domingo, junho 08, 2008

Eu não sei brindar.



São poucos os momentos mais constrangedores para mim do que o brinde. Quer dizer, eu não sei brindar. Eu até vou bem quando outra pessoa faz o brinde e você só repete as palavras e todos chocam seus copos uns contra os outros ao mesmo tempo no centro da mesa. O problema é quando a mesa é longa e do nada as pessoas sentem a necessidade de brindar com todos os copos da mesa.

Vira aquela zona!

Não sei se só levanto o copo em cumprimento e faço um maneio com a cabeça, ou sei passo por cima de dois braços cruzados, um copo à meia altura e por trás de uma cabeça para conseguir chegar ao copo do companheiro sentado na ponta. O pior é que são poucas as pessoas mais desastradas do que eu, o risco de derrubar alguma porção do líquido na roupa de um dos objetos no caminho é enorme.

Não fosse isso suficiente, acho que meus conhecidos tem um prazer enorme em me ouvir falar, porque já é recorrente me mandarem ter a “honra” do brinde. Será que ainda não perceberam que eu não faço a mínima idéia do que dizer? A primeira coisa que eu penso, lógico, é em um brinde pela existência da Scarlett Johanson, mas as mulheres provavelmente não me seguiriam. Depois é me vem uma sequência de discursos de miss: “Paz mundial? No oriente médio, então?”, o pior é quando o negócio é financeiro, tipo “Saúde e Dinheiro”, ou “Pela queda do dólar!”. Normalmente eu poderia dizer “pelos amigos”, ou “pelas gostosas”, dependendo da mesa, mas não é isso que todo mundo diz? Então porque eu?!

O foda é que depois de tudo isso ainda querem que eu lembre que se não beber depois de brindar fico sete anos sem trepar. Mas caralho, depois de minutos de taça erguida, o meu reflexo é sempre colocar ela na mesa e retomar minhas forças – preciso testar esse negócio de exercício físico um dia desses. Daí fodeu, botei na mesa. Já to acumulando uns 1250 anos sem trepar, e pelo menos uns 500 sem meter, já que normalmente a bebida demora pra chegar e eu a peço quando estou – óbviamente – com sede, então bebo-a antes do brinde. Se esse negócio realmente funcionasse eu tinha rodado faz tempo.

É que nem bolo de aniversário, eu também não sei cortar bolo de aniversário. Aquele papo de fazer um circulozinho no meio não funciona pra mim. E não sei como se corta algo com outra coisa que não seja uma faca com dentes, ainda mais de baixo pra cima. Eu acabo destruindo meus bolos de aniversário. Tudo bem, eu nem como bolo, mas não deve ser legal pras outras pessoas. Mas antes de chegar nessa parte de cortar o bolo você tem, claro, que fazer uns pedidos enquanto apaga as velas.

Eu não faço um pedido enquanto apago velas a pelo menos uns 5 anos. Não é que eu não acredite na força do pensamento positivo, é que nunca vi uma droga de um desejo desses realizados e fiquei parte da minha infância me questionando se é porque eram grandes ou pequenos de mais para o momento. Vai saber, de repente desejo de bolo tem uma área de atuação, não é livre. Então na hora de fazer o desejo eu acabo perdendo tanto tempo pra escolher um que seja moderado porém importante o suficiente para ser realizado que a vela acaba se apagando sozinha.

Como eu curto o cheiro da vela apagando várias e várias vezes e gosto de ficar ressuscitando-a, acabo apagando eu mesmo rapidinho sem desejo. Daí vem sempre alguém perguntar “o que você pediu eiiinh? Aposto que foi [ insira aqui as palavras: dinheiro, namorada, saúde, felicidade, e outros mil clichés ]!” ao que eu respondo, roboticamente “haha, não posso dizer, se não realiza né!?”, e a pessoa “acerteeeei neh! Você ta vermelho”, e eu penso “eu sou gordo, fiquei vermelho por assoprar as velas. Fiquei vermelho por falar, fiquei vermelho por respirar, carajos, eu fico vermelho por existir, faz parte da condição de ser um gordinho branquela”, mas não respondo, dou uma risadinha.

Acho que a única parte bacana desse negócio de bolo é escolher pra quem vai ser o primeiro pedaço. É do caralho, levo essas coisas a sério. Receber o primeiro pedaço de alguém quer dizer que a pessoa pensou primeiro em você, te deu a importância de comer o primeiro pedaço de bolo, então eu escolho bem pra quem dar, acho legal.

Embora o primeiro pedaço, normalmente, seja o mais destruído pela minha falta de coordenação motora.

quinta-feira, junho 05, 2008

A Beleza das Memórias




Me pego vez em quando lembrando algumas coisas que pensei já ter esquecido a muito tempo. Minha memória é frágil, pouco confiável, e por isso esses momentos acabam sendo de uma beleza tão especial quanto fugaz. Não é comum que eu me emocione sem motivo ultimamente, acho que perdi um pouco da suposta sensibilidade que sempre me atribuíram. Mas ainda me emociono com essas inserções espontâneas de lembranças, talvez por ser sempre pego desprevinido.

Algumas vezes, engraçado, é como se eu ficasse à deriva. Boiando de lado enquanto algum cheiro, algum som, alguma cena me faz lembrar algo que eu não lembrava mais. Como um filme de baixo orçamento (perdão pela analogia clichê) em que os atores principais lembram de leve alguém que eu conheço, ou conheci, porque raramente eu mesmo sou o personagem principal das minhas memórias. É estranho lembrar de você fazendo alguma coisa, como se fosse uma câmera filmando de cima o seu “eu-ativo”. Não. Enxergo-me talvez como um narrador, ou um espectador em terceira pessoa, ou somente alguém que estava ali, sabe lá porque, e vivenciou aquelas coisas todas.

O mais impressionante é como algumas cenas são ligadas especificamente a algumas ações ou sensações. Eu lembro sempre da mesma pessoa, de manhã, quando minha mãe sai do banho – alguém que usava o mesmo shampoo, provavelmente, e que o cheiro automaticamente me faz sussurar o nome, como num estalo – puxa, essa pessoa realmente passou pela minha vida. Ou como vira e mexe eu ainda travo para atravessar a rua, inundado de flashes da vez que eu fui atropelado. Coisas que, se eu buscar na minha memória com vontade, talvez lembre, mas que não fazem parte daquele grupo seleto de lembranças citadas diariamente – experiências re-aproveitadas por algum motivo.

Engraçado... Tenho lembranças que não me pertencem, também. Eu vivo algumas cenas, na minha cabeça, que por algum motivo foram isoladas da minha vida, auto-defesa talvez, e que embora eu conste nelas, me parecem pertencer muito mais às outras pessoas que viveram-nas comigo do que a mim mesmo, e talvez por isso me impressionem bastante quando por algum motivo ressurgem, enquanto eu me pergunto “o que diabos você está fazendo aqui?”. Algumas vezes acho que é culpa da minha imaginação fértil – tento buscar em algum ponto adormecido do meu cérebro onde o resto delas pode estar, ou ao que elas estão ligadas, ou até mesmo onde, quando e como eu as vivi, e muitas vezes só consigo chegar a uma série de hipóteses e “serás”.

Acho que o bacana das memórias é como elas são únicas e pessoais. É muito raro que as pessoas todas dêem o mesmo valor para as situações que vivem, eu valorizo algumas coisas, você outras, e assim formamos memórias importantes de diversos momentos que vivemos juntos, cada um com as suas e juntas, completas. Eu me prendo sempre na insignificância dos detalhes, é deles que lembro mais. O que pode parecer cômico para quem me conhece de verdade e sabe que normalmente eu tento observar sempre o todo da cena. É um exercício de atenção e de raciocínio – observar o todo. Mas na hora de me lembrar, lembro de alguns detalhes. Em brigas ou declarações de amor, lembro de algumas palavras, de um gesto importante, de uma ação e ali deposito toda a significância do acontecimento sem muitas vezes fazer idéia de tudo que levou até ali, outras vezes sequer consigo lembrar os motivos. Não me parecem tão importante quanto aquele detalhe – aquele detalhe que pontuou o fato.

Tudo isso porque hoje estou doente. Nada de mais, provavelmente, mas por estar doente estou mais sensível do que o normal e por algum motivo que não sei explicar acabei me emocionando com uma lembrança totalmente fora de mão enquanto assistia o jogo do Fluminense, uma das lembranças repentinas mais bacanas que já tive. Até me motivou a escrever. Que bom! Já ia fazer um mês.


Obrigado pelas memórias.