quinta-feira, maio 28, 2009

Fuck that shit!


Fuck that shit!

- Fonte: http://xkcd.com/

quinta-feira, maio 21, 2009

Road.



Algumas vezes é preciso pegar o caminho mais longo para atravessar uma rua.

Outras vezes, o caminho mais longo te leva justo para onde você começou.

Onde você começou, nem sempre é seu ponto de início.

Algumas vezes, o início é tudo o que você tem.

Outras vezes, o fim chega rápido e com pressa.

Mas nem sempre o fim é onde termina.

Algumas vezes, onde termina não é tão importante assim.

Nem o início.

Nem o caminho longo. Nem o caminho curto.

Nem onde você quer chegar.

O importante não são os passos de quem caminha.

E sim o ato de caminhar.

sexta-feira, maio 15, 2009

Primeira Impressão

Alguns anos atrás, em 2003, eu me comprometi intelectualmente com um projeto. Eu estava, óbviamente, de coração partido, e achei que a melhor solução pra curar meus problemas seria escrever um romace. O romance chamava "Ela", e é óbvio que, como todos os meus projetos, eu nunca o terminei. Então hoje, depois de tentar escrever algo pro blog e não consguir, decidi tentar revisitar essa idéia... e reescrever a primeira parte do primeiro capítulo, que é como os dois personagens se conhecem. E confesso, ficou bem melhor do que eu imaginava e bem melhor do que o original. Fazia tempo que eu não gostava de algo que eu escrevia.

Leiam, se quiserem.

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Primero Capítulo
(trecho)
"Ela"

Colocou a chave na fechadura e girou, empurrando com alguma dificuldade a porta pesada de madeira. A casa escura e silenciosa era justamente como ele se lembrava antes de sua viajem. Seus pais, ausentes, provavelmente estavam viajando por algum lugar do sul da áfrica e seu irmão mais novo, mais bonito e mais sociável que Thomaz, provavelmente estava com uma de seus diversas namoradas temporárias.

Respirou aliviado e ao mesmo tempo desapontado. Não é como se estivesse esperando uma recepção calorosa, não gostava de surpresas, mas começava a achar que seria interessante se tivesse tido QUALQUER tipo de recepção. Ele olhou pela sala escura por alguns breves segundos e jurou enxergar uma bolinha de luz em algum lugar entre a mesa de jantar e a sala de visitas. Acendeu a luz.

- Surpresaaaaaaaaaa!

Thomaz ficou sem reação. Piscou os olhos algumas vezes, não sabia se pelo incômodo da luz acesa, pelo grito avassalador de surpresa das 30 ou 40 pessoas reunidas ali, ou se por causa da surpresa em si. Coçou a nuca, corando automaticamente. A barba por fazer não conseguia esconder o rubor da pele branca e pálida – não fazia sol na França, ao menos não nessa época do ano.

Ele acabara de retornar de Paris. Havia feito um curso de 2 anos na Sorbonne em Filosofia. Ficara deslumbrado com a cidade, mas ao mesmo tempo, sentia-se solitário. O romantismo das ruas e bistrôs contrastava com a falta de romantismo de sua própria vida. Estava sempre pronto para um relacionamento, Deus sabe que ele havia tentado algumas vezes, talvez não tantas quanto seu irmão mais novo, mas sempre sem sucesso – faltava alguma coisa em todas elas e ele não sabia exatamente o que. Descobriu, com o curso, que o problema talvez fosse ele mesmo.
- Nossa... haha... gente... muito obrigado! Quer dizer... incrível. Não esperava por essa, não mesmo, vocês sabem que eu não sou muito fã de surpresas assim...


Todos riram e aos poucos Thomaz cumprimentou um a um. Sempre as mesmas perguntas, “como foi lá?”, “muita mulher?”, “tomou muito vinho?”, “estava frio?”, “aprendeu a xavecar em francês?”

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Depois de cumprimentar todos seus amigos e a seu irmão Nicholas, o organizador dessa pequena baderna, encontrou-se em paz somente ao recostar sobre o balcão da área externa, observando o movimento da rua abaixo e do céu acima. Estava uma noite bonita – quente. Muito quente se comparada às noites frias de Paris. Ele saíra dos 5 graus negativos para os 30 positivos de São Paulo. Alguns convidados, precavidos, haviam inclusive trazido trajes de banho para usufruir da piscina do apartamento duplex. Nicholas realmente havia pensado em tudo.

Acendeu um cigarro com o zippo estampado por um vetor da bandeira da frança estilizada e percorreu o ambiente com o olhar. Os olhos cinzentos tropeçaram na visão de uma mulher que ele desconhecia. Ela sorria amplamente, as covinhas laterais demarcadas com suavidade na pele branca e sardenta. Ele podia ir além – sorria também com os olhos, expressivos, grandes e azuis. Os cabelos longos e levemente cacheados ficavam entre o loiro e o castanho e lhe caiam sobre a face. Ficou desnorteado. A mulher, ou garota, já que não devia ter mais de 23 anos, conversava descontraidamente com Nicholas. “Mais uma de suas ficantes, provavelmente... bah...”, pensou.
Voltou-se novamente para o lado de fora do balcão, apoiando os cotovelos no metal gelado e observando uma estrela particularmente clara em um ponto do céu.


- Bonsoir, mon cher...

A voz era doce e feminina. Atentou-se primeiramente no sotaque francês perfeito, a entonação silábica era do sul, provavelmente da região de Marseille – intensa com as ondas do mar que banha a cidade. Thomaz ergueu os olhos e voltou-se na direção da voz. Surpreendeu-se ao perceber que se tratava da garota que vira conversando com seu irmão. Ela sorria, dessa vez não o sorriso aberto que dava para Nicholas, e sim um sorriso contido, restrito, com o canto dos lábios. Ele perdeu alguns segundos observando os lábios dela, finos e bem delineados. Ela mordiscou de leve o inferior ao perceber a surpresa dele e sorriu um pouco mais.

- Desculpe, você deve estar cansado da viajem e todos nós aqui, atrapalhando sua noite de sono.

- Hm? Ah... não... de forma alguma. – foi a vez dele sorrir ao ouvir-la falar português, ficava aliviado – tinha alguns pudores quanto a falar línguas estrangeiras na frente de um grupo grande de pessoas.

- Meu nome é Charlotte. Mas todos me chamam de Lotte. Muito prazer, seu irmão me falou muito sobre você...

- É, eu aposto... – suspirou debochado, e arqueou as sobrancelhas. Podia imaginar toda a sorte de coisas que o irmão poderia ter dito à garota, todas elas passavam por alguma situação em que Thomaz se dava mal, e Nicholas dava risada. Apesar de ser o mais velho, Thomaz sempre foi o tipo mais introspectivo e intelectual – e a grande maioria das suas aventuras sociais acabavam com alguma situação cômica, ao contrário de Nicholas, que até onde se sabia era perfeito. – Onde se conheceram? – ele perguntou casualmente.

- Na universidade, nós fazemos o mesmo curso.

- E onde você conseguiu esse acento perfeito? – ele a olhou nos olhos. Ela sorriu novamente, levando a mão aos cabelos e deslizando os dedos lentamente por uma mecha solta da franja.

- Bom, eu nasci em Montpellier, mas vivo no Brasil desde os 4 anos. Recentemente passei uma temporada na casa da família... acho que o acento vem daí.

Ele pareceu surpreso.

- Seu irmão me contou que você fez Sorbonne... deve ser inteligente, filosofia, não é?

- Sim... mas duvido que meu irmão tenha afirmado que eu sou inteligente. – ele balançou a cabeça negativamente, ela arqueou a sobrancelha, encarando-o.

- Não se preocupe com o que seu irmão possa ter dito, Thomaz... Eu sou do tipo que prefere ter minhas próprias opiniões sobre as coisas, e sobre as pessoas... e eu confio bem mais nas minhas primeiras impressões...

Ela falava pausadamente, o charme da voz doce e melódica, e do resquício do sotaque francês no final das pronúncias era encantador. Thomaz tinha dificuldades em não fechar os olhos para apreciar a voz de Lotte como uma música.

- Primeiras impressões, e quais foram elas?

Pela primeira vez ela riu da mesma forma que rira para Nicholas, riso alto de lábios bem abertos.
Por incrível que parecesse, Thomaz ficou levemente incomodado. Era como se aquele riso, antes, contido em um movimento de canto de lábios fosse secreto e só seu – e esse riso alto e lindo, pertencesse a todos. Sentiu que preferia ter um sorriso dela só para ele.

- Ainda é muito cedo pra dizer, Thom... posso te chamar assim? Eu tenho uma visão diferente sobre primeiras impressões...

- Claro que pode... E que visão é essa? – ele parecia interessado, não era sempre que o primeiro contato dele com uma mulher resultava em uma discussão sobre o conceito filosófico de primeiras impressões.

- A maioria das pessoas tendem a acreditar que aquilo que vêem e percebem, que sentem quando conhecem uma pessoa, um filme, uma música... enfim, tendem a acreditar que isso é uma primeira impressão. Por ser um primeiro contato, é claro que pode ser chamado assim... mas eu discordo...

- E porque?

- Bom... – ela riu de novo. – Tem certeza que quer falar sobre isso?

Ele tragou o cigarro novamente, havia esquecido totalmente dele. Soltou a fumaça com cuidado, para fora da bancada, e voltou a olhá-la.

- Eu sou um estudante de filosofia, não tem muito mais outras coisas que me atraiam mais atenção do que uma mulher encantadora falando sobre o conceito de primeiras impressões...

As palavras saíram tão naturalmente que ele não se deu conta do adjetivo incluído entre elas. Ao perceber o que havia dito – a o tom cafona e piegas que provavelmente atribuíra à palavra “encantadora”, cogitou a possibilidade de jogar-se de cima do prédio e morrer. Mas não o fez – ele percebeu uma leve alteração na respiração da garota, enquanto a maça de seu rosto tomava uma coloração avermelhada.

- Ahm... bem... desculpa.

Ela passou a mão pelos cabelos que lhe caiam por sobre o rosto e colocou-os para trás da orelha.

- Impressão é deixar uma marca, não? Quando imprimimos algo, deixamos uma marca em alguma coisa. Acho que não é muito diferente na nossa relação com o mundo... nossa primeira impressão, antes de um julgamento sobre o que sentimos ou achamos de algo quando o vemos pela primeira vez, é na verdade, a primeira verdadeira marca que essa “coisa” imprime sobre nós. Uma marca que, essa sim, não importa o que aconteça nunca mais vai nos deixar. Quando se diz que a primeira impressão é a que fica é verdade... mas não é essa impressão superficial que acreditamos ser... é mais do que isso, é quando aquela “coisa” te toca pela primeira vez, e te marca, como uma tatuagem – e aí você tem certeza que ela vai participar da sua vida para sempre.