segunda-feira, dezembro 18, 2006

É mais dificil falar de amor quando se é homem.

É mais difícil falar de sentimentos quando se é homem.

Desde já deixo claro que de nenhuma forma é minha intenção que essa afirmação soe machista. Quem me conhece sabe que eu não sou um grande fã dessas baboseiras sexistas, tirando raros momentos de zoação entre amigos, e que para mim tanto faz se a pessoa que vai pagar meu salário no fim do mês seja um homem ou uma mulher. A afirmação vai um pouco além disso, direto na base fundamental da sociedade – e eu emprego a palavra tão usada pelas feministas – patriarcal que vivemos à milênios.

É muito mais difícil falar de sentimentos quando se é homem, e isso tem a ver com o consciente coletivo durkheimiano, (de Émile Durkheim, fundador da sociologia como ciência e principal teórico da coerção social) tem a ver com os paradigmas instituídos desde os primórdios na nossa cultura que influenciaram tão drasticamente na criação dos homens e mulheres pré-século XXI.

Explico: os homens não são criados pelas suas famílias e pela sociedade para saber e poder demonstrar sentimentos, e por isso, muitas vezes, não sabem como. Isso tem de mudado conforme a sociedade caminha século à dentro, mas até a minha geração, a geração anos 80, essa afirmação é bem cabível.

Um dos fatores mais claros da criação diferenciada entre homem e mulher que influencia a habilidade de falar sobre sentimentos é a relação com os pais, enquanto o homem tem como maior referência familiar o pai, a mulher possui a mãe. Os pais, em sua maioria, são infinitamente mais rígidos e distantes – eles são os provedores do sustento familiar (embora, reafirmo, as coisas vem mudando), são sérios e mais focados, e são assim porque seus pais também o eram. Se você quer saber como um homem vai ser no futuro, é só olhar de alguma forma para seu pai – alguma coisa do pai o filho sempre vai ter, mesmo que odeie admitir. Ao contrário da mulher, que normalmente tem por essência o carinho afetivo maternal, o instinto natural de cuidar das suas proles. O vínculo maior de um homem com seu pai é a figura de autoridade, já a mulher precisa de sua mãe em momentos críticos de sua vida – ela precisa de sua mãe quando seu corpo, de repente, começa a mudar; ela precisa de sua mãe quando começa a se interessar por meninos, amadurecendo bem mais cedo que os mesmos; ela precisa de sua mãe na primeira menstruação; enfim... a mulher tem com sua mãe uma relação normalmente bem mais íntima que o homem tem com qualquer um de seus parentes, o que já é uma criação diferenciada.

Além disso, existe a exemplificação doméstica, uma das primeiras aulas que você possui antes de ir para escola é o exemplo que seus pais dão em casa. Embora as mães sejam carinhosas por natureza, e nelas as filhas se inspirem, é nos pais que os homens buscam suas referências. Eu não me lembro de ter visto meu pai beijar minha mãe na boca.

Outro aspecto fundamental é a forma como a cultura e a sociedade instrui essa criação dos filhos. O homem é criado muitas vezes para ser uma máquina lógica, – não é por coincidência que a grande maioria das pessoas que desenvolvem tendências para a área de exatas sejam homens, o que a grande maioria dos filósofos, cientistas, matemáticos ou sociólogos do passado fossem do sexo masculino – o homem deveria desenvolver o raciocínio lógico, deveria possuir a habilidade de resolver problemas, a coragem para tomar atitudes (o que nos é cobrado até mesmo na hora de se chegar em uma garota), é ensinado a pensar racionalmente. Já a mulher, não. Ela não possuía a cobrança da atitude, não possuía o poder de decisão, não precisava resolver problemas, o que lhe era indicado e de alguma forma imposto era que ela amasse e cuidasse dos filhos e da casa. As mães da minha geração, ainda são, em 90% dos casos, donas de casa. A mulher então, era criada para saber amar, enquanto o homem era criado para saber pensar – e quem muito pensa, esquece de sentir, o que não é verdade se colocado ao contrário.

Obviamente existiram homens que ousaram, citamos então poetas e escritores como Baudelaire, Petrarca, Shakespeare, Dante... e de alguma forma não consigo evitar de racionalizar como a aproximação dos sentimentos até mesmo deles, que foram expurgados da sociedade em seus tempos, taxados de loucos ou geniais (embora isso seja muito próximo), é uma aproximação totalmente masculina. Assim como os filósofos, seja Sartre, Nietzsche, Schopenhauer, Spinoza, que tentam categorizar e definir os sentimentos. A mulher não define os sentimentos, ela sente!

Em cima disso, então, não podemos nunca deixar de citar a coerção social. Apesar de toda a influência da criação, ainda existiram e existem outros homens que, assertivos, desvincularam-se dessa pressão cultural e desenvolveram consigo mesmos a habilidade de entender e falar sobre os sentimentos. E até mesmo, o absurdo de – deus me livre – sentir! Não ficaram famosos, não possuíram mecenas que bancaram suas manifestações artísticas, simplesmente viveram e incorporaram os sentimentos ao seu dia a dia. O que a história faz deles então? Personagens caricatas, símbolos do machismo ou homossexuais retraídos. Bonaparte, Alexandre, Don Juan/Casanova. E hoje, não é muito diferente – aqueles homens que ainda ousam infiltrar-se no território feminino dos sentimentos são taxados de todo o tipo de nomes. E então, as pessoas acham estranho que existam por ai tribos sociais tão escrotas, mas com tantos adeptos, como é o caso do emocore ou do gótico (que por si só são execradas por todas as outras), que tem por base o emparelhamento do poder sentir.

É bem mais difícil falar de sentimentos quando se é homem. Talvez por isso às vezes eu me sinta um viadinho.

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PS: Acordei 8h hoje. HAHAHA. Que demais. Me sinto até uma pessoa de verdade.

12 comentários:

Anônimo disse...

É Gabs, eu também sinto que você é um viadinho... =P

Concordo em partes, não gosto muito de generalizações mas no caso, é um fato.

Anônimo disse...

Td q vi foi bla bla bla
sou o gabs viado de sempre...
Lol... pra vc meu querido

Anônimo disse...

Tendo tudo isso sabido, talvez esteja na hora de se deixar sentir, né? ;P

Eu concordo basicamente com tudo o que disse. Afinal, por mais que digam que as mulheres são complicadas e que ninguém entende, são só simplistas. Eu sinto isso e acabou, vou agir de acordo e me entregar. Sem rodeios. Talvez seja essa a complicação tão difícil de entender. O se entregar. Mas acho que quando um homem chega a esse estágio (sem se sentir um viadinho, por favor), a vida passa a ser um pouco mais linda. E quem sabe, mais fácil e gostosa de viver.

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P.S.: Que que a preocupação não faz, né? ;P

Anônimo disse...

Muito bom o texto e concordo com tudo o que você diz cara, (Até a parte do viadinho), homens nao sao feitos para sentir, mas porque intão nós sentimos?? Somos de outra era ? de outra decada que o amor invadiu tudo ? ou sera q eu sou um viadinho ?? Nao .. isso eu dexo pra você!

eUUIAIHuihuiauiHUIAUI

abração gabs e parabens ;)

Anônimo disse...

Postarei quando retornar ao meu lar, pois as imcumbências do ofício me impedem desenvolver um raciocínio muito longo, ou seja, eu sou o famoso burro que precisa parar pra pensar.
MAS UMA COISA EU DIGO!

EU JÁ SABIAAAAAAAA!

:X

Gabriel Cal disse...

Até você véio? u.u

CE tem que me defender dessas acusações falaciosas.

Anônimo disse...

AHUUHAHUAHU
Conhecendo você no ÍNTIMO negar o que foi posposto seria no mínimo um equívoco :X

Agora, sentir... É muitos acham que sentem, já outros acham que nunca sentem nada.
Tolos, digo isso não por ser o Sr. Sensível, aliás em toda minha austeridade masculina que conste um bruto e grave, "Longe de mim!", mas não que me venha em nenhum registro mental que devamos acarretar tais circunsâncias a outros fatores se não os citados.
O que talvez pudesse ser levado à mensão seria o PORQUE de se ter um homem que se comporta de uma maneira x e não de uma maneira Y.
Perguntaram uma vez a um grande estrategistas, desses aí que tem sua identidade sexual denegrida por talvez não ser inibido quanto aos seus sentimentos, pq não mandara mulheres pra guerra, haja visto que poderiam ser de muita importância (pausa para o comentário shouvinista(sic)), poderiam ser usadas como isca, ou algo semelhante. Este nobre homem da guerra o qual preservo a identidade por não ser competente para lembrar seu nome repondeu algo assim: "Dê uma bica no peito de uma mulher e ande 100 metros, dê uma bica no peito de um homem e não terás tempo de virar de costas."
Obeveamente que estas não foram as cognitivas utilizadas, mas cabe aqui sua devida adaptação.
O ponto na verdade é, não estaria de fato tudo escrito de forma correta por linhas tortas? Oh pigmeus, em verdade vos digo com a licença prévia da entidade máxima do mundo dos Cristãos, talvez sim; acho que a análise feita inclusive é válida. Haja visto porém que o lado sensível das partes envolvidas no causo é de igual forma considerada meliante. "Pague vc o jantar, onde está o cavalheirismo?" Na mesma hora submeteria-se qualquer moderninho com um nível de testosterona equilibrado a engolir a seguinte resposta: "Esqueci junto com a vontade de tomar a minha cerveja e assistir ao jogo do Mengão!"

Mas deixando o adendo de lado, a tendência é essa mesmo, um mundo mais... sensível, mais homossexuais apanhando; claro pq vc hoje em dia não pode ser bonito e educado que chega um contratipo te perguntando se vc joga no mesmo time que ele, e ainda sim vc se atêm a dizer que não, que respeita a posição dele mas que gosta mesmo é de mulher.

Que dureza.

Anônimo disse...

Me esqueci me do gran finalle;

Vou assistir a novela!

Comecei o post pensando nisso. >.<

Anônimo disse...

Mas essa novela é ruim demais...

Anônimo disse...

Sou um não bem aventurado.

Minha TV tem uma antena que tem uma haste só, com um bombril que mal se encarrega de sintonizar a globo para que eu possa ouvir:

"Mulher: Vai pro inferno!
Arnold: Não posso cumprir essa ordem."

UAHUAUHAHU realmente é ruim pacas mas é o purgatório necessário.

Anônimo disse...

Essas são as raízes, são. É fato inquestionável. Mas - ainda bem - a sociedade caminha pra algo menos esteriotipado. As pessoas passam mais tempo "vivendo a vida lá fora", e esse tipo de vivência molda melhor um caráter que qualquer tipo de criação. O instinto de auto-preservação vem antes do maternal, ou patriarcal.
Lógico que isso nunca deixou de existir, mas nas gerações anteriores era muito mais flagrante a impressão que essas tradições passadas hierarquicamente deixavam. O paradigma tende a ser quebrado.
As características que identificavam um sexo começam a se misturar com as que identificavam outro.
Ainda é possível afirmar que o homem tem mais dificuldades em expressar seus sentimentos, mas a próxima geração tende atenuar isso.

Isso, é claro, na minha opinião.

Beijos, Gabs!
=*

J. Junior disse...

Well...
Take a look, babe ;*

http://efekt.blogspot.com