quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Eu sou só um, mas não sou um deles...

A referência inicial para esse post, com mais de 10 dias de atraso, é a música dos Paralamas do Sucesso, chamada Flores e Espinhos. Tem uma estrofe que diz assim: Até sermos engolidos / Pela vida sem brilho / Por nossos inimigos / Na rotina comum, e depois E mesmo que pareça tolo / e sem sentido / Eu ainda brigo por sonhos. Na verdade, essa é só uma das referências, mas a principal. Todo o CD na qual ela se encontra de alguma forma me inspirou a escrever hoje.

Eu sou só um, mas não sou um deles. Morro de medo de me tornar um deles. Uma dessas pessoas desinteressantes que cumprem uma rotina incessante de pequenos afazeres inóspitos, de rosto fechado, por todo o percurso da sua existência. Posso ser vagabundo e estar justificando minha acomodação com uma desculpa esfarrapada, mas eu simplesmente não consigo me observar vivendo uma vida normal. Trabalho, faculdade, casa, trabalho, faculdade, casa... Esperando uma sexta feira sempre distante chegar pra que eu possa realmente fazer o que eu quero, mesmo que isso seja dormir até às 8h da noite do outro dia.

Gosto da ilusão de liberdade que eu tenho, por mais passageira que seja. Eu posso sair às 3hs da manhã pra tomar um sorvete no Franz Café com meus amigos sem me sentir mal comigo mesmo. Posso faltar na faculdade com uma desculpa furada para pegar um cineminha ou assistir o jogo do Brasil com a galera. Posso ir no bar de dia de semana, dormir tarde, acordar tarde, fazer o que eu quiser dos meus dias vazios, contanto que eu, óbvio, mantenha o necessário de presença na minha única responsabilidade atual, que é a faculdade. Mas só o necessário. E tendo isso em mente, eu posso decidir quais dias são os necessários ou não e planejar meus horários. Mesmo que seja só pra perder horas e horas fazendo nada.

Eu me recuso veementemente a acordar cedo para passear com o cachorro se eu não quiser, depois ir pra academia cumprir uma rotina de musculação, ir pro trabalho cumprir metas e depois ir pra faculdade cumprir horários e voltar pra casa de obrigação cumprida. Me recuso. Eu me recuso ser dominado pelo tempo. Que ele passa, eu sei, tenho plena consciência. E ele também não volta. E é por isso que eu tenho o direito constitucional de fazer o que eu quiser com ele. Aproveitar ele do meu jeito. Eu me recuso a chegar frustrado aos 50 anos, se eu chegar, por não ter tido tempo de fazer as coisas que eu quis.

É mais ou menos por isso que quando descrevi uns posts atrás sobre o meu par perfeito existia dentro dele a característica espontaneidade. Não tenho a pretensão de dizer que tenho total domínio sobre os meus sentimentos, mas eu não quero, mesmo, me apaixonar, casar e ter filhos com uma mulher que esteja satisfeita. Satisfeita com a sua vida, satisfeita com o mundo, acomodada. Eu gosto de gente incomodada. Gente perturbada. Gente questionadora, incisiva. Gente que se recuse, como eu, a ser só mais alguém, como eles. Alguém que se submeta ao poder da rotina e do tempo e que se acostume com ele. Gente que se acostume com sua impotência, e que desista. Eu não quero desistir. É muito mais fácil ser só eu, se tiver alguém pra me apoiar. Ser diferente sozinho é complicado de mais pra qualquer pessoa.

Não importa como você gasta o seu tempo. O que importa é que ele é seu e você deve usá-lo pra se sentir bem e não para cumprir uma ordem social pré-imposta. Eu entendo perfeitamente que no momento sou privilegiado por poder gastar o meu como eu quiser, que nem todos tem os pais que eu tenho, ou a formação que eu tive, ou as facilidades e/ou dificuldades que eu encontrei e encontro, mas mesmo quando eu não puder, eu vou lutar sempre pra não deixar que essa merda toda me domine. Eu quero poder viver do meu jeito. Não quero planejar a vida para viver quando eu tiver 50 anos. Talvez por isso eu valorize tanto os gestos e iniciativas que quebram um pouco com essa rotina, que me atraiam para algo diferente, mesmo que sejam raras. E talvez por isso eu me canse e me entedie de tudo tão facilmente. Vai saber.

Eu sou só, mas não sou um deles. Espero, e desejo muito, que você também não seja.

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PS:

Vou experimentar esse negócio novo do blogger, de marcadores. Não sei como funciona, então não estranhem se tiver algo errado na hora de lerem a postagem.

6 comentários:

Anônimo disse...

Eu me recuso veementemente a acordar cedo para passear com o cachorro se eu não quiser, depois ir pra academia cumprir uma rotina de musculação, ir pro trabalho cumprir metas e depois ir pra faculdade cumprir horários e voltar pra casa de obrigação cumprida.


puts. isso me soou TÃO familiar, cara. mas não comigo (pois fui para a faculdade somente 2 dias desde que as aulas começaram =~), e sim com as pessoas ao meu redor.

elas são tão chatas...tão...repetitivas.

me tira daqui, por favor?
obrigada.

Renata Rolim disse...

Mto bom! Me lembrou uma frase, acho q do Fernando Pessoa, que dizia algo assim, "Se alguém quiser fazer a minha biografia vai ser muito facil, é só colocar o dia que eu nasci e o dia que eu morri, porque todos os outros dias pertencem a mim."

Anônimo disse...

Ah velho =/
Fiquei meio que decepcionado quando notei que acabei dentro do conceito do 'deles'.

Acho que vou virar emo.

Anônimo disse...

Bielzinho,
Que esse nosso tempo livre de cobranças e morais alheias sejam todos muito recheados de risadas e cirandas!
"Todos os dias quando acordo não tenho mais o tempo que passou,mas tenho muito tempo.Temos todo o tempo do mundo"
Hehehe,não podia deixar de citar,não é?;o)

Anônimo disse...

bielzinhooo. UAHEAUEHAEAUEHAU.

sorry, mas não resisti. =X

Liene disse...

Achei que só eu não entendesse isso de marcadores. Que bom.

Outro dia, no Fran's, você disse algo dando a entender que acredita que quando formos velhos, bem mais velhos, ainda seremos amigos. E quando eu insinuei que isso não aconteceria, você demonstrou uma certa decepção, como se quisesse a amizade minha ou do grupo por tempos à frente ainda.
Não foi a primeira vez que eu reparei que de alguma forma, acho que escapamos do seu tédio e não te cansamos - ainda. Talvez não sejamos o amor da sua vida, mas sim os amigos espontâneos, ainda em formação da espontaneidade, afinal, eu não falto amanhã pra jogar war hoje à noite.
Ou talvez eu esteja dando crédito demais ao nosso grupo. Gosto de pensar que não. Gosto de pensar que não somos como eles.

(Ficou com cara de testimonial? XP)