sexta-feira, dezembro 22, 2006

Desejo, Tédio e os Sentimentos Maiores.

Um sentimento ou emoção só pode ser substituído ou superado por outro maior.

E eu faço essa citação tão bacana de Baruch de Spinoza só pra justificar o grau profundo de tédio ao qual me afundo. Não sei se tédio é a palavra certa para o que eu sinto. Ontem uma amiga me disse Mas você tá sempre entediado!, bom, os gringos tem uma expressão chamada Ennui, que é o tédio contínuo por um amplo período de tempo, que raramente é superado. Talvez eu sofra de um Ennui permanente. É como se os raros momentos de felicidade viessem somente pra dar um motivozinho pelo qual continuar na estrada. E quem disse pra vocês que o contrário de felicidade é tristeza mentiu, o contrário da felicidade é o tédio.

Arthur Schopenhauer dizia que a vida é um pêndulo que oscila entre o sofrimento e o tédio. Por sofrimento, entenda desejo. O que ele quer dizer é que num momento sofremos intensamente por algo que não possuímos, algo que desejamos mais do que qualquer outra coisa, e quando chega agora, perto do natal, muita gente consegue entender o que eu quero dizer. Tem sempre aquele presente bacana que você gostaria de ganhar, que te deixaria mais feliz do que qualquer outra coisa no mundo, como uma criança de cinco anos esperando ansiosamente pela surpresa do Papai Noel. Então, você sofre profundamente esperando aquele dia, aquele momento, aquele segundo chegar, o momento que você vai abrir seu presente e se deliciar imensamente. Daí então se passa algum tempo, e aquele brinquedo não tem mais tanta graça, não tem mais tanto mistério, não tem mais nada. Tudo o que te resta é o tédio e a esperança que você encontre mais alguma coisa para sofrer por.

Como filosofia é algo complicado eu não sei dizer se isso vale tanto pras outras pessoas quanto para mim. Minha vida oscila claramente entre o desejo/sofrimento e o tédio absoluto – com o acréscimo de poder ser superado e substituído em alguns momentos por um desejo e sofrimento ainda maior, ou então um estado de felicidade passageira (felicidade, que eu considero a emoção ou sentimento mais forte de todos – excluso o amor “real”, seja lá o que for). Eu costumo comentar que me apaixono pelas coisas com muita facilidade, não é muito difícil me conquistar – não só sentimentalmente. Um jogo, um filme, uma música, uma pessoa, não faz diferença. Eu me apaixono intensamente e me vicio naquilo por um período indefinido de tempo, mas o vício é tão extremo que a amizade gasta, a música enjoa, o filme cansa, o jogo perde a graça.

Não é muito diferente quando se trata dos meus relacionamentos amorosos. Eu acho que todas as namoradas que eu já tive começaram como algo platônico. Eu sou um cara platônico. Eu sempre me apaixono por pessoas que possuem algum tipo de impedimento para que o relacionamento dê certo – eu acho que eu prefiro ficar no desejo de um relacionamento que nunca vai ser, do que morrer no tédio pós-três meses em que tudo perde a magia. Claro, vez ou outra as coisas acabavam acontecendo, quem vai entender? Mas ainda assim, existiam fatores que incrementavam o relacionamento de alguma forma, fosse a adrenalina de faltar na aula pra se encontrar escondido dos pais, fosse saber que em poucos meses não poderíamos nos ver nunca mais porque um de nós moraria em outro país, ou até mesmo a distância de estados, entre tantos outros. Não fossem esses detalhes, não sei se meus relacionamentos que vingaram (rolinhos de mês não entram nessa categoria) teriam durado tanto quanto duraram. Eu provavelmente teria me entediado muito mais rápido.

Essas coisas ficam muito claras pra mim no dia a dia. De períodos em períodos existem não mais que seis pessoas com a qual eu falo no msn. Realmente falo, do tipo, puxo assunto (claro, estão excluídos os verdadeiros amigos de longas datas, em alguns casos). São pessoas que eu faço isso o tempo todo, todo dia, e me incomoda o fato de não conversarmos por um período amplo de tempo. Lógico, aqueles com quem eu falo não sabem que são tão restritos assim, e conversam normalmente. Se eles tivessem a mesma obsessão que eu, provavelmente as conversas terminariam em uma semana. Mas depois de um tempo, a coisa começa a murchar, eu me entedio com as pessoas, é como se todos os assuntos do mundo acabassem, é como se ela não me acrescentasse mais nada. Então, surgem novas cinco pessoas pelas quais eu me apaixono perdidamente, e as outras ficam para trás. Vez ou outra, elas retornam no futuro como nova adição, e me perguntam nossa, porque agente parou de se falar?, e eu digo não sei!, pra não dizer enjoei!, e fica por isso mesmo.

Enfim, não posso dizer que estou descontente com minhas paixões atualmente. Continuo amando platônicamente e sendo obsessivo com minhas amizades, mas atualmente elas tem durado um tempo maior do que o costumeiro. Ainda assim não posso dizer que não estou entediado – mas misteriosamente, não é com elas. Estou profundamente entediado comigo mesmo. É o fato de nada nunca ser suficiente quem e irrita. É o sempre querer mais - como citado no cabeçalho do Blog do Júnior, no post de hoje, que complementa meu post anterior sobre os homens e seus sentimentos (pra entrar é só clicar ali do lado no Efekt Blogspot e ler, faz bem e não engorda) – esse sempre querer mais é o que me aflige. Eu sinto como se estivesse sempre incompleto, um quebra cabeças que a Grow esqueceu de mandar duas pedrinhas (referências externas). E talvez seja isso que me entedie tanto. Não conseguir nunca completar a brincadeira, botar num quadro e ficar olhando depois e achando lindo – lembrando o quanto deu trabalho montar, mas valeu a pena.

Um sentimento ou emoção só pode ser substituído ou superado por outro maior – e eu ainda tenho alguma esperança de encontrar algo maior que esse tédio. Que André Comte-Sponville me perdoe por isso.

9 comentários:

Anônimo disse...

Bleh ;/
Segunda vez essa semana que eu me sinto 'escrito' por alguém.
Terça mesmo me perdi lendo um outro blog e reparando que o momento da autora não era muito diferente do meu.
E agora, parte do que vc escreveu, me define. Como já te disse, mantendo as devidas proporções, me acho parecido com você.

Tédio pra mim têm sido uma doença sem cura... =/

Anônimo disse...

Do tédio...
...
...
...
...
ao tédio, existe um espaço onde você vive. Longo ou pequeno você vive.
Ou pelo menos acha que isso acontece assim.
Mas vamos definir o tédio. O que seria o tédio?
Falta de opções? Ter esgotado todas as alternativas de entretenimento, ou talvez o correto seria dizer que esgotou se a satisfação marginal das coisas que você gosta ou prefere fazer.
Bem esse pequeno conceito de satisfação marginal é uma idéia que eu furtivamente utilizo uma das teorias do economista Alfred Marshall, que diz que, numa simpática analogia entre a vida e a economia, as pessoas consomem o que gostam até que aquilo não lhes proporcione mais nenhum prazer dada a adição de uma unidade, e quando isso ocorre, quando a adição de mais um item já não adiciona em nada a quem o consumiu está dada sua utilidade total, troca-se o item ATÉ QUE seu orçamento permita.
Exemplo:
Adendo, este exemplo não vale para o Sr. Murilo Rangel Bertho de Souza (Os sobrenomes necessariamente não são nesta ordem) e nem para o caso do produto álcool no Brasil.
Eu estou jogando bola, ao final do jogo uma coca-cola me traria uma satisfação marginal de 100%, já uma segunda coca-cola não me trará a mesma satisfação da primeira e, diga-se de passagem, será menor. E assim vai indo para terceira, quarta e etc. Até que chega um momento onde comprar mais uma coca-cola não me traria satisfação nenhuma, então troco meu item, vou comer chocolates, como eu sou um membro do que eu e o meu amigo Álvaro chamamos de “Novos Pobres”, só como chocolate branco com gotinhas de chocolate importado que custa uma fortuna. A mesma história da coca, vai um, dois, três até que o meu orçamento estoura. Está implicada a situação de tédio econômico.
Deseconomizando.
Os produtos que você consome são na verdade tudo o que você pode fazer, e compõe sua “cesta de atividades” independentemente do que você fizer ou na ordem que você fizer haverá um tempo em que estas atividades não lhe trará mais nenhuma adição significativa ao seu cotidiano então o que você faz? Troca. E continua a esgotar suas opções... até que uma hora elas acabam, assim como o meu orçamento.

E então o que fazer? Bem no caso primeiro no que se refere à economia as soluções são simples. Ou você começa a procurar um novo emprego que te remunere melhor ou então procura itens mais baratos que possibilitem aumentar sua cesta com a mesma quantia de dinheiro.
No caso da vida uma solução é simples e a outra vem lá das profundezas do CAFIL (Centro Acadêmico de Filosofia da PUC).
A solução simples é fazer da sua vida assim como se pode fazer com o orçamento, aumentar. ~Em verdade vos digo que ante a isto deves suprimir a preguiça e o preconceito, por isso já adianto de ante mão que o que eu vou escrever não tem NADA de bom e as conclusões são deprimentes.~
Interesse-se por outras coisas. Procure outros hobbies, mas não apenas para matar o tédio, faça isso antes que ele venha. Procure algo diferente que necessariamente não acabe dependendo de outras pessoas. Desenhe, pinte, assista àquele programa que você sempre teve curiosidade, jogue jogos que demandem tempo. Sim City, Civilization e etc...
Talvez essas atividades podem vir a se tornar tediosas e você provavelmente sentira uma enorme raiva de mim, porém antes disso tome consciência que se isso ocorreu é porque essas mesmas atividades já se tornaram algo da sua ROTINA, e antes que perceba você poderá ser tomado por uma outra vontade que antes era considerada “um porre” como por exemplo jogar vídeo game, ou ler, retomar aquele projeto, um jogo online, combinar um futebol ou qualquer outra atividade que antes era considerada a morte e entre executa-la e não fazer nada a opção era sempre o ócio. OU SEJA, PURA PREGUIÇA. Logo se o seu mal é esse não espere uma solução, contrate um palhaço ou coisa que o valha para te distrair enquanto você mofa na cadeira.
Bem isso é relativamente fácil, soluções paupáveis que não demandam muitos sacrifícios e nem custos demasiados.
Agora vem a solução menos agradável.
O que é um fim de tarde para você? 18:00 hrs, ontem (sexta-feira), por exemplo, chovia.
E daí? Você deve estar se perguntando. E daí que eu parei na minha janela e me ative por mais de 10 minutos a observar a chuva cair.
“Muito bem, você é um retardado que gasta o seu tempo vendo água cair do céu!”

Talvez.

Mas para mim o que eu fiz ontem teve um valor inestimável. Eu me senti bem observando a chuva.
A questão na verdade não é o que você faz; ou é? Não sei ao certo, mas o que eu sei sem sombra de dúvida é que o meio, o espaço onde você atua faz toda diferença.
Eu nunca entendia isso direito.
Aliás, hoje a vida me espanca a cada dia desde a hora que o relógio desperta até a hora em que eu vou dormir. Mas essa é outra história.
O que eu quero dizer é que a relatividade filosófica do tempo é o que difere a minha opinião da sua.
Um mês para mim não é nada, ou é tudo. Dependendo se ele for um mês de férias, não é nada quando acaba, mas é tudo quando começa.
Uma noite pra mim, não só pra mim, mas para qualquer outra pessoa tem valores diferentes, pois elas estão inseridas em um contexto de vida que por não fazerem apenas aquilo que gostam apenas o fato de não fazer nada no sábado, mesmo não estando cansadas pode ser tudo, enquanto para outras é a morte.

Não me interprete mal, não sou ninguém para dizer a você como deve levar a sua vida, não sou seu pai nem sua mãe, aliás, mal me coloco no lugar de conselheiro, pois você é muito mais meu psicólogo do que eu seu.
Acredito que vou ganhar alguns pontos negativos com algumas pessoas que se ativerem a ler todo este besteirol.
Mas sei lá, reclamar de tédio olhando pra cima, não resolve.
Pelo menos o seu ócio é produtivo e escreve muito bem.


Talvez eu releia isso um dia e queira editar tudo o que escrevi, mas então estaria me contradizendo e sendo infiel com tudo o que eu penso.

Desde já, desculpe me.

Anônimo disse...

Ow, vai se fuder.. olha o tamanho disso tudo.
hauhauha

Anônimo disse...

Po, gabs me amarrei nos textos, bacana msm!!
Agora me diz uma coisa, vc e o banana estão competindo para quem escreve mais?
pqp, hein!!

[]s

Anônimo disse...

Só eu leio tudo e não reclamo?

A culpa é da pessoa entediada. Eu não me lembro de ter reclamado de tédio, por exemplo.
Entendo o que é ser entretido pela chuva. Acho que o entretenimento simples, principalmente a diversão simples e barata, depende da boa vontade de cada um.
Pegue o exemplo Liene e Francine brincando com as pessoinhas de dedos. Se nos deixarem, a coisa toda deve durar uns quinze, vinte minutos. Parece imbecil, mas nos diverte de verdade. E acontece sozinho, de repente a vida na mão de uma surge, chamando a vida na mão da outra e pronto, estamos entretidas e livres do tédio, não só durante a brincadeira, mas por um período depois, que acredito que acontece com qualquer entretenimento. Você fica anestesiado por ele por um tempinho e livre do tédio.

Fugir do tédio não precisa de planejamento, não precisa de busca espiritual pelo seu próximo desejo ou sofrimento. Só precisa de disposição. Pra facilitar a vida, o mundo já te deu amigos que pensam com e por você, te dando mais chances de não morrer no tédio. Mas o tédio é a escolha fácil, é a escolha dos fracos. Se a preguiça prevalece, o lance é contratar um palhaço mesmo. Não que eu vá contratar um em qualquer hipótese.

Gabriel Cal disse...

Ela foi mais rude que você, Rafa. :X HAUAEHEAUAE.

Anônimo disse...

Ui... Foi mal. =X

Anônimo disse...

Eh, Gabs realmente tá mandando bem. Somos de certa forma parecidos, embora, claro, eu seja muito mais bonito XD.

Se entregar a seus pequenos vícios é sempre um prazer que nem mesmo um belo beck pode me dar. As pessoas enjoam, os assuntos enjoam. No fim, todos nós somos superficiais. Alguns acabam por cavar o conteúdo das pessoas mais rapidamente que as outras, terminando por descartá-las como cascas vazias ou apenas colocar na reciclagem esperando que os assuntos se renovem, como vc disse. Mas caso a reciclagem não aconteça muitas vezes porque se importar? Pessoas vem e vão. Interesses tal qual.

Esses dias tenho passado por mais uma dessas crises que vc descreveu. Mas forte do que o normal... E como depressivo-crônica que sou eu sempre tenho medo dessas situações. Sorte que o horizonte, tal qual no extremo norte, me é aberto por um curto período do ano. No qual me refestelo sob o sol sempre presente e renovo o ciclo, para no fim do ano cair nas trevas novamente.

Sei lá... Ficou piegas? SIM! Mas escrever isso e dar vazão a algumas coisas pode ser melhor do que morrer de inanição nessa porcaria de casa, nessa porcaria de cidade, do lado de porcaria de pessoas que me cansam!

Anônimo disse...

Usando sua metáfora do quebra-cabeça: você é um quebra-cabeça que a Grow esqueceu de mandar duas pecinhas. Você se sente incompleto. Você gostaria de completar esse quebra-cabeça, botar num quadro e ficar olhando depois e achando lindo. Pense agora em quantos minutos demorariam pra você se entediar e enjoar do brinquedinho. Por quê? Bem, a resposta é óbvia. Se todos nós fôssemos pessoas completas não teríamos motivo algum pra viver. Afinal, o que é a vida senão uma busca? Uma busca incessante por coisas que nos satisfaçam. Daí eu chego num ponto que acho que você esqueceu de enfatizar no seu texto, pelo menos na minha opinião. a SATISFAÇÃO. Afinal, é isso que há entre o sofrimento e o tédio. O problema é que o ser humano tende a ser pessimista e se preocupar tanto com o que há de errado que esquece de correr atrás do que faz bem. Aplaudo o rofello pela facilidade com que ele explicou isso que eu tô tentando agora, e pelos exemplos plenamente "entendíveis". Porque é isso mesmo, creio que observar a chuva, ligar para um amigo que você não fala há muito tempo, descobrir um jogo novo, experimentar uma comida nova são partes fundamentais da nossa incessável busca (sofrimento) pela SATISFAÇÃO. Momentânea? Sim, mas não importa, porque quando a alcançamos, sentimos que a busca/desejo/sofrimento não foram em vão e isso nos estimula a achar coisas novas pra buscar/desejar/sofrer por. Por mais complicado que seja, é a vida.
Talvez eu tenha repetido excessivamente tudo o que já foi falado aqui, mas é que eu realmente achei importante. Aliás, na minha opinião esse foi seu melhor texto, porque foi o que mais me fez refletir e foi o que eu mais me identifiquei. Parabéns.

Mas, anyway não te preocupa, que quando eu estiver em São Paulo você nunca vai se sentir entediado! dhsauidhsaudsahusidsa

Carol, o Poço de Busca pela Satisfação.