quarta-feira, dezembro 31, 2008

Amor e Paixão

Com um movimento suave do pulso, ele puxou a cadeira metálica e olhou na direcão da mulher que o acompanhava. Ao sorrir educadamente, pediu para que ela se sentasse, sabia que precisavam conversar. Ela nao sabia direito o que dizer. Ele tocou de leve no ombro dela. "É só uma conversa", ela disse. O olhar dela o atravessava, fixado em um ponto nulo além da janela do restaurante do aeroporto. Do lado de fora ela podia ver os aviões taxeando pelas pistas e o prado montanhoso ao fundo, coberto por neve.

Ela se sentou. Perguntava-se porque diabos estava ali. Dando volta pela direita, o homem sentou-se a sua frente. Gentilmente, estendeu mão por sobre a mesa e acariciou a dela com a ponta dos dedos. Ela desviou o olhar para a janela a sua direita, observando mais um avião passar. Ele recolheu a mão, timidamente. Sentia-se como um pêndulo que oscilava entre o medo e a culpa.

Sentia como se houvesse perdido algo.

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Quando ela abriu os olhos, a primeira reacão foi mirar o relógio de luzes esverdeadas ao seu lado. Três horas da manhã. Buscou-o deslizando os dedos pelo lencol de seda mas a cama estava vazia. Ergueu a cabeca.

"Jammie? James?"

Sentado semi-nu no batente da janela embacada, ele levou o cigarro até os lábios e tragou, soltando a fumaca para cima, os olhos sobre a mulher deitada. Não cansava nunca de perceber o quanto ela era linda e agradecia aos astros por tê-lo escolhido. Percorreu com os olhos o caminho entre o lencol que cobria as pernas de Elizabeth, pela curva de suas costas nuas reparando - mesmo no escuro - nas pequenas, diversas e encantadoras sardas que lhe cobriam os ombros, até seus cabelos ruivos e ondulados.

"James? O que foi, hm?"

O tom de voz dela era manhoso, enrouquecido levemente pelo sono, e ela sorriu o sorriso perfeito de quem ama.

"Nada. Eu só gosto de te observar, Lizzie."

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Era difícil manter contato visual com Elizabeth, ela parecia desconfortável. Não sorria mais.

"O que foi, pequena?"

Ele tentava quebrar o gelo, passar pelas defesas bem construídas da mulher à sua frente com palavras carinhosas e uma demonstracão genuína de carinho.

"O que foi? Ah..."

Ela sorriu nervosamente e afastou a mão da dele, levando o indicador até os lábios e mordendo de leve a unha. Em seguida jogou a cabeca para trás, aumentando o tom de voz.

"Eu não sou mais a mesma, James. Eu nao posso mais continuar vivendo a mesma história. Você sabe que eu jamais consigo assistir ao mesmo filme duas vezes, e... James, esse filme eu já vi."

"Pequena..."

Ele rezava para que ela o escutasse, ao menos uma vez. Falava baixo, sóbrio, focado. Ele estava certo do que queria, e tinha certeza de que o que queria era o certo.

"Eu não sou inocente, Lizzie... eu sei que errei, e erro... e sei que as vezes as coisas podem parecer fora de rumo, mas cabe a nós mesmos sabermos colocá-las de novo no lugar. São poucas as coisas que eu acredito ter certeza nesse mundo, de algumas delas as vezes até mesmo eu duvido, porém, as únicas que nunca questionei tem a ver com eu e você."

"Eu não posso te jurar que as coisas vão ser fáceis, pequena, porque nada é. Mas eu posso dizer com a certeza de quem não tem mais nada a perder que eu te amo, e vou te amar sempre, não importa nunca o que aconteca. E posso prometer, com a mesma certeza, que eu vou continuar errando também - e as vezes acertando - porque tudo isso faz parte do que vivemos, tudo faz parte de um relacionamento. A única coisa que eu preciso é ter você ao meu lado."

Ela baixou a cabeca por alguns segundos, ocultando-a entre os bracos e ele jurou ouvir um soluco leve e ver uma única lágrima tocar a mesa de vidro. Ela balancou a cabeca negativamente e respirou fundo. Erguendo novamente o rosto, encarou-o.

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Virando-se na cama, ela retribuiu o olhar dele. Com um delicado movimento chamou-o para junto. Os olhos esverdeados cintilavam à meia luz e o atraiam com uma intensidade desigual. Ele levantou e aproximou-se da cama. Ela carinhosamente tomou sua mão e puxou-o para junto, obrigando-o a sentar-se novamente.

Abracou-o pelas costas, envolvendo-o com o braco e colou os lábios em seu ombro, beijando-o suavemente e em seguida, mordendo-o com a mesma sutileza. Ele sorriu.

Ela aproximou os lábios do ouvido dele, os cachos ruivos tocando a pele branca de James involuntariamente. O cheiro doce e delicioso do shampoo de Elizabeth invadindo suas narinas. Ele olhou na direcão da janela - a chuva caia e tocava o vidro produzindo um som tranquilizante. Sentia-se completo.

Elizabeth era como a paixão, seus cabelos cor de fogo e sua tez branca e macia pareciam ser eternos. Seus gestos eram delicados e ao mesmo tempo intensos. Sua entrega era total. Ele lembrava de quando se conheceram e da garota impulsiva e desengoncada que lhe roubara a bebida e lhe tomara a atencão por toda a noite - dancando sozinha na pista de danca entre todos os outros corpos, e ao mesmo tempo, só para ele.

James era como o amor, seus movimentos eram discretos e encantadores. Ele sabia trabalhar as palavras que proferia e compreendia tanto quanto podia das coisas ao seu redor. Demorava para entregar-se, mas seus sentimentos eram inabalaveis.

No dia seguinte, quando ele pegou o avião, sua memória ainda estava saturada com as imagens da noite anterior.

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"Eu tenho que ir, Jammie..."

Ele segurou novamente nas maos dela. Dessa vez com um pouco mais de forca e entre-abriu os lábios para dizer algo, mas não houve som algum. Ele baixou a cabeca e cerrou os olhos.
"Porque você não vem comigo? Podemos pegar um carro, agora, e ir embora... podemos encontrar seja lá o que for que se perdeu."

Ela sorriu timidamente e suspirou. Desvencilhou a mão e acariciou delicadamente o rosto dele. Balancou a cabeca negativamente.

"Jammie... você é meu melhor amigo, você é o homem que eu amo. Eu gostaria de dizer que eu sou o remédio que você precisa para curar todos os seus problemas e que tudo vai ficar bem. Mas eu não sei como salvar a sua vida, a minha funcão não é resolver as suas dúvidas... Eu não sou mais a mesma, e você... você vai ser para sempre você. Eu tenho que ir, Jammie... eu tenho um avião para pegar. Adeus."

E dizendo aquilo ela se levantou e com passos lentos e curtos se afastou da mesa, desaparecendo logo em meio as outras pessoas. Estático, ele manteve-se ali, sentado... deslizou as mãos pelos cabelos e chorou enquanto observava outro avião levantar voô.
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Pós-Escrito:
Galera, feliz ano novo! Hehe.... eh isso!
=P

quarta-feira, dezembro 24, 2008

Um Natal de Opiniões

Eu adoraria ter o poder de regressar mentalmente ao passado da nossa formacao cultural e descobrir exatamente em qual momento da história o fato de se falar aquilo que se pensa sobre algo ou alguém perdeu seu sentido. Gostaria de entender em que momento deu-se a possibilidade de se julgar uma expressão sincera de angústia, de ódio, de felicidade, de amor com relacao a algo ou alguma pessoa como alguém mais do que aquilo que ele simplesmente é.
Eu tenho dois grandes problemas. Que juntos, constroem o grande paradigma da minha personalidade. Duas características que, juntas, se anulam mutuamente, e que me perturbam mais do que qualquer outra coisa.

A primeira delas é simples, eu nao sou capaz de mentir deliberadamente. Nao tenho a pretencao de dizer que todo o tempo eu falo a verdade, mas gosto de acreditar que em bons 90% do tempo tudo o que eu digo é real. Se eu faco um elogio, ele é sincero, se eu faco uma crítica, ela é igualmente sincera. Existe uma diferenca, entretando, entre um elogio e uma crítica de um simples apontamento da verdade. Deveria ser possível discursar-se sobre as diversas características que compoe uma pessoa sem que isso fosse visto como "o enaltecimento de uma qualidade" ou o que seja - é simplesmente uma afirmacao sobre uma característica real. Sem adjetivacoes, sem enaltecimentos. O mesmo vale para manifestacoes puras de tristeza, de mágoa, ou de dor que muitas vezes sao confundidas por "drama". Se uma pessoa diz tudo o que realmente pensa, como eu, quando eu digo que alguém é inteligente, nao estou fazendo um elogio. Quando digo que estou com dores terriveis, nao estou fazendo drama. Mas as pessoas nao conseguem entender isso muito bem...

Meu segundo problema é o fato de eu ser um medroso. Em todos os sentidos, eu tenho medo de experimentar novas comidas, tenho medo de histórias de terror, tenho medo de carros em alta velocidade... do mesmo jeito que tenho medo de dizer aquilo que eu penso quando - calmo e sóbrio - creio que isso vai magoar alguém de verdade, alguém que eu goste, e do mesmo jeito que muitas vezes tenho medo de me abrir com os outros - ou com alguém em especial. Sao passos dificeis, esses, para mim. Nao deveriam ser. Deveriam ser fáceis. Estando aí a comicidade do meu paradigma pessoal.

Deve ser engracado ver alguém que normalmente se expressa tao bem quanto eu, engasgando em palavras e omitindo sentimentos, embaralhando-se e contendo-se para preservar um status quo de relacionamentos, por medo do que uma atitude pode resultar.

Chegou o Natal, e eu gostaria de ser capaz de expressar minhas visoes sobre as pessoas que amo ou deixo de amar da forma como eu realmente penso, sem o medo de soar como critica ou elogio, como drama ou babacao de ovo. Apenas como um reconheciomento puro daquilo que cada um faz por merecer. Mas como eu sou covarde, só posso esperar que aqueles que eu amo se sintam um pouco mais amados nesse dia especial, sabendo disso ou nao. E que aqueles que eu por algum motivo deixei de amar, ou jamais amei, que aproveitem as boas inspiracoes do carinho coletivo que gera o Natal para refletirem sobre tudo aquilo que os cerca.

Feliz Natal e eu espero escrever algo antes do Ano Novo!

terça-feira, dezembro 09, 2008

Have you met Stahn?

There isnt much to say about Stahn. He brakes easily. And he cries.

But then again, there isnt much to say about anything nowadays. He believes so, anyway. Still, he preaches about how the things used to be back on the old days and how he got the way he is now - a smooth-talking enchanting and anxious little man, up his 9 feet tall of pure prickness and uncordination. He couldnt jumpstart a poney if he needed to, and he surely cant hold his breath for too long.

He's a warm fellow, though. Cant say he isnt cool and charming when he needs to, thats probably part of his big scheme to rule the world and turn it into a big round green mint bubblegum. He says he doesnt need much, and thats why he doesnt do much for a living. A bottle of beer and some snacks, a good friend and some laughter, hell, the world surely seems brighter looking from that point of view. He just might be right about it. He clearly thinks he's right about everything else too. And he probably is! Who knows what is on his mind when he smirks like that - that small clinching of his wide smaller lip, pinching it to the side of the mouth barely showing the teeth, ironic as a bad american actor trying to do a shakespearian novel.

As in a mistery novel, he probably might end blowing our minds out with some genious-like insight. Or the opposite way around, as a filthy comedian actor, stroking our hearts with the worse joke ever spoken aloud. But he can be the best company for a stride on the street going out for a bite or for a punch-drunk sleepless night besides a guitar and a not so warm bed.

Well, thats fucking Stahn. He's the answer to a problem never faced, the greatest guy for a sweet embrace, he just might be god - or batman, or the smiley potato face. Hell... he's just another guy like you and me. More like me, though, cause I'd surely would love to be Stahn for a day. That guy knows how to live the life day by day without regreting. Yeah, he might miss the longing for the things to be and he might miss all that was left behind but on and on, as he walks through the day, I dont think he really can understand time, he just let it flows and all that he has ends in today.

quinta-feira, outubro 16, 2008

Prosa Rimada sem Título

Sonho meu, não sabe quem lhe deu todas as flores e cores que o arco íris contém.

Veja bem, tenha em mente que mesmo que tente não dá pra apagar o que a vida escreveu.

É sempre teu, cada carta ou bilhete com destino carente que envio, oh meu bem.

Tudo tem, um jeito esquisito de dizer que o que eu sinto ninguém antes sentiu.

Quem já viu, o olhar demente daquele que mente pra si mesmo também e tão bem.

Vento vem, e sopra minha pele que carrega no peito as marcas que o tempo brandiu.

E em num navio, me leva pra longe de tudo, do mar escuro de lágrimas, desse horizonte de lástimas, das lembranÇas que eu não aceito perder.

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Aceito sugestões de título. =P

terça-feira, setembro 23, 2008

Até que a Espanha não é tão ruim assim.

A primeira coisa a se perceber sobre a Espanha, e sobre o meu texto, é que ele provavelmente irá conter muito mais erros de grafia do que o costume. Isso se dá, principalmente, porque os espanhóis – por razoes que desconheço – não acreditam que nenhuma outra letra que não o Ñ mereça o uso de til. Não consegui entender ainda se é por algum fetiche, mas os teclados daqui nao tem a teclinha maledeta, e eu não faço idéia de como faz-se til usando o function. Aliás, eles também tem algum bloqueio com a cedilha, aqui ela só existe na versão maíuscula, o que é bastante desconfortável na leitura do texto.

A segunda e não menos importante coisa a se perceber sobre a Espanha, é que aqui, a moda do mullet não passou. Marcos Mion faria a festa em uma caminhada por Madrid. Todos os jovens são protótipos aprazíveis de chitaozinhos e chororós mirins, a única diferença é que ao invés de ouvirem sertanejo, escutam um tal de “ragaton” ou algo assim – à conferir.

Por último, talvez por culpa de desvios de criação que ainda não descobri (adendo: por algum motivo meu Word começou a corrigir as cedilhas e tils faltantes tentarei aproveitar ao máximo sua boa vontade e corrigirei acima) todos aqui – sem pular um – falam espanhol. O que é ruim, já que eu não falo, nunca falei, e provavelmente jamais vou conseguir aprender a língua. Mas descobri uma forma de me comunicar, é só pronunciar as palavras com os lábios mais próximos e cerrados o possível e com a voz ríspida, eles parecem se identificar e tentam compreender o que você diz com mais afinco.

Colocando tudo isso de lado, até que não é o pior lugar do mundo para se passar um tempo. As pessoas são bonitas, estilosas, e te dão coisas de graça eventualmente. Os homens não assobiam quando as mulheres atravessam a rua (mesmo porque, 90% são homossexuais), mas as mulheres sim. E nenhum carro tenta passar por cima de você enquanto tenta atravessar a rua – todos param e respeitam o pedestre coitado.

Tudo é muito próximo. Minha cidade tem 30 minutos de raio para qualquer lado, e Madrid fica a 30 minutos de distância. Em Madrid, de metro, você vai a qualquer lugar em 30 minutos. A bebida é barata, assim como a comida, e para minha felicidade existem salsichas (e agregados) de todas as formas imagináveis (falta só uma coxinha e um pastel de queijo pra ficar perfeito). A faculdade é linda e custa 2 mil euros por mês, o que invariavelmente me dá vontade de rir dos espanhóis mal-encarados... mal sabem eles que eu pago nem 400 euros.

O dia foi feito pra pessoas como eu, só amanhece as 8 e fica escuro depois das 10, excelente pra quem curte dormir o dia todo e acordar de noite – e ainda assim conseguir ver a luz do sol. Agora mesmo são 7h47 e ta começando a clarear. E eu to começando a ficar com sono.

Se a Espanha não é tão ruim assim, meu único pesar é saber que aqui me falta a minha melhor parte. Justamente a que mais me faz falta e a que me dá função. Essa parte, claro, é representada em boa parte pelos leitores desse canto – meus amigos e meus amores. E não ter-los perto é que me faz ter um pouquinho mais de saudades de casa.

Anyways, espero poder voltar a atualizar isso aqui em breve, não com relatos de Madrid, porque não é um blog de viajem, mas com os meus textos característicos. Agora com o laptop e entrando finalmente na rotina (uhu, vou pra faculdade ter aula pela primeira vez hoje =P) talvez me surja um pouco mais de inspiração.

Adiós ;P

quinta-feira, agosto 07, 2008

Eu juro!


Eu vou jurar.

Vou jurar que sabia de tudo antes mesmo que tudo existisse. E que senti tudo o que sentia antes mesmo que o sentimento surgisse. E agora, conforme persiste, não direi nunca que com ele não sei lidar.

Irei jurar que as melhores decepções da minha vida, ida, foram também as piores. E que indiferente à tudo o que sente, minha mente não soube separar o que era para entender o que era para esperar.

E conforme juro, juras puras de quem não mente, vejo que tudo na minha frente é comprido e sem final. Não cheguei, afinal, ainda à metade do caminho que gostaria de traçar.

Eu juro que meus passos são curtos e lentos de quem busca apreciar o caminho, caminhando sozinho, olhos desatentos ao todo e buscando contar os detalhes das coisas que não consegue enxergar.

E se for forçado, eu juro que não disse nada do que eu deveria dizer, que não cantei metade do que queria cantar, que não sorri tudo que deveria sorrir e que ao chorar, não chorei as lágrimas que acumulei ao aguardar.

Mas se eu mesmo, que tanto juro as juras de quem não sabe sobre o que jurar, não consigo entender onde quero chegar, tudo o que fiz e o que ainda vou fazer, tudo o que magoei, e errei, e desisti, jamais poderei cobrar que você entenda, perdoe, acerte, persista.

Mas juro que, no final, manterei-me fiel as palavras que disse com o peito, soluçando daquele jeito indecente, que mesmo soando demente, sua alma teme adorar.


E ao amor. E à dor.
Eu juro.

terça-feira, julho 22, 2008

No meu banheiro não entra merda!

Estava discutindo as peripécias literárias de alguns autores com o amigo escritor, cartunista, trapezista, modelo e atriz Leandro Leocadio, quando comentei que o livro dele (de poesias, “Os Desmandamentos”, vide links para mais informações) estava no meu banheiro.

Ele não sabia bem se isso era bom ou ruim. Digo então - é bom! Explico que no meu banheiro estão somente os livros e revistas que eu gosto de ler, já que não tenho tempo para ler nada fora do trono, e que o fato do livro dele estar lá dentro quer dizer que eu realmente li, leio, e eventualmente deixo respingar água da torneira sobre.

Pior seria se estivesse na estante. Livros de estante são exatamente isso – livros de estante, desculpem-me a obviedade. E pra que eles servem? Acumular poeira, cupim, virar coleção ou servir pra exibir sua intelectualidade á um eventual convidado. Também podem funcionar de apoio de mesa/cadeira, Santo Kotler que me perdoe, mas o Administração Em Marketing é um excelente nivelador de mesa de bilhar.

No meu banheiro só quem tem direito a fazer merda sou eu, tomo todo o cuidado do mundo para não sobrecarregá-lo com merdas externas (como bem apontado pelo próprio Leocadio). O último livro ruim que passou por lá causou um cano entupido, que eventualmente se abriu exatamente sobre a capa de material tosco do próprio, inutilizando-o por toda a vida.

O livro do Leocadio não corre esse risco. Correria, talvez se custasse mais do que realmente custa, mas pelo preço módico de uma refeição na Temakeria acaba sendo uma permuta mais do que justa e uma das minhas melhores aquisições nos últimos anos, ao lado do CD especial dos anos 80 do Biquíni Cavadão.

Brincadeiras à parte, acessem ali do lado, vale a pena. Se até eu e o Moacir Scliar gostamos...

sexta-feira, julho 11, 2008

Casamento!


Recentemente meus avós completaram 50 anos de casamento, um número assustador. Como um cara complicado e que eventualmente acaba enjoando das coisas e das pessoas acaba sendo muito difícil conceber a possibilidade de ficar 50 anos ao lado de um mesmo alguém, porém, não parece ser impossível.

O segredo não é tão secreto assim. Reconheci-o largado tranquilamente durante um bate papo sem maiores pretensões, contido em uma frase da minha avó: “Você só tem que se preocupar em casar com alguém que possa se tornar o seu melhor amigo, porque no final é isso que o casamento se torna – uma grande amizade”. Me fez pensar um pouquinho. Não é nada que eu já não saiba, mas de alguma forma fez com que eu lembrasse um pouquinho do antigo Gabriel – um pouco mais romântico, um pouco mais crédulo – e de tudo aquilo que ele acreditava.

Houve uma época em que eu acreditava plenamente que o amor era algo que se construía com o tempo, que crescia conforme os vínculos eram criados – muito além da paixão de um relacionamento curto -, e que por mais que o passar do tempo pudesse apagar a paixão “posto que é chama”, e que pudesse modificar o amor, ele se desenvolveria em algo sublime – um respeito mútuo pelo que o parceiro representa, o conceito puro por detrás da expressão francesa “adore”. Não consigo enxergar um lugar, hoje, que isso se aplique mais do que em uma “grande amizade” – o respeito mútuo, os interesses em comum, os vínculos que se fortalecem, as escolhas e a liberdade de ser autêntico e sincero.

Porém, não consigo ver as mesmas questões dentro dos relacionamentos atuais – vejo pessoas com medo da entrega e de criar vínculos (e perder, com isso, uma liberdade ilusória), muitas vezes incapazes de deixar o ego de lado pelo outro e de mostrar sua verdadeira faceta – com lindos defeitos assim como méritos – por achar que isso é um demérito, ou que pode afastar o outro alguém. Vejo pessoas que não conseguem estabelecer um compromisso, respeitar o próximo, entre tantas outras problemáticas. Talvez por isso é que existam, hoje, muito mais grandes amizades do que grandes amores, e seja também o motivo dessas amizades durem bem mais tempo que nossos romances.

Eu nunca dei apoio à instituição “casamento”. Casaria, é claro, fosse esse o desejo da pessoa que eu escolhi viver junto para o resto da minha vida, mas é somente nisso que eu acredito – que, hora ou outra, vai existir alguém que eu escolherei viver junto para o resto da minha vida. E eu duvido muito que essa pessoa seja alguém que eu encontrei perdido por ai, que tive um bom momento com, sem envolvimento pessoal, pura física, e depois segui meu rumo. É muito mais possível, e provável, que se desenvolva de uma grande amizade – do jeito que eu acreditava antigamente, mais romântico e mais ingênuo que era. Tudo muito naturalmente, é claro – é muito remota a possibilidade de que a manifestação de um sentimento esteja vinculada ao fato de você tentar e se esforçar muito para que ela aconteça (aprendi isso à duras penas, embora hoje conheça outras formas de deixar as coisas acontecerem e facilitar a ida e vinda de sentimentos), é algo instintivo – surge quando você não espera, o que o torna muito mais interessante – desde que você esteja disposto à.

Isso não quer dizer, no entanto, que eu ou qualquer pessoa devamos deixar de aproveitar todo o resto que o amor, a paixão e o sexo podem prover. Sempre fui um homem de vários “amores da minha vida”, que construiu grandes castelos e com o tempo superou suas ruínas. Quer dizer que simplesmente não devemos fechar as portas e desacreditar em belas parcerias, porque na hora certa elas chegarão.

domingo, junho 08, 2008

Eu não sei brindar.



São poucos os momentos mais constrangedores para mim do que o brinde. Quer dizer, eu não sei brindar. Eu até vou bem quando outra pessoa faz o brinde e você só repete as palavras e todos chocam seus copos uns contra os outros ao mesmo tempo no centro da mesa. O problema é quando a mesa é longa e do nada as pessoas sentem a necessidade de brindar com todos os copos da mesa.

Vira aquela zona!

Não sei se só levanto o copo em cumprimento e faço um maneio com a cabeça, ou sei passo por cima de dois braços cruzados, um copo à meia altura e por trás de uma cabeça para conseguir chegar ao copo do companheiro sentado na ponta. O pior é que são poucas as pessoas mais desastradas do que eu, o risco de derrubar alguma porção do líquido na roupa de um dos objetos no caminho é enorme.

Não fosse isso suficiente, acho que meus conhecidos tem um prazer enorme em me ouvir falar, porque já é recorrente me mandarem ter a “honra” do brinde. Será que ainda não perceberam que eu não faço a mínima idéia do que dizer? A primeira coisa que eu penso, lógico, é em um brinde pela existência da Scarlett Johanson, mas as mulheres provavelmente não me seguiriam. Depois é me vem uma sequência de discursos de miss: “Paz mundial? No oriente médio, então?”, o pior é quando o negócio é financeiro, tipo “Saúde e Dinheiro”, ou “Pela queda do dólar!”. Normalmente eu poderia dizer “pelos amigos”, ou “pelas gostosas”, dependendo da mesa, mas não é isso que todo mundo diz? Então porque eu?!

O foda é que depois de tudo isso ainda querem que eu lembre que se não beber depois de brindar fico sete anos sem trepar. Mas caralho, depois de minutos de taça erguida, o meu reflexo é sempre colocar ela na mesa e retomar minhas forças – preciso testar esse negócio de exercício físico um dia desses. Daí fodeu, botei na mesa. Já to acumulando uns 1250 anos sem trepar, e pelo menos uns 500 sem meter, já que normalmente a bebida demora pra chegar e eu a peço quando estou – óbviamente – com sede, então bebo-a antes do brinde. Se esse negócio realmente funcionasse eu tinha rodado faz tempo.

É que nem bolo de aniversário, eu também não sei cortar bolo de aniversário. Aquele papo de fazer um circulozinho no meio não funciona pra mim. E não sei como se corta algo com outra coisa que não seja uma faca com dentes, ainda mais de baixo pra cima. Eu acabo destruindo meus bolos de aniversário. Tudo bem, eu nem como bolo, mas não deve ser legal pras outras pessoas. Mas antes de chegar nessa parte de cortar o bolo você tem, claro, que fazer uns pedidos enquanto apaga as velas.

Eu não faço um pedido enquanto apago velas a pelo menos uns 5 anos. Não é que eu não acredite na força do pensamento positivo, é que nunca vi uma droga de um desejo desses realizados e fiquei parte da minha infância me questionando se é porque eram grandes ou pequenos de mais para o momento. Vai saber, de repente desejo de bolo tem uma área de atuação, não é livre. Então na hora de fazer o desejo eu acabo perdendo tanto tempo pra escolher um que seja moderado porém importante o suficiente para ser realizado que a vela acaba se apagando sozinha.

Como eu curto o cheiro da vela apagando várias e várias vezes e gosto de ficar ressuscitando-a, acabo apagando eu mesmo rapidinho sem desejo. Daí vem sempre alguém perguntar “o que você pediu eiiinh? Aposto que foi [ insira aqui as palavras: dinheiro, namorada, saúde, felicidade, e outros mil clichés ]!” ao que eu respondo, roboticamente “haha, não posso dizer, se não realiza né!?”, e a pessoa “acerteeeei neh! Você ta vermelho”, e eu penso “eu sou gordo, fiquei vermelho por assoprar as velas. Fiquei vermelho por falar, fiquei vermelho por respirar, carajos, eu fico vermelho por existir, faz parte da condição de ser um gordinho branquela”, mas não respondo, dou uma risadinha.

Acho que a única parte bacana desse negócio de bolo é escolher pra quem vai ser o primeiro pedaço. É do caralho, levo essas coisas a sério. Receber o primeiro pedaço de alguém quer dizer que a pessoa pensou primeiro em você, te deu a importância de comer o primeiro pedaço de bolo, então eu escolho bem pra quem dar, acho legal.

Embora o primeiro pedaço, normalmente, seja o mais destruído pela minha falta de coordenação motora.

quinta-feira, junho 05, 2008

A Beleza das Memórias




Me pego vez em quando lembrando algumas coisas que pensei já ter esquecido a muito tempo. Minha memória é frágil, pouco confiável, e por isso esses momentos acabam sendo de uma beleza tão especial quanto fugaz. Não é comum que eu me emocione sem motivo ultimamente, acho que perdi um pouco da suposta sensibilidade que sempre me atribuíram. Mas ainda me emociono com essas inserções espontâneas de lembranças, talvez por ser sempre pego desprevinido.

Algumas vezes, engraçado, é como se eu ficasse à deriva. Boiando de lado enquanto algum cheiro, algum som, alguma cena me faz lembrar algo que eu não lembrava mais. Como um filme de baixo orçamento (perdão pela analogia clichê) em que os atores principais lembram de leve alguém que eu conheço, ou conheci, porque raramente eu mesmo sou o personagem principal das minhas memórias. É estranho lembrar de você fazendo alguma coisa, como se fosse uma câmera filmando de cima o seu “eu-ativo”. Não. Enxergo-me talvez como um narrador, ou um espectador em terceira pessoa, ou somente alguém que estava ali, sabe lá porque, e vivenciou aquelas coisas todas.

O mais impressionante é como algumas cenas são ligadas especificamente a algumas ações ou sensações. Eu lembro sempre da mesma pessoa, de manhã, quando minha mãe sai do banho – alguém que usava o mesmo shampoo, provavelmente, e que o cheiro automaticamente me faz sussurar o nome, como num estalo – puxa, essa pessoa realmente passou pela minha vida. Ou como vira e mexe eu ainda travo para atravessar a rua, inundado de flashes da vez que eu fui atropelado. Coisas que, se eu buscar na minha memória com vontade, talvez lembre, mas que não fazem parte daquele grupo seleto de lembranças citadas diariamente – experiências re-aproveitadas por algum motivo.

Engraçado... Tenho lembranças que não me pertencem, também. Eu vivo algumas cenas, na minha cabeça, que por algum motivo foram isoladas da minha vida, auto-defesa talvez, e que embora eu conste nelas, me parecem pertencer muito mais às outras pessoas que viveram-nas comigo do que a mim mesmo, e talvez por isso me impressionem bastante quando por algum motivo ressurgem, enquanto eu me pergunto “o que diabos você está fazendo aqui?”. Algumas vezes acho que é culpa da minha imaginação fértil – tento buscar em algum ponto adormecido do meu cérebro onde o resto delas pode estar, ou ao que elas estão ligadas, ou até mesmo onde, quando e como eu as vivi, e muitas vezes só consigo chegar a uma série de hipóteses e “serás”.

Acho que o bacana das memórias é como elas são únicas e pessoais. É muito raro que as pessoas todas dêem o mesmo valor para as situações que vivem, eu valorizo algumas coisas, você outras, e assim formamos memórias importantes de diversos momentos que vivemos juntos, cada um com as suas e juntas, completas. Eu me prendo sempre na insignificância dos detalhes, é deles que lembro mais. O que pode parecer cômico para quem me conhece de verdade e sabe que normalmente eu tento observar sempre o todo da cena. É um exercício de atenção e de raciocínio – observar o todo. Mas na hora de me lembrar, lembro de alguns detalhes. Em brigas ou declarações de amor, lembro de algumas palavras, de um gesto importante, de uma ação e ali deposito toda a significância do acontecimento sem muitas vezes fazer idéia de tudo que levou até ali, outras vezes sequer consigo lembrar os motivos. Não me parecem tão importante quanto aquele detalhe – aquele detalhe que pontuou o fato.

Tudo isso porque hoje estou doente. Nada de mais, provavelmente, mas por estar doente estou mais sensível do que o normal e por algum motivo que não sei explicar acabei me emocionando com uma lembrança totalmente fora de mão enquanto assistia o jogo do Fluminense, uma das lembranças repentinas mais bacanas que já tive. Até me motivou a escrever. Que bom! Já ia fazer um mês.


Obrigado pelas memórias.

sexta-feira, maio 09, 2008

Vincent.


O sangue batizou a espada conforme ela rasgava a pele apodrecida das criaturas que se arremessavam na direção dela. No sentido contrário, o homem que a empunhava tomava impulso semelhante, tornando o choque ainda mais violento e os poucos transformava o piso sólido do galpão em uma espécie de pântano avermelhado e escorregadio de sangue.

As roupas negras estavam encharcadas. Não sabia dizer se aquilo era água do próprio corpo ou o sangue dos outros, não importava. Os cabelos negros e longos as vezes cobriam parte da sua visão, mas só tornavam sua figura mais impressionante – o brilho amarelado dos olhos por trás das franjas era assustador. O mais inusitado daquela cena, era, no entanto, o pequeno fio branco que ligava o aparelho de mp3 ao pequeno fone no seu ouvido – estava intacto.

“I’m feeling mean today, not lost, not blown away. Just irritated and quite hated – self controls brake down. (Estou me sentindo malvado hoje, não estou perdido, não estou surpreso. Apenas irritado e carregado de ódio – meu auto-controle se rompeu.)”

Movimentou a espada horizontalmente à frente do corpo e protegeu-se do choque de ombros de um homem duas vezes seu tamanho. Teve tempo de observar o braço do gigante descolando-se do corpo e caindo no chão conforme fez um segundo movimento, enquanto pulava para trás, golpeando uma criaturinha cinzenta que vagamente lembrava um homem que correu em sua direção pela esquerda.

“Why is everything so tame? I like my life insane, I’m fabricating and defeating you. I’m gonna kick around! (Porque é tudo tão sem graça? Eu gosto da minha vida insana, eu estou fabricando e derrotando você. Eu vou quebrar tudo!)”

Rolou pelo chão em uma cambalhota à frente e buscou com os olhos seu alvo do outro lado do galpão. A mulher de cabelos brancos tinha os cenhos franzidos e uma expressão de preocupação. Desviou de uma faca arremessada na sua direção pegando-a pelo cabo em uma velocidade alucinante e arremessando-a de volta contra uma garota jovem, assustada, de não mais de vinte anos que parecia deslocada naquele ambiente – não fosse pela camisa estampada “Eu sou uma Mutação”.

“Right now! Can’t find a way to get across the hate when I see you. Right now! I’m feeling scratch inside, I want to search and feel you. Right now! I rip apart the things inside that live beside you. Right now! I can’t control myself but I fuckin’ hate you. (Agora mesmo! Não consigo contornar o ódio que sinto quando vejo você. Agora mesmo! Eu sinto uma coceira lá dentro, eu quero procurar e sentir você. Agora mesmo! Eu arranco fora as coisas lá dentro que vivem ao seu lado. Agora mesmo! Eu não consigo me controlar mas eu realmente te odeio.)”

- Ah, Vincent... Porque você não esquece tudo isso e vai pra casa? Você é como eu...

Ele ergueu os olhos na direção da mulher e ela estava apenas à alguns metros de distância agora. Por alguns momentos os olhos amarelados pareciam tomados por uma coloração vermelho-sangue. Pulou para desviar do que pareceu uma lâmina passando rente ao seu ombro e ajoelhado, atravessou a lateral do corpo do homem que o atacou, a ponta da espada saindo do outro lado, “como um espeto”, ele pensou.

“You open your mouth again I swear I’m gonna brake it. You open your mouth again, by God I cannot take it. Shut up, shut up, shutup or I’ll fuck you up! (Se você abrir sua boca de novo eu juro que vou quebrá-la. Se você abrir sua boca de novo, meu Deus eu não agüento mais. Cala a boca! Cala a boca! Calaboca ou eu vou te ferrar!)”

Tomando impulso com os joelhos, saltou para frente, segurando o cabo da espada junto ao corpo com a palma de uma das mãos, a ponta da arma apontada para a mulher. Ela parecia assustada demais para mover-se, e ao vê-lo saltando naquela velocidade, não teria tempo nem se quisesse. Sentiu apenas o ferro frio atravessando seu ombro e quando deu por conta, encarava duas pequenas íris ovais, felinas, de um tom amarelo doentio.

A música do mp3 parecia dar o ritmo aos seus movimentos e quando ela terminou, Vincent manteve-se parado, segurando o cabo da espada e fitando os olhos de Faith – a mulher que um dia ele amou. Perdeu-se em pensamentos por alguns segundos fitando-a nos olhos, enxergava tudo de forma mais lúcida agora. Lançou um olhar rápido para trás e viu os corpos que rasgara em poucos minutos ao chão, não conseguiu conter um sorriso sádico com o canto dos lábios finos e rosados.

Até que a música começou de novo.

“Realized I can never win, sometimes I feel like I’ve failed. Inside where do I begin, my mind is laughing at me. Tell me why I’m I to blame – aren’t we supposed to be the same. That’s why, I will never change this thing that’s burning in me. (Percebi que eu não posso nunca vencer, algumas vezes eu sinto que eu falhei. Lá dentro como eu começo, minha mente está rindo de mim. Diga-me porque eu sou o culpado – nós não devíamos ser iguais? É por isso, que eu nunca vou mudar essa coisa que arde dentro de mim.)”

Com um movimento rápido ele removeu a espada que atravessava o ombro da mulher, espirrando sangue e tingindo o cabelo prateado de Faith de vermelho. Ela caiu de joelhos. Ele a levantou pelo pescoço com o braço, erguendo-a o mais alto que conseguia enquanto apertava forte com a ponta dos dedos.

“I am the one who choose my path. I am the one who couldn’t last. I feel alive for the pain. I feel the anger changing me. (Eu sou aquele que escolhe meus caminhos. Eu sou aquele que não poderia restar. Eu me sinto vivo pela dor. Eu sinto a fúria me mudando.)”

Vincent respirou fundo, moveu o pescoço de um lado para o outro, relaxando-o com dois estalos altos para em seguida deixar o corpo ferido de Faith escorregar até o chão indefeso. Ela respirava ofegante, enchendo o pulmão com todo ar que conseguia.

- Da próxima vez, Faith, não vai ser assim. Graças a você estão todos mortos. Você nos traiu. Da próxima vez... eu não vou ter compaixão. Eu não sinto mais nada – por você, por ninguém, eu sou só um corpo vazio e o vazio não tem medo – o vazio não tem nada para sangrar.

Limpou a lâmina da espada na própria roupa e guardo-a na bainha oculta dentro do sobretudo, deu as costas e com passos lentos partiu, desviando dos corpos estirados no chão.

--

Observações:

Vincent é um personagem criado por mim, Faith é um personagem da Mai, o desenho é dela e as cores são do Thelder. Eles são personagens de um cenário de RPG antigo e ele é a minha personagem pessoal favorita, entre todos que eu já fiz. Já tentei 20 mil vezes tentar fazer um HQ dessa galera, mas nunca dá certo, hoje tava afim de escrever algum conto e decidi usá-los. Quem sabe não faço mais depois.
As músicas do conto são do Korn, chamam-se Right Now e Did My Time.

quarta-feira, abril 30, 2008

Incondicional.


Me agrada a idéia de incondicionalidade – em todos os aspectos possíveis.

É engraçado, algumas vezes me pego pensando que quando mais procuro motivos e justificativas para as coisas, mais tenho que justificar, eu mesmo, o motivo para procurá-las com tanto afinco. Como se tudo devesse ter uma específica razão de ser. Não duvido que tenha, mas gostaria de aceitar o fato de que algumas não têm, ou se têm, são simplesmente complicadas ou surreais de mais para serem racionalizadas.

Às vezes, de tanto tentar encontrar a justificativa, as coisas acabam perdendo toda a magia, toda a graça.

Acho que parte de ser uma pessoa criativa ou alguém sensível é não tentar impor condições para que as coisas surjam. Tudo é válido. Não estou dizendo que as coisas nascem do nada, mas nosso próprio corpo e espírito (aos que acreditam nisso) se encarregam de fazer automaticamente boa parte do esforço de busca e acabam, hora ou outra, por gerar um estarrecedor e encantador “insight”.

Em um segundo, você é capaz de perceber coisas, ter idéias e sentir emoções que o condicionamento demoraria eras para alcançar. E isso é tão mais bonito e tão mais honesto.

Normalmente, as pessoas têm medo de reações incondicionais, talvez por não compreenderem sua lógica acreditam que elas sejam inferiores, erradas, vergonhosas ou qualquer coisa do tipo. Elas ficam abismadas com como alguém pode se apaixonar incondicionalmente por outro alguém totalmente diferente - como uma Estrela pode amar um balconista, utilizando o exemplo de Stardust -, ou como ao fechar os olhos e ouvir uma música no seu iPod você pode alcançar uma idéia, sem motivo nenhum, que resolva os problemas do projeto em que você está trabalhando.

Eu sou expert em sentir as coisas e depois ficar procurando motivos mil para justificá-las. Mas no final, tudo o que parece me importar, é a memória do momento em que eu percebi o que sentia, ou que tive a idéia, e o fato de ela não ter condição nenhuma para existir. Eu posso amar, intensamente, e não saber o porque, e isso me agride ao mesmo tempo que agrada – perco, como todos, tempo demais buscando entender o que não precisa ser entendido, e criando motivos, buscando referências, ou whatever e depois me arrependo.

Engraçado, percebi esses dias que a maioria dos meus filmes favoritos falam mais ou menos sobre isso, sobre como as coisas acontecem aparentemente sem motivo e os problemas que as justificativas e condições que ficamos criando e colocando causam, quando tudo era pra ser bem simples.

Constantemente, após o término de um namoro, por exemplo, me pego pensando nos motivos que me fizeram gostar da pessoa – sempre contra-argumentando internamente com seus defeitos e falhas, com todas as diversas razões que eu tinha para nunca me envolver com aquele alguém. Quando a coisa é mais intensa, eu me pego tentando criar uma imagem deturpada da pessoa, uma imagem pior, salientando seus problemas e defeitos, como se isso fosse uma condição para que eu conseguisse superar o que eu sentia.

Essas coisas não dão certo. Não pra mim, ao menos. Percebi que eu só consigo, finalmente, paz, quando aceito que sou uma pessoa que não precisa de grandes motivos e justificativas para agir de uma certa forma, gostar de certas pessoas e ter certas idéias, e que a vida não é como matemática – tudo necessita de uma condição anterior para chegar à um resultado, algumas coisas simplesmente são e é melhor desse jeito. E eu posso viver com isso, se quiser. Não preciso entender a raiz do processo que me levou à idéia, se ela for boa e com certeza não preciso desprezar alguém para não amá-lo mais, eu posso simplesmente aceitar que amo, sem motivos, e que vou amar até que não ame mais.

E se me perguntarem porque, e eu não souber responder, tudo bem. A felicidade pode ser incondicional também.

segunda-feira, abril 14, 2008

Buddha Bar


Aniversario F/Nazca.

quinta-feira, abril 10, 2008

Digo verdades brincando...




“Se você tivesse acreditado na minha brincadeira de dizer verdades, teria ouvido verdades que teimo em dizer brincando. Falei muitas vezes como um palhaço, mas nunca desacreditei da seriedade da platéia que sorria.”


Não existe uma forma mais bacana de se comunicar, ao meu ver, do que através do humor. Existem, é óbvio, vários tipos de humor muito característicos e que dependem totalmente da personalidade da pessoa, mas humor é fundamental. Eu, particularmente, gosto do meu humor – me comunico através dele, sempre. Não é que eu não fale sério nunca, ou que eu evite falar sério, mas acho que existem formas diferentes e menos agressivas de se passar uma mensagem importante além da pausa para uma conversa séria.

Você pode aprender muitas coisas prestando atenção no conteúdo e na forma das brincadeiras que as pessoas fazem umas com as outras. Aquele dito popular de que toda brincadeira tem um fundo de verdade é extremamente real. Toda brincadeira tem um fundo de verdade – e muito mais que isso.

Eu falo verdades brincando. A frase não é minha, e sim de alguém muito, muito superior – Charlie Chaplin.

Meus amigos sabem o quanto eu evito ao máximo contar mentiras, não gosto de inventar histórias para justificar coisa ou outra, eu acho que devo responder pelas minhas ações – e somente elas, e não vejo motivos para deixar de colocar minhas opiniões quando enxergo necessidade, mas dizer a verdade, muitas vezes, não é algo visto com muito bons olhos, ou entendido da forma como deveria ser.

As pessoas não aceitam muito bem críticas ou comentários verdadeiros sobre assuntos polêmicos ou questões que de alguma forma as atingem. Além disso, em alguns momentos, você se vê em uma situação que precisa contar algo que não gostaria ou que até gostaria, mas não sabe direito como. Para essas situações, eu utilizo o humor. É o melhor quebra-gelo que conheço, e faz com que suas colocações sejam menos intrusivas (ou mais, se for esse o objetivo), e mais bem aceitas.

Uma crítica bem humorada surte muito mais efeito do que uma crítica séria. O humor, por ser subjetivo, também costuma deixar um tom de dúvida pairando que as vezes é eficiente para situações que você quer que a coisa seja entendida de forma dúbia, ou fazer um misteriosinho, ou deixar a pessoa pensando no que você disse – querendo saber se é verdade.

O humor pode ser uma ferramenta bem mais agressiva também, um comentário carregado por um humor irônico ou satírico normalmente causa uma estranheza ou um incômodo. É uma excelente forma de provocação, e acredito que é mais ou menos nessa linha que o Chaplin vai...

Não na provocação per se, mas sem abandoná-la, ele brinca de dizer a verdade – esse é o passatempo dele (e meu também), e faz isso de uma forma cômica, engraçada e que por isso, muitas vezes, é ignorada. Acaba passando apenas como uma palhaçada quando na verdade existe toda uma mensagem por trás – isso as vezes serve até para selecionar as pessoas que você gostaria que compreendessem sua mensagem.

Essa frase é uma das minhas favoritas porque é uma das poucas que obtive identificação total e completa à primeira lida. Também sinto que as pessoas não levam muito a sério os meus comentários humorísticos sobre o assunto que seja, só porque os faço brincando e dando risada – mas poderia muito bem fazer chorando e soluçando, algumas vezes essa é até a minha vontade, mas não é minha abordagem e não combina com a minha pessoa. Não que isso seja de todo ruim, as vezes me sinto até confortável – e funciona como defesa – em dizer algumas coisas brincando com a certeza de que a pessoa não vai acreditar mesmo em nada do que eu disse, por mais que seja verdade, só porque foi em tom de brincadeira. É como se desse uma certa liberdade – ufa, falei, não importa se não levaram a sério.

O que importa é ter alguma pra dizer, e ser sincero quanto a isso. A escolha da sua forma de ser sincero é totalmente pessoal, e eu gosto da minha – e da do Chaplin também.

sexta-feira, abril 04, 2008

Os Arquétipos de Sedutor




Mudando um pouco o assunto costumeiro do blog, incentivado por meus coleguinhas de trabalho, vou dividir com vocês uma teoria bacana sobre o comportamento sexual do animal da raça humana na hora de tentar seduzir seus parceiros. Esse post caberia melhor no “Soh na Cretinage”, mas como por lá, aparentemente, tudo morreu, vai aqui mesmo.

Eu acredito que, independentemente de sexo, cada um tenha seu estilo próprio de conquista. Todos possuímos nossos charmes e nossas técnicas de sedução que são bem características e que conseguem refletir uma boa parte da nossa personalidade. No entanto, a grande maioria pode ser concentrada em uma divisão pequena de arquétipos – o grudento, o pegador, o agitador... enfim, pequenos grupos que concentram as pessoas com características similares.

Gosto de pensar nesses grupos, no entanto, com uma analogia simples ao futebol. Especificamente, ao futebol da seleção Argentina. Acho que a maioria dos arquétipos podem ser visualizados e compreendidos prestando-se atenção na forma com que os principais jogadores da Argentina jogam bola. Vamos por partes, leia os arquétipos e me diga se não concordam!

Arquétipo Léo Messi – todo mundo que entende um pouco de futebol sabe que o Messi é o grande jogador da Argentina hoje, ele é craque. Joga aberto pelas laterais, pega a bola e carrega do meio do campo, corta bem pro meio e dentro da área conclui muito bem. Tem chegada e vive de fazer gols. Assim como aquele cara que come pelas beiradas, mas sabe fazer bem o que ele faz, tem um bom arranque e uma boa chegada.

Arquétipo Carlito Tevez – é o feinho que dribla bem, sabe enrolar, escapar das adversidades, mas demora pra conseguir chegar na conclusão, rodando muito a bola. É o cara que bate a bola na trave algumas vezes antes de conseguir colocar pra dentro, e que até faz gol, mas é um martírio, todo gol é um gol sofrido.

Arquétipo Hernán Crespo – o Crespo é o matador da Argentina. Dentro da área, ninguém joga tanta bola quanto ele – com o pé ou com a cabeça, não importa, deu bobeira ele faz o gol. Ele se posiciona bem em campo e espera a hora certa de chegar ao gol. É a pessoa que realmente sabe o que faz, tem presença e pode até não aparecer tanto no jogo, mas quando chega é pra definir.

Arquétipo Román Riquelme –
o grande gênio do meio-campo, Riquelme é aquele que comanda o time da Argentina, um camisa 10 clássico: organiza bem o time, e controla bem a posse de bola, dá ritmo e cadência ao jogo, faz bons passes e excelentes lançamentos – quase sempre colocando seus amigos cara a cara com o goleiro, além de concluir muito bem à longa distância e bater faltas como ninguém. É o grande apoiador, ganha pelo charme, normalmente, num grupo, é a pessoa que sabe levar a conversa e arrumar as coisas pra que todo mundo saia ganhando, inclusive ele.

Arquétipo Mascherano – o Mascherano é o volante do time, o cara responsável por não deixar o time perder, e por isso, o jogador que gruda no atacante. Joga na marcação homem à homem até o fim do jogo e é o mais insistente possível no seu objetivo – roubar a bola. Acaba se dando bem por isso, com muita insistência e alguma raça, os atacantes acabam cedendo só para ver se ele os deixa em paz.

Arquétipo Gabriel Heinze – as vezes lateral, as vezes zagueiro, já jogou até como volante. O Heinze não sabe muito bem o que quer e vive jogando improvisado em várias posições - embora seu forte mesmo seja a marcação. Ele pode ser disperso, mas não deixa nada passar, é o que vai em todas as bolas, joga por todos os lados, e não importa o esforço que ele tenha que fazer, ele precisa sair ganhando, nem que pra isso leve 30 foras na mesma noite.

Arquétipo Pato Abbondanzieri – é o goleiro. Nem é tão bom assim, mas quando tudo dá errado é ele quem segura a bomba. Quando o time precisa que alguém represente, e precisa de alguém para confiar, ele é o primeiro a ser chamado. O Pato é bom pra segurar aquelas buchas que ninguém quer marcar. Corajoso, se joga na frente de todas as bolas – o importante é não deixar nenhuma entrar. As vezes toma um frango, mas faz parte. Os amigos agradecem, afinal, toda pessoa bonita tem aquele amigo/a feinho que alguém tem que cuidar.

E aí, qual jogador da Argentina é você?

--

Agradecimentos aos colaboradores Adriana Dutra, Leandro Caro – do trampo, e Bruno Murilo – da facul. Estamos na mesma freqüência de demência ;P.

Na foto: Messi, Crespo, Zanetti e Riquelme de costas.

quarta-feira, abril 02, 2008

Just a little unwell.



“All day staring at the ceiling making friends with shadows of my own,
[O dia inteiro fitando o teto, fazendo amizade com sombras de mim mesmo]
All night hearing voices telling me that I should get some sleep,
[A noite toda ouvindo vozes me dizendo pra dormir]
Because tomorrow might be good for something.
[Porque amanhã pode servir pra alguma coisa.]

Hold on,
[Pera ae,]
Feeling like I’m headed for a breakdown.
[Parece que eu estou no caminho de me foder ;P]
And I don’t know why!
[E eu nem sei porque.]

But I'm not crazy, I'm just a little unwell
[Mas eu não sou doido, só tô meio mal]
I know right now you can't tell
[Eu sei que agora não dá pra você perceber]
But stay awhile and maybe then you'll see
[Mas fica um pouquinho e então você vai ver]
A different side of me
[Um outro lado meu.]
I'm not crazy, I'm just a little impaired
[Eu não sou maluco, eu só tô meio lesado]
I know right now you don't care
[Eu sei que agora você não se importa]
But soon enough you're gonna think of me
[Mas logo menos você vai pensar em mim]
And how I used to be...me
[E em como eu costumava ser... eu mesmo.]”



Nas últimas quatro semanas tenho ouvido “você só pode estar maluco” com uma freqüência maior do que o normal.

Não que algum dia eu tenha sido qualquer coisa próxima de normal, mas eu também não acho que seja totalmente surtado. Só tomei algumas decisões, reavaliei algumas situações, e estou tentando encontrar o melhor percurso de ações a serem tomadas ;P.

Ou não.

Na real, cansei um pouquinho de ficar tentando planejar as coisas e depois ficar torcendo pra tudo dar certo – quando não depende só de mim. Quem me conhece a mais tempo sabe que eu já tive uma fase de “foda-se” total, e uma fase de manipulação total. Eu estou ligeiramente tentado a ligar o foda-se novamente. A única coisa que me impede, ainda, é que eu deixei muita gente pra trás na minha última fase igual, e perdi muita gente importante, que hoje eu me arrependo.

Me falta aquele “balanço” do outro post.

Mas confesso que estou um pouco frustrado com a forma que as coisas estão atualmente. Que falta alguma coisa, eu sei, sempre falta, mas mais do que isso, parece que tudo o que eu me esforcei pra conseguir nos últimos tempos acabou não tendo o resultado que eu queria, nem minha troca de faculdades tem me agradado mais.

Por isso eu digo que queria sair fora, passar seis meses em algum lugar longe, embora alguns dos meus melhores amigos não gostem da idéia. Preciso de um tempo de férias de mim mesmo. Se algumas vezes eu nem eu me suporto, não sei como as pessoas conseguem andar do meu lado.

Essas últimas semanas estão servindo pra que eu tente encontrar, de novo, uma partezinha de mim que parecia ter se escondido, sumido. Uma parte que me fazia bem, e mal, mas que era minha e eu sabia como recorrer a ela quando precisasse. Ela não é a única que desapareceu, mas é a parte da minha personalidade que eu sinto mais falta agora. Por isso, não é que eu esteja maluco ;P, é só uma fase.

Eu ainda não mordo. Quer dizer, não pra machucar.


--

PS1: A música de introdução é do Matchbox 20, chama Unwell.

PS2: Esse é o post de número 70 do blog ;P, wow. Logo, o anterior é o de número 69. Sugestivo. =XXX

quinta-feira, março 27, 2008

Isso é marketing!



Poisé, tem algumas coisas quem conseguem me tirar do sério ao ponto de me obrigar a escrever um texto sobre, mesmo eu tendo recém atualizado esse blog. Uma delas é gente babaca e falastrona. Quer dizer, você quer ser um babaca (eu sou babaca pra caralho boa parte do tempo), ótimo, mas tenha consciência de que você é só um babaca e pronto. Não seja falastrão e pretensioso, não haja como se sua opinião fosse séria e realmente importante.

Tava lendo um texto de um fulano “André Rodrigues”, colunista do site do SPFW. X pra ele, procurei no google e não achei nada que preste. No texto, o rapaz se propõe a falar da cena “rocker” e zoar a Pitty tomando como base uma comparação com a Amy Winehouse – dizendo, especificamente, que a Pitty era uma Amy-wanabe. Olha só, eu não gosto da Pitty e gosto de Amy Winehouse, mas temos que dar crédito à baianinha, ela é tipo a Ivete Sangalo do pop-rock brasileiro. Dizer que a garota se veste do jeito que se veste pra ser cópia da Amy é sacanagem, quando ela estourou ninguém nem sabia quem era Winehouse.

Mas o que me deixou fodido, na verdade, não foi nem o post, e sim alguns comentários com frases do tipo “blablabla eu sou mal amado blabla é puro marketing”.

Caralho, deixem o marketing em paz!

Sigam meu raciocínio, ok?

Você é escroto pra caralho. Não canta nada, não é bonito, não se veste bem e mesmo assim consegue encontrar algumas ferramentas que ajudam você a se vender – a se identificar com um nicho, conquistá-lo, crescer, expandir, angariar mais fãs, fazer fama, virar moda e ganhar muito – MUITO – dinheiro, certo? ME DIZ, MEU DEUS, ONDE TÁ O PROBLEMA? Se o cara mesmo sendo escroto, não cantando e se vestindo bem consegue através do marketing (que quer dizer “mercadologia” ou o conhecimento do mercado e a criação de marcas) e fazer fortuna, porque você tem que ser desmerecido? Fala sério!

Cada vez que alguém fala “isso é puro marketing”, eu penso em explodir em pedacinhos pequenos o suficiente para entrar pela narina da pessoa e asfixiá-la lentamente.

Acorda pra vida, amigão. Tudo é marketing, até você.

O que é mais engraçado é que as pessoas fazem “marketing” o tempo inteiro, inteiro! E nem percebem. Você passa o dia inteiro no trabalho fazendo marketing, conversando com as pessoas pra fazer um H, deixando seu trabalho aparecer, vendendo seu produto (você mesmo) ou até vendendo o produto de outros (da sua empresa), e ninguém vê nada errado. Você se veste de um jeito específico que acredita que vai agradar além de você mesmo um outro nicho de pessoas, sejam mulheres, sejam homens, sejam seus amigos, seja uma tribo social. Você, na balada, toma atitudes, posicionamentos e usa cantadas escolhidas especialmente para aquela situação porque você, mesmo que intrinsecamente, analisou ambiente e o alvo e percebeu que aquela era a melhor deixa. Isso é Marketing! Tudo marketing!

A vida é marketing, puro e simplesmente. Até que é autêntico tenta vender a idéia de autenticidade. Autenticidade é marketing! Bwahaue. Cara... tem duas coisas que existem em tudo: marketing e design. Essas coisas não se deve foder com, a não ser que seja seu marketing pessoal.

Então, por favor, eu imploro, a todos os filhos da puta burros, não falem “isso é tudo marketing” como se fosse algo pejorativo só porque você é estúpido ao ponto de não conseguir usar o marketing como uma ferramenta pra atingir seus objetivos (ou simplesmente porque você é um panaca sem ambição nenhuma e que não possui objetivos). Respeito é bom, e todo mundo gosta – e por isso, vende bem.


quarta-feira, março 26, 2008

De ponta cabeça?




Espetacular! Percebi esses dias... É real!

Tenta pegar uma fotografia sua e vira ela usando o programinha do Windows (supondo que você use Windows, aliás, ele dá caps no W automaticamente, bizarro). Testei isso com as fotos de gente que tenho aqui em casa, e ainda vi exemplos em alguns orkuts da vida. As pessoas ficam mais bonitas na horizontal ou de ponta cabeça. Mágico. Ou de repente só parece assim porque é um ângulo que agente não vê muito.

Sei lá.

Quem já não se pegou observando alguém deitado ou dormindo, vendo a pessoa de lado ou de trás, e achou uma gracinha?

Acho que fomos feitos pra ficar de ponta cabeça. Se eu ainda tivesse a capacidade de andar sobre meus braços como na época de karatê, experimentaria. Deve ser algo interessante. E além do mais, a Marie-Jane dá o primeiro beijo no Homem-Aranha de ponta cabeça, deve significar alguma coisa.

Stan Lee não brinca com coisas sérias.

sábado, março 22, 2008

Qual a Medida da Intensidade?




Ás vezes eu acredito que a maioria das coisas é regida pela intensidade que você aplica ao ato.

O resultado de tudo depende de uma fórmula que envolve intensidade com quem você deseja aquela coisa e a intensidade da força aplicada para consegui-la e retê-la. Quer dizer, ás vezes é mais difícil você manter algo ao qual você deseja ou desejou do que simplesmente consegui-lo – ou tomá-lo para si. Com um pouco mais de intensidade, ou um pouco menos, você acaba deixando as coisas escaparem por entre seus dedos.

É assim pra todas as coisas. Tanta gente que desejou muito ser famosa e conseguiu acabou deixando a fama escapar por vivê-la de mais, no limite, intensamente... ou vivê-la de menos, recluso e isolado, deixando a mística morrer. Nas relações humanas, eu acredito, é a mesma coisa. Hoje eu compreendo mais do que nunca que é necessário encontrar um balanço entre dedicação e descaso – embora não tenha encontrado esse balanço ainda, na maioria das minhas relações. Volta ou outra esse assunto volta à minha pauta – uma dedicação exagerada àquilo que eu, inseguro, acho que não possuo e o descaso com o que tenho a certeza burra de que vou ter para sempre. O que não quer dizer que eu goste mais, ou menos, por isso.

Uns bons quatro anos atrás eu tive uma crise séria por causa disso. Me via dedicando muito tempo a pessoas que eu sabia que não valorizavam a dedicação, e negligenciava os amigos de verdade. No final, em um momento complicado, fui procurar no celular alguém que pudesse recorrer de verdade em um momento de aflição, por curiosidade, e percebi que não podia contar com ninguém – a não ser eu mesmo. As pessoas que eu cuidava com intensidade não eram importantes o suficiente pra que eu tivesse tranqüilidade para me abrir, e as pessoas que conseguiriam me entender eu havia posto de lado, e não tinha coragem para falar.

Não acho que eu cometa o mesmo erro hoje em dia. Eu tenho certeza que me dedico o suficiente ou demais às pessoas que realmente valem à pena, e não tenho nada mais do que um contato político com as que eu acho que não valem. Ainda assim, ás vezes acho que continuo pecando pelo excesso em alguns casos e negligenciando outros que, por algumas experiências recentes, percebo que mereceriam um pouco mais de mim.

Parece que me falta justamente o feeling do balanço entre uma coisa e outra, como o momento certo de soltar o pedal de embreagem. Eu credito isso, em partes, à natureza humana da qual não poderei nunca abdicar, e em partes ao meu desequilíbrio pessoal – minha insegurança, meus medos, minha preguiça, meu orgulho, minha sensibilidade e principalmente ao fato de que embora eu tente o tempo inteiro racionalizar as atitudes minhas e do mundo, eu sou uma criatura passional.

Ainda assim, se de tudo que vivi tento tirar uma lição, a que aprendi a 4 anos atrás foi a que é melhor pecar por dedicar-se com mais intensidade às pessoas que eu realmente gosto e que gostam de mim – mesmo negligenciado sem querer algumas outras pessoas. Engraçado, revejo amigos ultimamente que me conhecem á muito tempo e as opiniões se dividem – ou eu mudei muito, ou eu não mudei nada.

Eu acho que mudei o suficiente – aqui, ao menos, encontrei um balanço. Coloquei algumas máscaras, removi algumas outras, aprendi a gostar de gostar das coisas e me interessar por elas, aprendi a dizer verdadeiramente “eu te amo” e a não ligar para o que boa parte das outras pessoas dizem, e com a intensidade certa, acredito que aprendi a viver um pouquinho mais. De uma coisa, ao menos, eu tenho certeza - todos os que eu amo, independente da intensidade, eu amo de verdade.


E acho que a gripe me derrubou mesmo ;P

terça-feira, março 18, 2008

Sol gelado, chuva que não molha e uma trilha sonora pra completar...



Essa não é lá uma atualização excepcional, mas de todas as coisas que eu poderia falar, a que me motiva mais nesse momento é o quanto esse clima de hoje, em São Paulo, me agride.

Eu não gosto de chuva, mas eu prefiro um chuvisco à esse calor. Não é que não goste de sol, gosto, até chego a admirar um pouco sua posição como astro rei e deus único de diversas religiões, mas não gosto do calor. Quer dizer, até aceito um calorzinho nos fins de semana, quando você viajar pro sítio ou vai pra praia. Até mesmo para você ficar tostando na piscina ele serve. Mas ao meio dia de um dia de semana em que a semana anterior inteira fez frio e chuva, não dá.

O pior é que o calor te chama a atenção para outras coisas. Quando tá chovendo você se preocupa em não se molhar, em não ser alvo de um jato de espirro d’água do ônibus ou até mesmo no som da chuva – aliás, o som da chuva é a melhor coisa da chuva em si, toda aquela sensação de refrescância é 75% por causa do barulho. Enfim, quando ta calor, você não tem no que prestar atenção, daí repara nos fios de eletricidade, nas ruas sujas, na poluição visual que o prefeito teima em achar que acaba quando sumirem todos os meios de mídia publicitária do universo (o que é mentira – publicidade pode ser arte, e o problema de São Paulo é muito mais seus postes, paredes pichadas e sinalizações ridículas do que um outdoor), entre 200 mil outras coisas que você adoraria eliminar do seu dia.

E não suficiente, o que me irrita mais é o barulho do trânsito. Quando ta chovendo, tem o som das gotas d’água e você normalmente até se refugia embaixo de algum toldinho e dedica mais tempo à conversar esperando a chuva passar – a voz das pessoas é, com certeza, mais agradável que o barulho de um ônibus capenga desses que passam por aqui (fora que o calor dá preguiça até de falar). Além do mais, na chuva, você se esconde dentro do carro, e no carro, tem rádio, e na rádio, tem Nova Brasil FM, daí dá pra relaxar – fora os vidros que dificultam a entrada do barulho. Agora tenta se distrair com um iPod na mão enquanto caminha por ai e veja no que dá.

Voltei do almoço agora, meio irritado. Só nesse percurso de uma quadra fui alvo de uma dezena de estímulos pouco agradáveis que a uma semana eu já até havia esquecido que existiam. E eu nem falei da poluição em si, que deixa você com dor de cabeça só de respirar.

Podiam inventar um solzinho frio, uma chuva que não molhasse e uma trilha sonora metropolitana. É pedir muito?

quarta-feira, março 12, 2008

Sociedade Esportiva Palmeiras.


Isso é amor. Sem mais.

sábado, março 08, 2008

Dia das Mulheres

Eu tenho que atualizar isso aqui, mas como anda tudo meio corrido no trabalho (amanhã, domingo, estarei no escritório, por exemplo) eu não tenho tido o tempo que gostaria, porém, às vezes acho que esse intervalinho de 4 ou 5 dias entre um post e outro é bem saudável pra quem não tem pretensão de virar uma web-celebrity tão cedo. Ele é bom também para captar algumas idéias, engraçado... outro dia tava pensando em fazer um comentário sobre o volume crescente de mulheres cantoras na nova MPB (Ana Cañas, CéU, Mariana Aydar, Roberta Sá, etc), seguindo na linha da Vanessa da Mata, até gravei um cdzinho com as melhores e talz... Mas não escrevi. E hoje, é dia da mulher, logo, posso me dar ao luxo de fazer esse comentário sem precisar escrever um post inteiro sobre isso.

Eu tenho a convicção plena de que esse século vai culminar no domínio feminino do mundo. Desenvolveram até mesmo uma forma de produzir um feto a partir das células de duas parceiras mulheres, ou seja, a mulher está chegando bem próximo de tornar-se auto-suficiente até mesmo na reprodução da espécie, e quando isso acontecer, o que será de nós pobres homens?

Mas enfim, como um apaixonado admirador do sexo feminino, dou parabéns pelo dia de hoje a todas as mulheres. Eu já fiz todo o tipo de post sobre esse dia e sobre esse tema, postagens filosóficas, eróticas ou poéticas, não importa. Hoje, vou fazer uma homenagem imagética às mulheres, colocando aqui algumas que são pequenos poemas em carne viva, saindo direto do cinema, meu hobbie favorito ;P.

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A Beleza Eterna - Rita Hayworth, eterna Gilda, uma das mulheres mais belas de todos os tempos.

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A loira - Elisha Cuthbert, filha do Jack Bauer.

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A morena - Jennifer Connely de Réquiem Para um Sonho, Água Negra, Diamantes de Sangue, etc.

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A ruiva – Brooke Shields, a lolita de Lagoa Azul e já mais madura, de Suddenly Susan.

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A brasileira – Mariana Ximenes, uma das melhores e mais belas atrizes nacionais.

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O amor da minha vida – por fim, a mulher mais perfeita do universo, o amor da minha vida, Scarlet Johanson ;PP, procurei por uma imagem boa dela no filme em que primeiro reparei nela, Encontros e Desencontros.

terça-feira, março 04, 2008

Paris, je t'aime.



Eu não gosto quando isso aqui começa a parecer um blog de cinema, mas não consigo evitar esse post. Acabo de me apaixonar por um filme que venho namorando a algum tempo. Paris, je t’aime é uma obra que eu tento assistir desde quando foi lançada no festival de cinema e não havia conseguido até esse fim de semana – valeu a expectativa. É o melhor filme de curta-metragens que já assisti depois de “Coffee and Cigarettes” do Jim Jamursch.

O filme tinha tudo pra ser extremamente boring, com a temática batida sobre a cidade do amor, mas ele não é. São 18 filmes por 20 diretores diferentes e eu quero e vou falar por cima sobre todos, porque realmente são legais. E haverão spoilers.

Cada um dos filmes conta uma história em um dos distritos de Paris, começando por: Montmartre, o distrito mais famoso – a direção é de Bruno Podalydès, diretor independente francês. O curta mostra um homem tentando encontrar uma vaga para estacionar o carro em uma rua muito movimentada, com muita impaciência, que temperada com alguns gestos de carinho refletem a personalidade de muitas das figuras de uma metrópole como Paris, ou São Paulo. O segundo curta, Quais de Seine é do diretor Gurinder Chadha, diretor de Bollywood, e é um dos mais bobinhos, só é ligeiramente engrçadinho – fala da relação entre um jovem parisiense pseudo-virgem com uma mussulmana.

O terceiro filme já é de um diretor famoso, Gus Van Sant de Elephant e Finding Forrester, e fala de alguns problemas de comunicação entre um americano que não fala francês, e um francês moderinho no distrito de Le Marais, o mais gay de Paris. O quarto curta já é o melhor de todos, dos irmãos Ethan e Joel Coen, com o Steve Buscemi no elenco, Tulleries mostra um turista americano no metrô de Paris dividindo sua atenção entre um livrinho de conduta e um casal jovem se pegando do outro lado do trem, quando de repente, o homem do casal se sente incomodado e decide tirar satisfação, excelente curta com as características plenas do humor negro dos Coen.

O quinto filme é mostra já um pouco de nostalgia, dos brasileiros Walter Salles e Daniela Thomas, Loin du 16e é sobre uma hispânica que tem de deixar o filho na créche e pegar muitos trens para cuidar do filho dos outros. O sexto é o mais sem noção, de Christopher Doyle, diretor de fotografia de filmes excelentes como 2046, Dama na Água e Paranoid Park, leva o nome de Porte de Choisy e se passa num bairro oriental. Um homem está vendendo produtos de beleza, mas é atacado por uma dona de salão lutadora de Muay Thai, que o prende (num templo budista com uma pista de boliche) mas depois se arrepende, porque o livro de produtos dele tem fotos de penteados de famosas americas – ela pede pra que ele corte os cabelos das clientes daquele jeito, ele não é cabelereiro, mas aceita, e fica famosíssimo por um dia inteiro, quando tem de se despedir do mesmo jeito que chegou, deixando a oriental bonitona com um cabelo excepcional. Vai entender.

O sétimo curta é um dos melhores, da Isabel Coixet (Minha Vida Sem Mim e A Vida Secreta das Palavras), chama-se Bastille. A diferença começa no estilo da narrativa – um narrador conta a história de um homem que está prestes a deixar a mulher, fala dos problemas conjugais, mas hora que ele vai pedir o divórcio ela mostra que está com leucemia e vai morrer em breve, ele então, decide ser um bom marido e ficar com ela até o último momento, mas, “de tanto esforçar-se para parecer apaixonado, ele acaba se apaixonando novamente”, conforme diz o narrador. O oitavo, de Nobushiro Suwa, que eu particularmente não conheço, trás no elenco Williem Dafoe e Juliet Binoche, chama-se Place de Victoires e mostra a trajetória de uma mãe francesa tentando superar a morte do filho fascinado por cowboys americanos.

O nono, de Sylvain Chomet também é um dos mais malucos, porém, um dos mais divertido. Chamado Torre Eiffel, é a história de um garoto contando como seus pais se conheceram – na prisão. Detalhe, os pais são dois mímicos. É engraçadíssimo. O décimo é do famoso Alfonso Cuarón (E Sua Mãe Também, Harry Potter e um dos meus favoritos, Filhos da Esperança) e não possui cortes por quase 4 minutos. Com Nick Nolte no elenco, Parc Monceau mostra a caminhada dele e de uma mulher no que parece uma conversa entre amantes com referências ao marido da mulher, mas acaba sendo somente pai e filha, discutindo sobre o neto. Bacaninha, embora tenha sido visivelmente re-dublado por cima.

O décimo primeiro, de Olyvier Assayas, que eu nunca ouvi falar mas o imdb me diz que ele foi o escrito de Filha da Mãe com o Wilker, chama-se Quartier des Enfants Rouges e tem a Maggie Gyllenhaal (irmão do cowboy viado que ainda vive) e fala sobre uma atriz de hollywood junkie pedindo drug delivery e rolando um clima com o motoboy. O décimo segundo, Place des Fêtes de Oliver Schmitz, que também não conheço, é o único sobre os negros parisienses e mostra, literalmente, que o amor mata – mesmo que sem querer.

Décimo terceiro é o interessante Pigalle, com o Bob Hoskins e dirigido por Richard LaGravenese, o diretor de P.S. Eu Te Amo. Mostra um casal já depois dos cinquenta fazendo de tudo pra manter o casamento de pé – inclusive brincando de interpretar papéis. O décimo quarto é o mais diferente de todos, Vicenzo Natali é o diretor, e o vídeo chama Quartier de la Madeleine, é um filme bem noir com o Frodo e música de suspense, muito sangue bem vermelho e uma vampira gata flutuando.

Décimo quinto, Père-Lachaise, de Wes Craven (Pânico e Red Eye), tem no elenco o Rufus Sewell (eterno vilão), a Emily Mortner e o Alexander Payne fazendo o Oscar Wylde (ele dirige um também), que dá dicas românticas para o Rufus, um cara sem senso de humor algum, não deixar a Emily ir embora em busca de novas aventuras. O Décimo sexto é de um dos meus diretores favoritos, Tom Tykwer de Corra Lola, Corra e tem a Natalie Portman no elenco, fazendo uma personagem chamada Francine (had to mention). É também um dos melhores. Começa com um telefone tocando e um garoto cego atendendo, e ela faz um discurso típico de quem vai terminar um namoro e se matar. Então, pela cabeça do cara, em velocidade alucinante e numa linguagem típica do Tykwer, passam todas as lembranças de como eles se conheceram e de como o cara ama a mina, você descobre que ela é uma atriz wannabe, e no final, ela só estava ensaiando um texto – mas ele achou que era verdade.

O décimo sétimo, de Fréderic Auburtin e Gérard Depardieu, com o mesmo atuando, fala sobre um casal idoso, que namora jovens, pedindo o divórcio. O destaque fica para o humor ácido. E finalmente o último e mais chado, do Alexander Payne (Sideways), fala de uma texana solitária em sua viagem para Paris, uma cidade ao mesmo tempo triste e feliz.

É isso, agora vejam o filme. Não liguem pros spoilers.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Tudo termina bem em Neverland.


Parece que tudo terminou bem lá na terra do tio Sam depois do 80º Oscar. Esse ano não tenho muito do que reclamar, não foi um dos melhores em qualidade e muito menos em quantidade, talvez graças a greve dos roteiristas, talvez graças a uma academia que não sabe escolher direito os concorrentes, talvez porque eu simplesmente seja muito chato, talvez...

Comentando os resultados, vamos começar pelos mais técnicos. Som e Edição ficaram com o Ultimato Bourne, o Matt Damon é um cara legal, então tudo bem. O filme é o melhorzinho dos três, tem uma perseguição de carros animal e acaba por ai. Eu gosto mais da edição moderninha dos Cohen Brothers, mas como já deu no saco filmes que se passam em 300 pontos de vista diferentes (Babel, Crash, Pecados Íntimos, etc), até que foi bom variar.

Sangue Negro precisava ganhar alguma coisa, já que não ia levar melhor filme, e o de Melhor Ator era barbadinha de mais (qualquer filme que faça estouro com o Daniel Day-Lewis corre o risco dele levar melhor ator, porque afinal, o cara é foda), decidiram dar o de Fotografia. Meu predileto na categoria era o Assassinato de Jessé e James, mas fiquei relativamente contente. A única decepção máster na parte técnica foi a Bússula de Ouro ganhando Efeitos Especiais. Um filme que concorre com Piratas do Caribe e Transformers não pode ser melhor. Um urso polar que fala jamais vai ser mais bacana que um robô gigante destruidor de universos, sinto muito!

Na parte mais frufru do negócio, Piaf ganhou de maquiagem, o que é justo tendo em vista que concorria com Norbit e Piratas do Caribe, embora o Piratas fosse bacana também. Figurino ganhou Elizabeth, mais como prêmio de consolação, porque a coitada da Cate Blanchett concorreu a dois oscars de atriz e supporting actress e não levou nenhum. Merecia. Em direção de Arte, pelos mesmos motivos, ganhou Sweeney Todd, que precisava levar umzinho. O Oscar tá parecendo até distribuição de ministério no governo Lula, agradando todos os lados.

Melhor Canção ganhou realmente a melhor canção, Falling Slowly do filme Once. Depois de ouvir as três músicas de Encantada ao vivo, eu dei graças a deus por ter batido o pé e não ido assistir, ficou devendo, e muito, pra um filme da Disney. Quase dormi toda vez que rolava uma música. Melhor Trilha Sonora ganhou o excelente Desejo e Reparação, talvez o segundo Oscar mais merecido de todos desse ano.

Agora vamos ao que realmente interessa, danem-se os documentários chatíssimos e os curta-metragens que ninguém assistiu. E ainda mais os filmes internacionais que desprezaram o nosso “O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias”. Supporting Actress e Actor, ganharam Javier Bardem, que sinceramente não tinha concorrentes, e a primeira grande e boa surpresa do Oscar, Tilda Swinton – a bruxa de Nárnia, o Gabriel de Constantine e a mãe do filho do Bill Murray em Flores Partidas, entre outros. Concorria com a Cate, que coitada, devia ganhar alguma coisa mas não levou nada. Eu acho as duas muito parecidas, a única diferença é que uma é feia e a outra é linda, mas anyways, fiquei contente.

No quesito melhor ator, eu daria 10 pra todo mundo e mandava dividir o Oscar. Mas como eu não mando nada, ganhou o Daniel Day-Lewis, merecido, mas clichê. Puta concorrência foda, Aragorn... digo, Viggo Mortensen, George Clooney, Johnny D. e Tommy Lee Jones... gostei da seleção aqui. Melhor atriz foi a segunda surpresa do Oscar, e a melhor de todas, e o melhor Oscar da noite, pra francesa ma-ra-vi-lho-sa Marrion Cotilliard. Ela faz dois dos meus filmes favoritos de todos os tempos, Peixe-Grande (que eu choro toda vez que vejo) e Um Bom Ano, par romântico do Gladiador em um filme bem bem bem bacana. E só pela emoção dela no agradecimento já valeu a pena. Pena maior pra Cate Blanchett, que perdeu de novo.

Na minha “área”, de Roteiro, deu o que qualquer um apostaria no bolão. O “favoritinho independente” Juno no Original e Onde Os Fracos Não tem Vez no Adaptado. Eu não gostei, premiaria Ratatouille e Desejo e Reparação respectivamente e infinitamente mais bacanas.

E pra fechar, melhor animação deu Ratatouille graças a deus, se ganhasse Persépolis eu me matava. Melhor filme ganhou Onde os Fracos Não Tem Vez, que foi realmente o melhorzinho dessa lista na questão diferenciada do som, na forma de fotografia e na narrativa. Como conjunto da obra, superava o Sangue Negro, que era o segundo favorito, mais pela atuação do Daniel e pela direção do Anderson do que qualquer coisa. E pra fechar, melhor diretor, ganharam os Irmãos Cohen, justo. Sangue Negro não é um dos melhores do Paul Thomas Anderson – Magnólia é infinitamente melhor, e os Irmãos Cohen mereciam, são dois dos meus diretores favoritos (pelo humor negro irônico). Meu trabalho de Teoria da Comunicação na ESPM foi sobre eles.

Acho que, no final, tudo terminou bem nesse Oscar. Que foi fraco, mas relativamente justo, perto dos outros. Todo mundo levou uma estatueta pra casa, e ficamos todos felizes.