sábado, junho 13, 2015

Skip a Heartbeat


Toda vez que Theo defrontava-se com um formulário de aplicação para um emprego, um cadastro em redes sociais, uma atualização de status de Facebook ou qualquer tipo de interação que levantava alguma questão subjetiva sobre ele, travava. “O que você está sentindo?”, “Fale sobre você”, “Enumere 5 qualidades e 5 defeitos seus”.

Certo dia, em uma daquelas festas de família tradicionais, reencontrou depois de ano sua tia favorita: Madalena. Maddy era a ovelha negra da família: sofria de uma inquietação latente, nunca parava no mesmo lugar e por isso, parecia nunca se apegar a nada e ninguém. As primeiras memórias de Theo envolviam aquela mulher estranha e um senso de admiração e identificação profundo. Ao cumprimenta-la, a tia olhou-o no fundo dos olhos e perguntou com um meio sorriso no rosto “E o coração, Theo?”.

Toda tia velha fazia a mesma pergunta, ele sabia. Mas não Maddy. Tia Maddy não era dessas. Por isso, ele estranhou, franziu o cenho e estampou uma cara de dúvida. A mulher riu, estendeu as mãos e bagunçou os cabelos negros do sobrinho. “Não tem problema. A hora que você souber a resposta, tudo vai ficar mais fácil.”

Anos depois, Theo entendeu o que ela queria dizer durante uma entrevista de emprego. A entrevistadora estampava um sorriso branco e acolhedor do qual ele não conseguia desviar o olhar. Seus cabelos negros e curtos balançavam suavemente no ritmo do antigo ventilador de teto. Ele lembrava de pouca coisa desde que entrara naquela sala. Lembrava-se de sentar, de nervosamente estalar os dedos, de gaguejar, de segurar o ar por mais tempo que podia dentro do pulmão e de achar que seu coração tinha algum problema. Quando a mulher arqueou a sobrancelha e perguntou com o mesmo sorriso no rosto “Então, me fala um pouco sobre você.”, ele não pensou. Não teve dúvida. Não travou. Ele lembrou de Tia Maddy e disparou:

“Eu tenho um problema físico sério, e ele de certa forma molda quem eu sou. Os médicos não sabem direito o que é, mas aparentemente meu coração soluça.”

Ela pareceu intrigada. Ele continuou.


“Meu coração soluça, o tempo inteiro. Toda vez que encontro alguém interessante, todas as vezes que me deparo com uma experiência nova. Toda vez que me apaixono ou que tenho meu coração partido. Toda vez que assisto ao nascer do sol na praia. Toda vez que revejo um amigo antigo. Toda vez que lembro de uma viagem. Toda vez que choro. Toda vez que algo que devia me marcar acontece, meu coração pula uma batida. Eu perco o ritmo, devaneio, e a oportunidade passa. As vezes essa batida dura segundos, as vezes dura anos. É como um hiato temporário do ser. Eu me ausento de mim mesmo, e pronto, a vida passou. E eu não sei como curar isso, mas agora eu sei que isso faz parte de mim. E agora eu posso tomar alguma atitude com relação a isso. Então, porque não esquecemos essa entrevista, e não vamos tomar um café? Assim quem sabe eu paro de falar de mim, e você pode me contar alguma coisa sobre você.”