terça-feira, julho 22, 2008

No meu banheiro não entra merda!

Estava discutindo as peripécias literárias de alguns autores com o amigo escritor, cartunista, trapezista, modelo e atriz Leandro Leocadio, quando comentei que o livro dele (de poesias, “Os Desmandamentos”, vide links para mais informações) estava no meu banheiro.

Ele não sabia bem se isso era bom ou ruim. Digo então - é bom! Explico que no meu banheiro estão somente os livros e revistas que eu gosto de ler, já que não tenho tempo para ler nada fora do trono, e que o fato do livro dele estar lá dentro quer dizer que eu realmente li, leio, e eventualmente deixo respingar água da torneira sobre.

Pior seria se estivesse na estante. Livros de estante são exatamente isso – livros de estante, desculpem-me a obviedade. E pra que eles servem? Acumular poeira, cupim, virar coleção ou servir pra exibir sua intelectualidade á um eventual convidado. Também podem funcionar de apoio de mesa/cadeira, Santo Kotler que me perdoe, mas o Administração Em Marketing é um excelente nivelador de mesa de bilhar.

No meu banheiro só quem tem direito a fazer merda sou eu, tomo todo o cuidado do mundo para não sobrecarregá-lo com merdas externas (como bem apontado pelo próprio Leocadio). O último livro ruim que passou por lá causou um cano entupido, que eventualmente se abriu exatamente sobre a capa de material tosco do próprio, inutilizando-o por toda a vida.

O livro do Leocadio não corre esse risco. Correria, talvez se custasse mais do que realmente custa, mas pelo preço módico de uma refeição na Temakeria acaba sendo uma permuta mais do que justa e uma das minhas melhores aquisições nos últimos anos, ao lado do CD especial dos anos 80 do Biquíni Cavadão.

Brincadeiras à parte, acessem ali do lado, vale a pena. Se até eu e o Moacir Scliar gostamos...

sexta-feira, julho 11, 2008

Casamento!


Recentemente meus avós completaram 50 anos de casamento, um número assustador. Como um cara complicado e que eventualmente acaba enjoando das coisas e das pessoas acaba sendo muito difícil conceber a possibilidade de ficar 50 anos ao lado de um mesmo alguém, porém, não parece ser impossível.

O segredo não é tão secreto assim. Reconheci-o largado tranquilamente durante um bate papo sem maiores pretensões, contido em uma frase da minha avó: “Você só tem que se preocupar em casar com alguém que possa se tornar o seu melhor amigo, porque no final é isso que o casamento se torna – uma grande amizade”. Me fez pensar um pouquinho. Não é nada que eu já não saiba, mas de alguma forma fez com que eu lembrasse um pouquinho do antigo Gabriel – um pouco mais romântico, um pouco mais crédulo – e de tudo aquilo que ele acreditava.

Houve uma época em que eu acreditava plenamente que o amor era algo que se construía com o tempo, que crescia conforme os vínculos eram criados – muito além da paixão de um relacionamento curto -, e que por mais que o passar do tempo pudesse apagar a paixão “posto que é chama”, e que pudesse modificar o amor, ele se desenvolveria em algo sublime – um respeito mútuo pelo que o parceiro representa, o conceito puro por detrás da expressão francesa “adore”. Não consigo enxergar um lugar, hoje, que isso se aplique mais do que em uma “grande amizade” – o respeito mútuo, os interesses em comum, os vínculos que se fortalecem, as escolhas e a liberdade de ser autêntico e sincero.

Porém, não consigo ver as mesmas questões dentro dos relacionamentos atuais – vejo pessoas com medo da entrega e de criar vínculos (e perder, com isso, uma liberdade ilusória), muitas vezes incapazes de deixar o ego de lado pelo outro e de mostrar sua verdadeira faceta – com lindos defeitos assim como méritos – por achar que isso é um demérito, ou que pode afastar o outro alguém. Vejo pessoas que não conseguem estabelecer um compromisso, respeitar o próximo, entre tantas outras problemáticas. Talvez por isso é que existam, hoje, muito mais grandes amizades do que grandes amores, e seja também o motivo dessas amizades durem bem mais tempo que nossos romances.

Eu nunca dei apoio à instituição “casamento”. Casaria, é claro, fosse esse o desejo da pessoa que eu escolhi viver junto para o resto da minha vida, mas é somente nisso que eu acredito – que, hora ou outra, vai existir alguém que eu escolherei viver junto para o resto da minha vida. E eu duvido muito que essa pessoa seja alguém que eu encontrei perdido por ai, que tive um bom momento com, sem envolvimento pessoal, pura física, e depois segui meu rumo. É muito mais possível, e provável, que se desenvolva de uma grande amizade – do jeito que eu acreditava antigamente, mais romântico e mais ingênuo que era. Tudo muito naturalmente, é claro – é muito remota a possibilidade de que a manifestação de um sentimento esteja vinculada ao fato de você tentar e se esforçar muito para que ela aconteça (aprendi isso à duras penas, embora hoje conheça outras formas de deixar as coisas acontecerem e facilitar a ida e vinda de sentimentos), é algo instintivo – surge quando você não espera, o que o torna muito mais interessante – desde que você esteja disposto à.

Isso não quer dizer, no entanto, que eu ou qualquer pessoa devamos deixar de aproveitar todo o resto que o amor, a paixão e o sexo podem prover. Sempre fui um homem de vários “amores da minha vida”, que construiu grandes castelos e com o tempo superou suas ruínas. Quer dizer que simplesmente não devemos fechar as portas e desacreditar em belas parcerias, porque na hora certa elas chegarão.