segunda-feira, junho 25, 2012

Péssima Idéia.





Todos os dias Juliana acordava apaixonada.

Ela procurava o amor em todos os lugares, em todas as pessoas, em todos os encontros.

Ela distribuía paixões, entregava o coração dela para qualquer um que demonstrasse interesse.

Nunca dava certo.

O que Juliana não sabia é que isso era uma péssima ideia, ninguém quer um coração dado.

segunda-feira, maio 07, 2012




- Olha só, eu não tô te cobrando nem nada, ok. – Ela se ajeitou na cadeira. – Mas, tenho uma curiosidade... porque você nunca disse que me amava?

Ele riu.

- Não é engraçado. – ela arqueou a sobrancelha.

- Eu nunca disse que te amava, porque eu nunca achei que fosse necessário. Mesmo porque, eu não entendo muito de amor.

- Mas então, porque você quis ficar tanto tempo do meu lado?

- Porque eu te adoro.

- Adora? Assim, no presente?

- É. – ele riu de novo, tomou um gole da soda italiana de maçã verde e voltou a falar. – Adorar, acho, é o sentimento mais intenso que se pode ter. Mais do que amor.

- Adorar, tipo Deus?

Ele ficou levemente constrangido, levou a mão até a barba rala e coçou como fazia quando pensava duas vezes antes de dar uma resposta.
- Não é tipo Deus, mas é. Eu não rezava para você, mas todas as vezes que conversava sobre você com alguém, dizia o quanto você era uma parceira incrível, o quanto estar ao seu lado me fazia bem, o quanto você era uma pessoa justa, inteligente, charmosa. E todas as vezes que estava sozinho, me pegava pensando em você.

Ele continuou.

- Eu não louvava você. Mas cansei de cantar pra você no violão, olhando nos seus olhos pra ter certeza que você sabia. Que você entendia que todas aquelas palavras bonitas, escritas por outra pessoa, tinham pra mim um significado especial, que elas tranquilamente poderiam ter sido escritas por mim, pensando em você. E eu não ia a igreja nos domingos, mas eu ia pra casa dos seus pais, almoçar com a sua mãe e provar para o seu pai que tudo o que eu mais queria era ficar perto de você, mesmo passando as tardes assistindo ao jogo do São Paulo e aguentando gozação dos amigos depois.

Dessa vez foi a vez dela rir.

- E eu não fiz guerra por você, mas você sabe todas as discussões que eu tive com a minha mãe quando ela me dizia que você ia me trocar por um cara mais velho, mais bonito, mais rico. E eu ainda tenho alguns hematomas das vezes que eu tive que apanhar de alguém na balada pra não deixar ninguém encostar em você.

Ela baixou o rosto.

- Adorar é tipo colocar alguém num lugar mais alto do que o seu. Tipo uma escadinha, onde você está feliz só por ficar olhando lá de baixo. É perceber todas as qualidades, apreciar todos os defeitos, e ser feliz por ter feito a escolha certa de estar ali. E não é porque você me trocou por um advogado rico, famoso e bem mais bonito do que eu que eu vou deixar de achar isso. Mesmo porque, eu sei que você me trocou por amor. Por isso ainda somos amigos.

Ela acendeu um cigarro, desconfortável. A franqueza com que ele falava as coisas costumava ser sempre desconcertante.
- Você é feliz? – ela perguntou, baixo.

- Felicidade é poder escolher. Eu sou um cara de sorte. Pude escolher me envolver com as pessoas certas, pude escolher meu trabalho, pude escolher minha família. Eu não olho pra trás e penso “e se?”. Eu construi, eu vivi, e eu tomei minhas decisões da forma mais sincera que eu pude, e não faria diferente.

- E se nós ainda estivéssemos juntos?

Ele a olhou nos olhos, um sorriso doce nos lábios.

- Se nós ainda estivéssemos juntos, você não seria quem você é hoje. E eu não seria quem eu sou. Não teríamos tido os momentos de decisão que seguiram nossa separação até hoje. Não teríamos feito as escolhas que fizemos. Talvez nem tivéssemos a mesma relação que temos, nem a que tínhamos. Eu sou feliz, assim, e não acho que poderia ser de outra forma.

sexta-feira, março 23, 2012

Tudo e Nada.



Ele sofria de Tudo. Quando emprego a palavra, não é pensando no sentido mais comum do seu uso – não é como ele sofresse por tudo. Ele sofria de Tudo. Da abundância das coisas. Era do tipo que guardava, que possuía, que lembrava. Toda informação, informação de mais, era acumulada. Ele sofria com o sofrer do outro, com a felicidade do outro, sofria por ter tudo dentro de si e não conseguir colocar nada para fora. Era um colecionador por natureza, um acumulador de todas as coisas. Qualquer coisa significava tudo.


Ela sofria de Nada. E quando digo nada, não é dizendo que nada fazia-a sofrer. Ela sofria com a ausência, com a falta, com o vazio. Tudo, pra ela, significava nada mais que nada. Ela precisava ter sempre tudo perto, tudo que era dela, tudo que ela desejasse. Uma necessidade inerente de tentar tudo para preencher o nada que ela carregava dentro do peito. Ela não conseguia absorver, não conseguia trazer consigo, não conseguia fazer ter apego. Nada significava alguma coisa.


Quando se falaram pela última vez, amigos que eram, ele, que tinha Tudo dentro de si, não compreendia como ela, que não carregava Nada, conseguia ser tão triste. Não sabia que podia se sofrer de Nada, e que quando nada é capaz de te tocar, você se sente cada vez menos gente. Já ela, questionou como ele, que tinha Tudo, lembrava de tudo, sentia tudo tão intensamente, que era tão humano e tão bonito, podia ser infeliz. Não sabia que pode se sofrer de Tudo. Que o peso de tudo é muito mais do que alguém pode carregar.


Ele respondeu:


- Sofro, porque sinto o mundo em mim. Porque para todo aqui, carrego tudo o que está lá comigo.


Ela respondeu:


- Sofro, porque tenho saudade de tudo que não consigo ter em mim. Eu tenho saudade de tudo que não é aqui.