quinta-feira, janeiro 10, 2008

Celulares, Email, Msn e... Cartas?

É com um pouco de saudosismo que eu lembro minha época de colégio. Não é por mal, eu nem sou tão velho assim pra falar de saudosismo e tenho consciência disso, mas na minha época de escola ninguém tinha internet, no começo, e depois, muito poucas pessoas tinham acesso. Os provedores eram caros, os pulsos mais ainda e a conexão era 56kb, então as pessoas ainda manifestavam carinho de outras formas que não botando coraçãozinhos no seu orkut, mandando s2 no msn ou cartões virtuais emotivos.

Cara, como eu gostava de receber cartinhas de amor na época do colégio. Letrinhas redondinhas e caprichadas, adesivinhos coloridos e perfume. Normalmente as cartas vinham perfumadas com o cheiro q ue a garota usava, sabe-se lá porque. Ainda não descobri como se perfuma uma carta sem deixar ela toda molhada de perfume... mistérios da vida.

Anyways, eu tenho um probleminha com papéis escritos. Eu os adoro. Não é só questão de cartas de amor, mas como cartas de amigos, bilhetinhos, post-it, cartas de natal, cartões de aniversário, qualquer coisa! Eu guardo com muito carinho – essas são as lembranças que eu vou levar pra minha velhice. O que me deixa meio chateado é ver que as pessoas não tem mais o cuidado de escrever algo bacana uma para as outras, é por isso que eu cobro sempre, ao menos dos meus avós e dos meus pais, que sempre que me derem um presente, coloquem junto uma cartinha.

Esses dias minha mãe, de férias, decidiu bancar a Amélia e fazer a limpa na casa. Ela começou a revirar uns armários que eu nem sabia que existiam e tirou de dentro deles algumas raridades, como álbuns de fotos (e muitas fotos soltas) de quando e meus irmãos éramos pequenos – dos quais eu estou selecionando ao pouco algumas para scannear, inclusive coloquei umas no orkut. Junto com os álbuns ela encontrou as cartas que guardava desde menina. Cartinhas de namorados, cartas dos avós, dos amigos, bilhetes de escolha... já sei de quem tirei a mania. Ela tem um bloco gigante dessas coisas, e eu, tenho um punhadinho. Algumas cartinhas da escola, algumas declarações de amor, cartas dos meus amigos que conheci pela net (antes que pudéssemos nos ver pessoalmente), e cartas de natal/aniversário. Pouquinhas. Não chega nem perto, e eu já tenho 22 anos, o que quer dizer que não devo mais receber muitas cartas (as delas são todas até os 20 anos).

O que me fez pensar o porque disso... e a razão óbvia é que as pessoas não tem mais necessidade (e sequer gostam) de escrever essas coisas, é muito mais fácil mandar um scrap no orkut, um testimonial ou um e-mail. Ou falar “diretamente” pelo messenger, que é mais prático e rápido. Aliás, a coisa mais irritante é você dizer “precisamos conversar algo sério” e a pessoa responder “ok, já vou entrar no messenger”.

A verdade é que e-mail é apenas um grande saco de lixo virtual. Tudo o que você manda pra lá, depois de um tempo, some. Você troca de e-mail, deleta, esquece a senha, e ai, se fodeu. Perdeu tudo o que as pessoas te disseram – as vezes você nem liga, não era importante. Mas esse é o tipo de coisa que você só vai perceber a importância daqui a 40 anos, quando estiver arrumando sua casa e encontrar os pedacinhos de papel cheirosos com adesivinhos e declarações de carinho.

O pior de tudo é perceber que essa comunicação “veloz”, que eu tanto utilizo e prezo, acabou por ajudar a vulgarizar uma série de coisas importantes – e o amor, incluso. Não só o amor entre homem e mulher, mas também o amor fraternal. É muito mais fácil dizer “eu te amo” pro computador, escrever por e-mail, ou mandar por msn (ou sms) junto de um emotezinho tosco. O máximo de impacto que você vai causar é fazer a tela da pessoa tremer com um widgetzinho sem graça. É muito diferente de você falar de verdade, cara a cara, olhando nos olhos, ou de escrever numa cartinha e esconder embaixo da mesa da sua amada, e esperar ansioso pela reação.

Um dia eu escrevi um texto romanticóide chamado “Ode e Elegia ao Amor”, que postei em vários tópicos, virou corrente e o caralho. Nele eu já reclamava da falta que me faz um papel escrito. 3 ou 4 anos depois, nada mudou.

Eu ainda prefiro ter contato direto com o material ao qual eu vou agregar meus sentimentos, seja uma pessoa ou um papel, do que deixar a cargo de qualquer impulso tecnológico. Mas sou só eu. E eu não sou referência pra qualquer pessoa normal.

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PS:

Essa semana é uma semana triste. Eu tenho o mesmo número de celular desde 1999, 81221253, e finalmente me irritei com o serviço prestado pela TIM e o abandonei. Foram 9 anos de carinho, boa parte da minha adolescência e juventude, muitas risadas e muitas lágrimas. Bons e péssimos momentos. Eu sei que tem gente que nem liga pra essas coisas, troca de celular como troca de roupa, mas eu tinha grande apego ao meu número... :/ Se foi.

Então quem ainda quiser falar comigo, sejam amigos de 10 anos ou 1 mês atrás, favor requisitar o número novo por carta. Ou por msn, dá também.

Um comentário:

Liene disse...

Você não tá sozinho não.

Bom, antes deixa eu falar que é muito provável que em breve eu me torne uma cliente Vivo por causa das circunstâncias e tô muito triste de provavelmente abandonar meu número que foi o primeiro e único e meu querido aparelho que desliga sozinho e tem outros chiliques por causa da idade.

Bom.

Eu sou apaixonada por escrever à mão e também por ler algo escrito à mão de alguém que gosto. Gosto de observar as letras e ver como aquela pessoa prefere fazê-las. Gosto também do que escolhe escrever num papel. A sensação de eterno faz as pessoas escreverem outras coisas.
Ontem eu li uma carta do meu aniversário de 19 anos, não faz muito tempo. Mas me emocionei e ri demais. Era da Fê, claro.
Quando eu estava pra ir pra Espanha e ficar lá meses, eu escrevi seis cartas pro meu namorado, uma pra cada mês e a primeira de abertura, pra deixar bem claro que o que eu sentia antes de ir seria a mesma coisa com o passar do tempo. É claro que elas perderam o sentido já que eu tô aqui, graças. Escrevi uma carta pro meu pai no último aniversário dele e deixei no vidro do carro pra ele ver cedinho quando saísse pra trabalhar. Ele me agredeceu muito, mas eu soube por outros que ele carrega a carta com ele.

Não tenho velhas cartas de amor porque em algum momento de raiva joguei tudo fora e bem rasgado. Tudo bem.

Gosto de escrever porque causa nas pessoas uma emoção diferente. É um objeto tocado e cuidado pela pessoa que tão carinhosamente escreveu pra você. Eu acho mágico.

Mas confesso que tenho um pouco de vergonha por ainda me prender a coisas assim, numa época, oh, tão dinâmica que não dá nem tempo de acentuar palavras no teclado.
Já pedi desculpas por não escrever uma carta pra você no seu aniversário. Eu não sabia que você era dos meus. Foi a minha vergonha boba que me impediu.

Mas eu não ganhei uma carta sua. Tanto que pra conhecer sua caligrafia tive que pedir pra escrever uma frase boba e você nem escreveu direito.

Ah, alguns dos papéis de carta, os mais lindos, já vinham perfumados. Agora, se você recebia escritos numa folha de caderno cheirosa, aí sim, mistérios.

Comenteeeei!