Globo esteve passeando por dentro do nosso parlamento e influenciando os votos dos responsáveis. O resultado, lógico, é que a lei foi colocada de lado.

Imagina então se ela entra em vigor aqui no Brasil, e começamos a produzir séries bacanas de verdade (sem ser essas porcarias de época), investir dinheiro nesse tipo de coisa, e então começam a piratear esse material? É batata que cessa o investimento. Se as gravadoras que não investem em um CD nem metade do que uma produtora investe pra fazer um filme/série estão todas quebradas e tomando prejú, imagina o que não ia acontecer do outro lado?

quinta-feira, julho 05, 2007

A mulher perfeita, por Woody Allen

Alguns dos personagens de cinema mais interessantes que eu já vi foram criados ou desenvolvidos pelo diretor Woody Allen. Mais recentemente, os personagens principais de Match Point, Chris Wilton e Nola Rice são especialmente interessantes. Chris, interpretado por Jonathan Rhys Myers, parece passear pelos cenários e pela história lentamente, com a cabeça baixa e em silêncio, como se pouca coisa fosse realmente importante. Claro, isso faz parte da filosofia do personagem sobre a “sorte”. Já Nola Rice, interpretada pela espetacular Scarlet Johanson, faz o tipo de mulher que qualquer homem se apaixonaria perdidamente – e ela sabe disso.

Pergunte a qualquer membro do sexo masculino sobre quais os tipos de mulheres que os deixam bobos e a grande maioria, se não a totalidade, vão citar o tipo de mulher representado pela Scarlet nesse filme. Uma mulher decidida, de atitude, mas que ao mesmo tempo possui uma fragilidade latente – algo que, falando de forma mais “animal”, faz soar nos homens o instinto natural de proteção. É o tipo de garota inteligente e interessante, mas ao mesmo tempo feminina e frágil, que dá vontade de levar para casa sem parecer algo entediante. Isso, descartando totalmente o fato dela ser espetacularmente bela, algo que no próprio filme o Woody Allen tira sarro em um diálogo em que a personagem fala sobre sua irmã, dizendo que enquanto ela é simplesmente sexy, a irmã possui uma beleza clássica. O que é, obviamente, uma referência a própria Scarlet, que possui uma estilo de beleza “clássica hollywoodiana”.

O motivo que me fez escrever esse post foi um dos diálogos do filme. Eu estava zapeando pela TV e passei pelo Cinemax, onde o filme estava mais ou menos na sua metade. Decidi assistir um trecho e pude ver novamente esse diálogo, que sempre me soa extremamente interessante. Estão os dois personagens bebendo em um bar, depois do teste de atriz de Nola (em que ela vai mal), e falam sobre a situação deles com as suas respectivas famílias e “in-laws”.

Nola diz que o Cris vai se dar muito bem na vida, a não ser que ele estrague tudo, ao que ele indaga: “E como eu estragaria tudo?”. Ela, brincando com uma mecha de cabelo de forma extremamente sexy responde “Tentando alguma coisa comigo.”. Ele pergunta porque ela acha que algo assim aconteceria, e entra em cena um dos traços mais interessantes dos diálogos do Woody Allen, a mulher “poderosa” que ele parece valorizar sempre nos seus filmes, ela responde “Os homens parecem sempre desejar. Eles acham que eu seria de alguma forma especial”, ele responde perguntando se ela é, e ela diz “Bom, ninguém nunca pediu o dinheiro de volta”.

Essa cena inteira é muito boa, mas esse diálogo é matador dentro do enredo do filme.

As questões narrativas de lado, esse diálogo exemplifica o que eu disse antes. A personagem Nola Rice é um estereótipo da mulher que deixaria qualquer homem de quatro, não por ser a Scarlet Johanson, mas por conta da sua personalidade – a somatória de peculiaridades boas e ruins que formam a sua psique, traços esses que são os que, de alguma forma, mais mexem com o outro sexo. Por ser uma personagem do Woody Allen, ela SABE que é tudo aquilo (normalmente esse tipo de garota não tem tanta idéia assim), e tira um barato da cara de todos os homens que estão assistindo o filme – todos! E não só do Chris.

Bacaníssimo.

quarta-feira, julho 04, 2007

Eu vou reclamar de novo...

Eu tenho uma pergunta.

De todas as vezes que você planeja alguma coisa, quantas vezes ela sai do jeito que você queria? Quer dizer... as vezes você tem um plano, tipo o Cebolinha, saca? Você passa alguns dias pensando em como fazer acontecer do jeito certo, então você traça mentalmente algumas possibilidades e alguns problemas e as formas de resolvê-los, dai toma coragem e bota as engrenagens pra funcionar. Quantas vezes as coisas realmente funcionam do jeito que você esperava?

Não sei se é só comigo, mas sempre que planejo fazer alguma coisa é inevitável que ela dê errado. Verdade seja dita, eu tenho vinte e um anos e não há nada de diferente na minha vida a pelo menos uns três ou quatro - sequer consegui terminar de tirar a carta de motorista (desisti no meio), o que por si só já revela a ponta da pateticidade da situação. Na verdade, é batata, é só eu planejar alguma coisa que, não importa o motivo, sempre acontece algo para me frustrar.

Da forma que eu vejo só existem dois tipos de pessoas. Aquelas que planejam as coisas, e as que reagem de acordo com o que acontece. Não entro nem na questão de ativo/passivo, não é nesse ponto que eu quero chegar, porque quem reage as situações não é uma pessoa passiva, passivo é o que se deixa levar por elas sem tomar atitude alguma. Normalmente, quando eu desencano e deixo as coisas acontecerem, e então só reajo, eu costumo ficar mais satisfeito. É como se você não esperasse por nada, então tudo é bacana e surpreendente. As atitudes que eu tomo na hora que surgem as situações normalmente tem resultados melhores do que as planejadas. As vezes (frequentemente) eu embaralho tudo e faço merda, mas tudo bem, isso dá pra arrumar.

Acho que a minha maior dificuldade é que não sou uma pessoa do tipo “ativa” no sentido de responder prontamente a um estímulo. Eu faço mais o perfil da pessoa que gosta de pensar um pouquinho sobre o assunto, o que normalmente funcionaria bem para alguém que planeja, mas não para alguém que reage. Além disso, eu tenho alguns problemas dignos desse tipo de perfil, como por exemplo a preguiça (que não consigo controlar), ou o medo (que aprendi a lidar), entre outros, que fazem com que algo que deveria ser teoricamente simples se torne muito mais complicado. Quando você é do tipo planejador, você pode ser medroso e preguiçoso porque as coisas levam algum tempo para acontecer, mas se você levar a diante, elas dão certo. Comigo não. Por outro lado, se você é do tipo que reage, normalmente não tem tempo para confrontar essas questões ou a oportunidade passa (ou você faz merda).

Frustrante, né? Eu sei. Faz parte. Toda vez que acontece algo que me frustra eu prometo pra mim mesmo que vou parar de planejar, que vou deixar as coisas acontecerem e reagir as situações (alguma coisa de destino, que eu não acredito), mas é muito difícil conseguir, porque vai muito contra o que eu sou. Então cada esforço é exaustivo. Acho que o que salva, é o fato de embora caiba perfeitamente no perfil de quem planeja, eu sou extremamente ansioso. Coisa de gordo. E essa ansiosidade acaba manifestando uma impulsividade, que facilita reagir às situações. Porém, por não ser um impulsivo por natureza, e não saber controlar isso do jeito certo, acabo atraindo traços como o afobamento e a imprudência – e ai cometendo erros que me frustram igualmente.

No final, eu fico frustrado dos dois jeitos. Frustrado e entediado. Vai entender.