sábado, agosto 29, 2009

Use Somebody



Sempre acreditei no poder da troca entre as pessoas. Cada relacionamento estabelecido rende uma parceria diferente, uma troca diferente, e é isso que faz de cada contato social único da sua própria forma.

Algumas trocas são positivas, outras nem tanto. Algumas pessoas tomam de você o que você tem de melhor, e dão em troca muito pouco. Outras, com dedicação e carinho, acabam dando muito mais do que você esperava receber delas.

De qualquer maneira, conforme essa relação se desenvolve, vamos mudando também um pouquinho de nós mesmos. Aprendendo com nossos erros, com nossos acertos. Somando as influências daqueles que nos cercam e absorvendo algumas delas para nós mesmos – piadas, costumes, hobbies, estilos, comportamentos, conhecimento, seja o que for.

A projeção dessas influências é que nos transformam em pessoas diferentes. Somados aos acontecimentos do dia a dia – da vida, per se – é o que resulta em nossas mudanças de comportamento, de atitude – nosso amadurecimento, ou o que seja.

Aos poucos nós vamos nos distanciando do que éramos antes, lá no começo. Da forma como pensávamos, da forma como agíamos. E eu percebo, em mim, essas mudanças na forma com que eu lido com as minhas trocas.

Meu amadurecimento pessoal passa pelas minhas amizades e a forma com que eu lido com todas essas questões.

É bom saber que amizades antigas podem ser restabelecidas, que antigos amores podem virar amizades, que novos amigos podem ser grandes amigos, sem substituir aqueles que vieram antes deles, e que aqueles que vieram antes não deixam de ser importantes porque são trocas mais antigas – porque essas pessoas também as suas próprias relações, e se modificam com elas assim como você, crescendo.

Havia uma época em que eu simplesmente enjoava das pessoas. De uns anos pra cá, eu aprendi a escolher as pessoas das quais eu devo me cercar, pessoas que não importa o que aconteça, eu sei que nunca vou enjoar.

terça-feira, agosto 25, 2009

Timidez


Entrou. Som - alto. Barulho. Conversa. Parou. Olhou. Ouviu. Respirou. Comentou. Todos - riram. Riu - também. Caminhou. Empurrou. Abriu - espaço. Olhou. De novo. De novo. Coçou - a nuca. Dançou. Bebeu. Percebeu. Encarou. De novo. De novo. De novo. Baixou - a cabeça. Riu. Bebeu. Ofegou. Foi. Não foi. Colocou - a mão. No bolso. Dançou. Tropeçou. Mordeu - o lábio. Olhou - ao redor. Bebeu. Riu. Percebeu. De novo. Ainda - lá. Sorriu. Lábios - secos. Mão - molhada. Água. Cerveja. Bebeu. Ergueu - os olhos. Luz. Som. Movimento. Vontade. De fazer - xixi. Encarou. De novo. Arqueou - a sobrancelha. Respirou - fundo. Foi. Não foi. Respirou - fundo. Entreabriu - os lábios. Falou. Não falou. Gemeu. Resmungou. Ficou - em silêncio. Dançou. Riu. De - si mesma. Jogou - os cabelos. Prendeu - os cabelos. Decepcionou - se. Dançou. Riu. Sem - vontade. Respirou - fundo. Foi. Embora.

Queria dizer – podia.

Podia falar – queria.

Sabia dizer – não ia.

Não ia falar – sabia.

segunda-feira, agosto 10, 2009

My Generation



Como cinéfilo que sou, eu acredito no poder cultural e intelectual dos filmes, séries e animações. Entendo que existem obras audiosvisuais para diversão, para dar risada, filmes para ver com a namorada, mas também existem filmes e séries inteligentes e capazes de transmitir uma mensagem, uma filosofia ou, o ponto onde eu quero chegar – definir uma geração.

Quando eu digo definir uma geração posso causar algum tipo de dúvida, dado o termo inglês utilizado costumeiramente “defined our generation”, mas em sentido diferente – existem filmes que são predecessores de uma geração e que de alguma a influenciam e existem filmes que vêm depois dessa geração já construída para falar sobre ela. O primeiro tipo é o “defined our generation”, o segundo é o que eu digo que “define uma geração” – porque ele a conceitua, exemplifica, demonstra e pontua.

Para ilustrar melhor, vou dar três exemplos do que considero obras que definem uma geração: o filme Clube dos Cinco, o musical R.E.N.T e a série Dawson’s Creek, e uma série considerável de outros.

Essas três obras, por mais distintas que sejam, tem uma coisa em comum – que considero ser o mais importante em uma obra desse tipo:

O trabalho com os personagens.

Mais do que qualquer outra trama que possa existir, mais do que a mensagem sobre homossexualismo e drogas de RENT, por exemplo, está a construção cultural dos personagens e a veracidade que é aplicada a eles – é possível ao telespectador se projetar dentro do grupo de amizades dos personagens, tê-los como reais ou identificá-los, as vezes, dentro dos nossos próprios grupos sociais.

Eu sou um apaixonado por personagens – sempre fui. Não me considero e nem nunca vou me considerar um bom escritor, mas adoro construir, estudar e dar vida a personagens – um pouco egocêntrico, quase como brincar de deus. Acho que tenho uma facilidade em perceber e construir arquétipos, e meu gosto por tentar entender e por observar as pessoas faz com que os personagens que eu crie se tornem verossímeis e representantes da minha realidade, da minha geração.

Essa é a principal diferença dos filmes que definem uma geração. As personagens são parte dela. São arquétipos, clichês ou o que seja, que falam diretamente com aquelas pessoas que elas tentam imitar. E é através dessas personagens que se remonta e conceitua a verdadeira face daquele povo ou daquele tempo.

Quero que no futuro, se um dia eu publicar ou filmar qualquer tipo de obra, que seja uma obra com personagens “reais”, da nossa época, da nossa geração, que nós consigamos nos enxergar nos problemas e conflitos deles, nos seus comportamentos, e com isso, transportar a imitação da arte – que é a literatura ou o cinema – para algo um pouquinho mais próximo, um pouquinho mais verdadeiro.

E que se veja no material que eu produzi um pouquinho do que nós todos somos, hoje.

sexta-feira, agosto 07, 2009

Amor & Ódio



- Eu estou exausta! – ela gritava, movimentando as mãos nervosamente, inclinando o corpo na direção dele de forma agressiva. Ele a observa com alguma indiferença e um ar de superioridade que a irritava ainda mais. – Não aguento mais!

- O que você quer que eu faça, o que você quer de mim, Cam? – arqueou a sobrancelha, o tom de voz não era carinhoso, ele não sabia ser carinhoso, era, ao contrário, arrogante e orgulhoso. – Você não pode acreditar que a culpa das nossas discussões freqüentes são minhas...

- Esse é o problema! Você nunca acha que nada é culpa sua, você nunca erra, você é o Sr perfeito, o Sr dono da verdade. Essa sua arrogância, essa sua prepotência... você simplesmente não sabe quando parar!

- Parar? – ele riu com o canto dos lábios em um tom irônico, o peitoral nu à mostra. Caminhou até a mesa da sala e pegou um maço de cigarros sobre a mesa. – Não estou fazendo nada, Cam... você que está totalmente descontrolada, pra variar.

- Cara...! – ela parecia descentre, levou as mãos ao rosto e cobriu-o com os dedos como quem está prestes a chorar, mas não daria mais aquele gostinho à ele – Theo... você é uma criança. Uma criança! Você é mimado, infantil... incapaz de ter uma conversa ou discussão adulta... não consigo entender COMO eu me apaixonei por uma criatura tão mesquinha e insensível.

Ele tirou um cigarro amassado de dentro do maço e acendeu com um isqueiro tipo “bic”, despretensiosamente, observando-a em silêncio por alguns instantes, ainda sustentando o sorriso irônico no canto dos lábios. Tragou e soltou a fumaça para o alto, exatamente onde sabia que a corrente de ar levaria na direção dela – que não fumava.

- Terminou? – ele murmurou, arqueando uma única sobrancelha, cretino.

Ela queria gritar. Rasgaria as próprias roupas se elas não fossem tão caras. Partiria para cima dele se ele não fosse tão maior do que ela. Ele definitivamente sabia como deixá-la irritada e estava conseguindo ir além dos limites do aconselhável para a sanidade mental e saúde física de qualquer um dos dois.

Cam saiu andando, deixando-o na sala e subiu as escadas com passadas fortes e resolutas. Entrou no quarto, a cama de casal bagunçada e os lençóis espalhados, buscou embaixo dela uma mala pequena e a abriu sobre o edredom. Abriu a porta do armário e começou a buscar qualquer peça de roupa que encontrasse pela frente e jogar para cima da cama. Parou por um segundo, esperando que ele viesse atrás dela – sem sucesso. Não escutava nem mesmo os passos dele na escada, ao contrário, ouvi o som de água corrente e talheres no piso de baixo.

Jogou mais roupas por sobre a cama enquanto era tomada por soluços intensos e vergonhosos. Tentava engolir o choro e as lágrimas torrenciais que ameaçavam escapar dos seus olhos claros. Não demorou dez minutos para terminar de jogar tudo o que havia colocado na cama dentro da mala, fechá-la e caminhar escada a baixo na mesma velocidade que havia subido. Já direcionava o corpo na direção da porta quando escutou a voz dele por trás do balcão da cozinha estilo americana ao lado da escada.

- Sabe o que eu acho? Que você é covarde. Acho que você se esconde atrás de todas essas discussões, e de todas essas ofensas, pra não admitir sua própria fragilidade e culpa nas coisas que não dão certo entre nós dois... E que na primeira oportunidade, dá chilique, arruma as suas coisas e foge, ao invés de lidar com o fato de que nós somos diferentes. Pensamos diferente. Agimos diferente. E entender que eu nunca vou mudar o que eu sou e como eu sou só pra caber no seu moldezinho de príncipe encantado...

Ela não acreditava no que estava escutando. Ele contornou o balcão e apareceu atrás dela, com um copo de suco de laranja na mão e a face impassível. Ela adiantou-se na direção dele.

- Covarde?! Covarde é você que é incapaz de manifestar qualquer sentimento, qualquer demonstração de preocupação ou de carinho que não seja com você mesmo!

Ele balançou a cabeça negativamente. – É uma pena que você pense assim, mas não sou eu que estou desistindo do nosso relacionamento. É você... Você não está me vendo com uma malinha nas mãos, está? Isso não é a maior demonstração de covardia que você poderia imaginar?

Sem pensar, ela golpeou o rosto dele com a palma da mão em um tapa forte o suficiente para fazê-lo deixar o copo de suco escorregar e tombar, quebrando-se no chão. Os olhos dele se acenderam, então, pela primeira vez, e ele fixou o olhar sobre o dela, assustador, como se fosse atravessá-la a qualquer momento.

- Obrigado por provar a sua covardia agredindo alguém que você sabe que não vai revidar.

Ela avançou novamente na direção dele, visivelmente descontrolada. Dessa vez, de mãos livres, ele a agarrou pelos pulsos. Ela passou a se debater, descontrolada, e ameaçou gritar, encarando-o e tentando se desvencilhar. Ele riu baixo, ainda com o olhar fixado no dela. Ela empurrou o corpo dele contra o balcão da cozinha americana e passou a beijá-lo com volúpia. Ele retribuiu. Ela mordeu com força o lábio inferior dele, ele riu, sem soltar os pulsos dela, o lábio com um pouco de sangue, beijou-a com intensidade e girou o corpo, colocando o dela contra o balcão, pressionando-o com o seu próprio. Soltou as mãos de Cam, que foram automaticamente para a nuca de Thom, puxando seus cabelos negros, agora com alguma gentileza.

- Eu te odeio. – escutou ela dizer baixo.

- Eu te amo. – ele disse no mesmo tom.

Voltaram a se beijar.

segunda-feira, agosto 03, 2009

Álibi - A Série




Capítulo 1 - Cena 4.INT. BANHEIRO. NOITE

LUCCA está dentro do banheiro, as costas contra a porta, a cabeça erguida, os olhos cerrados.

Ele passa a mão no rosto, esfrega os olhos e caminha até a pia. Se olha no espelho. Baixa os olhos, abre a torneira e lava o rosto compulsivamente.

Apoia as mãos ao lado da pia e baixa a cabeça.

Ergue a cabeça e olha novamente para o espelho, se encarando. Passa a mão nos cabelos. Continua se encarando.

LUCCA ameaça começar a chorar.

Ele se senta na privada, os cotovelos apoiados nas pernas, a cabeça baixa e as mãos na nuca.

LUCCA então escuta a voz de ARTIE.

ARTIE
Ei mano... sai daí. Não vai
adiantar nada você ficar puto, e
depois se trancar ai dentro. Não
vai fazer a Milla ficar bem... e
nem você.

LUCCA continua em silêncio.

ARTIE
Abre aí, vamo conversar. Cê sabe
que pode contar comigo, né? Vamos
tomar um ar, sei lá... e você me
conta o que tá pegando... Que acha?

LUCCA se levanta e caminha na direção da porta.