quarta-feira, janeiro 10, 2007

O charme da imperfeição e toda essa coisa chata...

Essa coisa de perfeição é furada.

Primeiro, explico como nasceu a discussão. São 7:54 da manhã e eu ainda não dormi, estava deitado tentando quando comecei a assistir um filme no Cinemax Prime, mais uma daquelas comédias românticas em que o mocinho só percebe que a garota perfeita esteve sempre do lado dele depois de a menina popular trocar o nome dele enquanto davam uns pegas dentro do banheiro. Pensei comigo, puxa vida... eu também quero alguém assim (óbvio, se for igual a Jennifer Love Hewitt, a garota perfeita do filme, ajuda bastante), como não podia deixar de ser, instantâneamente comecei a relembrar meus relacionamentos passados. Para me aprofundar, acabei fazendo como toda pessoa que quer ter certeza das coisas nos dias de hoje, acessei o orkut. Deparei-me então com três perguntas na aba personal. Elas eram: ideal match, my idea of a perfect date, e from my past relationships I learned.

Fiquei confuso. De alguma forma as duas primeiras respostas entravam absurdamente em contradição com a resposta da última. Decidi que o melhor era tentar uma por uma, já que óbviamente tinha alguma coisa errada – comigo, pelo menos. Primeiro, como seria meu par perfeito? Bom, isso eu sei (ou deveria saber) responder.

Meu par perfeito é alguém inteligente, antes de tudo. Alguém com quem eu consiga conversar por horas e horas sem me sentir entediado, que seja curioso e tenha vontade de aprender coisas novas e traze-las para dentro do relacionamento, novos assuntos, novos interesses, novos hobbies. Meu par perfeito é alguém que saiba demonstrar carinho, não de forma melosa, mas de forma surpreendente. É aquela pessoa que às cinco horas da manhã depois de três dias sem se falar manda um sms dizendo te amo, seu escroto!, ou qualquer coisa parecida, daquele tipo que te coloca um sorriso no rosto quando você menos espera e te faz pensar putz, que doidera!. Ah, meu par perfeito, além de interessante e surpreendente também tem a cara da Scarlett Johanson.

Então eu olho pra minha descrição e penso, bom, olha lá... meu par perfeito não é muito diferente do dos outros não, afinal, quem não quer alguém bonito, interessante e que te surpreenda?

Daí tem o negócio do encontro perfeito. No meu profile tem um encontro perfeito enorme. Sintetizando a idéia, na minha cabeça os meus encontros perfeitos sempre acontecem em locais com número grande de pessoas. Festas, encontros, reuniões, baladas. E então, como num passe de mágica, as duas pessoas se conhecem e é como se tudo em volta desaparecesse. Tão clichê né? Já vi isso em trocentos lugares diferentes, toda comédia romântica tem alguma cena dessas. Mas como o meu encontro perfeito pode ser tão clichézão assim, se ele é meu?

Por último, surge a pergunta chave da sabedoria suprema do universo, o que você aprendeu com suas relações anteriores, e a resposta para as questões fundamentais da vida, do universo e de tudo mais (referência externa) é simples – aprendi com meus relacionamentos anteriores que não existe perfeição. Nada é perfeito. Nem os flocos de neve. Não existe par perfeito, ou encontro perfeito, aliás, se existisse, seria um saco. A perfeição é chata e sem graça. Faz um tempo já que aprendi isso, faz um tempo já que eu venho valorizando mais os tiques comportamentais das pessoas com quem me envolvo do que qualquer outra coisa. O que faz dos meus amigos, das pessoas com quem eu me importo e dos meus amores pessoas especiais são seus defeitos. Enquanto alguém perfeito é chato, uma pessoa balanceada entre características boas, intrigantes, interessantes e pequenos defeitos que marcam uma personalidade é charmosa, é sexy.

A questão então, eu entendi depois de uma pausa breve, não é tanto uma pessoa perfeita, ou um encontro perfeito, ou uma situação perfeita. E sim tudo isso dentro de um contexto. Enquanto perfeição pura e simples não existe, é perfeitamente possível que dentro de um contexto algo se encaixe, algo faça aquilo parecer completo mesmo possuindo uma série de vícios tanto quanto virtudes. Algo como uma pessoa perfeita pra você hoje, um encontro perfeito naquele dia, uma situação perfeita para aquele momento da sua vida. Depois de um tempo, pode ser que aquilo tudo mude. Aqui entra mais ou menos o que eu disse no post anterior – a natureza volátil, e a suscetibilidade às influências externas fazem com que estejamos sempre em mudança, e essas mudanças afetam nossos conceitos sobre tudo, principalmente sobre o gosto, o que é diretamente relacionado a nossa imagem de perfeição. Eu provavelmente possuía outro estereótipo de perfeição antes de conhecer a Scarlett Johanson, eu sempre fui um sucker por ruivas, e não loiras, por exemplo.

Na real, eu sei que ficou confuso pacas. Eu escrevo sempre pensando em deixar de uma forma didática o suficiente para quem ler entender, mas hoje, eu não me preocupei com isso. Escrevi da forma com que as coisas me vieram. Essa coisa toda de amor, perfeição e sexo já são por elas mesmas complexas de mais, anyway. Boto boa parte da culpa disso na televisão e na literatura. Não fosse uma mistificação exacerbada de certos aspectos, como o romantismo ou o ato sexual, não existiria um movimento tão forte contra, o que leva a uma vulgarização, criando uma dicotomia social composta por extremos contrastantes que jogam você no meio, te mexem como uma capirinha e te deixam sem saber se é melhor sair pelo canudo ou dar com a testa no fundo do copo.

Ta, ta, agora eu quis falar bonito mesmo não fazendo sentido nenhum. Além do mais, esse já é outro assunto.

Essa coisa de perfeição é furada, mas bem que é gostoso se sentir perfeito para alguém.

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Pós-escritos:

O filme que eu vi chama “Trojan War” e a referência externa é para “Guia dos Mochileiros da Galáxia.

Tecnicamente, sou um jovem liberto até dia 21. Minha família inteira viajou. No entanto, eu não tenho a mínima idéia do que fazer com meu tempo livre. Minha mãe até me deu dinheiro pra eu ir viajar, ao que eu recusei a idéia, mas obviamente mantive o dinheiro. Me sinto tão escroto em não ter interesse pelas coisas como eu gostaria de ter.

Aliás, tava conversando com o Rafa (Rofellos) hoje e falei sobre o comentário dele aqui no post sobre tédio. Eu sinto uma inveja tremenda de quem consegue encontrar valor nas pequenas coisas da vida, não pequenas, mas nas coisas mais simples. Me refiro não só a assistir a chuva cair, como ele falou, mas a todas as outras, tipo caminhar no parque, ficar deitado assistindo TV com a família, essas coisas. Eu simplesmente não consigo agregar valor a essas situações, eu tento, juro.

Antigamente, quando eu era mais borderline e escrevia com muito mais freqüência (escrever – ouvindo musica - é uma das únicas coisas que me faz sentir entretido por um período de tempo considerável) algumas pessoas costumavam comentar que eu era uma alma atormentada. Começo a considerar a possibilidade, se é que eu acredito em alma, ou em tormento. A natureza exageradamente inquisitiva pode ser considerada um tormento, não?

8 comentários:

Anônimo disse...

"Algo como uma pessoa perfeita pra você hoje, um encontro perfeito naquele dia, uma situação perfeita para aquele momento da sua vida."

Eu diria que o sentido de perfeição a que se atribui hoje em dia, está relacionado ao conjunto de coisas boas das quais você não esta costumado a ter.
Para mim, essa versão de amor, representada pelos filmes, é tudo aquilo que o homem sempre quis ter, nunca conseguiu e sonhou com isso. Precisava de alguma forma para retratar isso, passar essa idéia para que mais homens pudesse compartilhar do mesmo constrangimento. :/ (Maldito seja, aproveitando o gancho.)
E de uma forma acabou materializando "Perfeição".

Anônimo disse...

Também já parei para pensar autas vezes em perfeição! As vezes me limito por achar que se eu melhorar as coisas vao ficar mais fazeis e nao teriam graça! E o negocio do tedio .. é dificil ver felicidade nas coisas mais simples da vida ..
E eu tb acho que eu nao sou uma das pessoas q consegue fazer isso!!

Portanto .. é isso ..
Parabens pelo teu blog ;)

Anônimo disse...

COMENTARIO acima foi meu
eaiuheiuahiueaui
;xxx
eu nao apertei enter sem querer e foi ;xx
abração

Anônimo disse...

Eu ia fazer um comentário sobre a perfeição, mas me chamou atenção o final do seu post, quando você diz que não consegue agregar valor as coisas simples da vida, do nosso cotidiano, enfim... Na minha opinião, isso acontece porque você sempre foi do tipo de pessoa que procura por respostas maiores, por coisas das quais nenhum outro ser humano foi capaz de responder ou compreender. Simplesmente prefere apreciar a beleza de uma grandiosidade geniosa, do que em coisas aparentemente supérfolas, das quais todo o restante já conhece. Se for começar a reparar, isso fica claro nas suas idéias, que sempre estão em busca de algo mais além, que sempre procuram dar prioridade ao magistral.
Ainda assim, me parece que mesmo os gênios, que tentam incansávelmente desvendar os mistérios da natureza, acabam um dia percebendo que tudo começa na compreensão da simplicidade de cada ato.

Posso também estar apenas delirando, afinal de contas é sempre mais fácil querer descrever algo ou alguém, vendo a situação pelo lado de fora. :p

Beijinhos Gabs. :*


ps: Gostei bastante desse seu blog, estou sempre lendo, e só agora tomei vergonha na cara para comentar. XD

Anônimo disse...

Uia chei dos anônimu :x

Renata Rolim disse...

No meio de todo o tédio que me cerca e me afoga resolvi bisbilhotar seu orkut, afinal, se tá lá depois de tanto tempo sem nos falarmos... adorei o about me, nao resisto ao conjunto de frases bem escritas e cheias de referencias exteriores. Alguns cliques depois, vim parar aqui no blog. Li tudo, comecei pelo começo e fui até o final.
Todas as clicadas aleatorias e leituras ao som de radiohead me trouxeram aqui. Termino de ler seus posts me sentindo a little blue, com varias duvidas quanto ao meu auto conhecimento, inquieta por um texto de tal qualidade em meu repertório, e com desejo de uma mesa de texas hold´em (mesmo nao sabendo jogar direito), um copo de whisky on the rocks e um cigarro - não fumo, mas a idéia de soltar circulos de fumaça enquanto parto pra um all in me soa irresistivelmente atraente.
Esse comentario ja esta virando um post, vou parar por aqui. Só queria dizer que adorei seus textos, queria saber escrever bem assim - que droga! já estou falando de mim de novo! - deixa pra lá...

Anônimo disse...

vc me autoriza salvar esse post para postar partezinhas dele no meu flog?

tipo, de verdade, mesmo.

Anônimo disse...

eu tava navegando na net e achei seu blog esse texto em particular chamou minha atenção. Parabens!!
me identifiquei muito com o que vc escreveu principalmente quando vc fala como é o seu par perfeito e seu encontro ideal... é meu clichê,mas...

beijos!