quarta-feira, dezembro 31, 2008

Amor e Paixão

Com um movimento suave do pulso, ele puxou a cadeira metálica e olhou na direcão da mulher que o acompanhava. Ao sorrir educadamente, pediu para que ela se sentasse, sabia que precisavam conversar. Ela nao sabia direito o que dizer. Ele tocou de leve no ombro dela. "É só uma conversa", ela disse. O olhar dela o atravessava, fixado em um ponto nulo além da janela do restaurante do aeroporto. Do lado de fora ela podia ver os aviões taxeando pelas pistas e o prado montanhoso ao fundo, coberto por neve.

Ela se sentou. Perguntava-se porque diabos estava ali. Dando volta pela direita, o homem sentou-se a sua frente. Gentilmente, estendeu mão por sobre a mesa e acariciou a dela com a ponta dos dedos. Ela desviou o olhar para a janela a sua direita, observando mais um avião passar. Ele recolheu a mão, timidamente. Sentia-se como um pêndulo que oscilava entre o medo e a culpa.

Sentia como se houvesse perdido algo.

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Quando ela abriu os olhos, a primeira reacão foi mirar o relógio de luzes esverdeadas ao seu lado. Três horas da manhã. Buscou-o deslizando os dedos pelo lencol de seda mas a cama estava vazia. Ergueu a cabeca.

"Jammie? James?"

Sentado semi-nu no batente da janela embacada, ele levou o cigarro até os lábios e tragou, soltando a fumaca para cima, os olhos sobre a mulher deitada. Não cansava nunca de perceber o quanto ela era linda e agradecia aos astros por tê-lo escolhido. Percorreu com os olhos o caminho entre o lencol que cobria as pernas de Elizabeth, pela curva de suas costas nuas reparando - mesmo no escuro - nas pequenas, diversas e encantadoras sardas que lhe cobriam os ombros, até seus cabelos ruivos e ondulados.

"James? O que foi, hm?"

O tom de voz dela era manhoso, enrouquecido levemente pelo sono, e ela sorriu o sorriso perfeito de quem ama.

"Nada. Eu só gosto de te observar, Lizzie."

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Era difícil manter contato visual com Elizabeth, ela parecia desconfortável. Não sorria mais.

"O que foi, pequena?"

Ele tentava quebrar o gelo, passar pelas defesas bem construídas da mulher à sua frente com palavras carinhosas e uma demonstracão genuína de carinho.

"O que foi? Ah..."

Ela sorriu nervosamente e afastou a mão da dele, levando o indicador até os lábios e mordendo de leve a unha. Em seguida jogou a cabeca para trás, aumentando o tom de voz.

"Eu não sou mais a mesma, James. Eu nao posso mais continuar vivendo a mesma história. Você sabe que eu jamais consigo assistir ao mesmo filme duas vezes, e... James, esse filme eu já vi."

"Pequena..."

Ele rezava para que ela o escutasse, ao menos uma vez. Falava baixo, sóbrio, focado. Ele estava certo do que queria, e tinha certeza de que o que queria era o certo.

"Eu não sou inocente, Lizzie... eu sei que errei, e erro... e sei que as vezes as coisas podem parecer fora de rumo, mas cabe a nós mesmos sabermos colocá-las de novo no lugar. São poucas as coisas que eu acredito ter certeza nesse mundo, de algumas delas as vezes até mesmo eu duvido, porém, as únicas que nunca questionei tem a ver com eu e você."

"Eu não posso te jurar que as coisas vão ser fáceis, pequena, porque nada é. Mas eu posso dizer com a certeza de quem não tem mais nada a perder que eu te amo, e vou te amar sempre, não importa nunca o que aconteca. E posso prometer, com a mesma certeza, que eu vou continuar errando também - e as vezes acertando - porque tudo isso faz parte do que vivemos, tudo faz parte de um relacionamento. A única coisa que eu preciso é ter você ao meu lado."

Ela baixou a cabeca por alguns segundos, ocultando-a entre os bracos e ele jurou ouvir um soluco leve e ver uma única lágrima tocar a mesa de vidro. Ela balancou a cabeca negativamente e respirou fundo. Erguendo novamente o rosto, encarou-o.

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Virando-se na cama, ela retribuiu o olhar dele. Com um delicado movimento chamou-o para junto. Os olhos esverdeados cintilavam à meia luz e o atraiam com uma intensidade desigual. Ele levantou e aproximou-se da cama. Ela carinhosamente tomou sua mão e puxou-o para junto, obrigando-o a sentar-se novamente.

Abracou-o pelas costas, envolvendo-o com o braco e colou os lábios em seu ombro, beijando-o suavemente e em seguida, mordendo-o com a mesma sutileza. Ele sorriu.

Ela aproximou os lábios do ouvido dele, os cachos ruivos tocando a pele branca de James involuntariamente. O cheiro doce e delicioso do shampoo de Elizabeth invadindo suas narinas. Ele olhou na direcão da janela - a chuva caia e tocava o vidro produzindo um som tranquilizante. Sentia-se completo.

Elizabeth era como a paixão, seus cabelos cor de fogo e sua tez branca e macia pareciam ser eternos. Seus gestos eram delicados e ao mesmo tempo intensos. Sua entrega era total. Ele lembrava de quando se conheceram e da garota impulsiva e desengoncada que lhe roubara a bebida e lhe tomara a atencão por toda a noite - dancando sozinha na pista de danca entre todos os outros corpos, e ao mesmo tempo, só para ele.

James era como o amor, seus movimentos eram discretos e encantadores. Ele sabia trabalhar as palavras que proferia e compreendia tanto quanto podia das coisas ao seu redor. Demorava para entregar-se, mas seus sentimentos eram inabalaveis.

No dia seguinte, quando ele pegou o avião, sua memória ainda estava saturada com as imagens da noite anterior.

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"Eu tenho que ir, Jammie..."

Ele segurou novamente nas maos dela. Dessa vez com um pouco mais de forca e entre-abriu os lábios para dizer algo, mas não houve som algum. Ele baixou a cabeca e cerrou os olhos.
"Porque você não vem comigo? Podemos pegar um carro, agora, e ir embora... podemos encontrar seja lá o que for que se perdeu."

Ela sorriu timidamente e suspirou. Desvencilhou a mão e acariciou delicadamente o rosto dele. Balancou a cabeca negativamente.

"Jammie... você é meu melhor amigo, você é o homem que eu amo. Eu gostaria de dizer que eu sou o remédio que você precisa para curar todos os seus problemas e que tudo vai ficar bem. Mas eu não sei como salvar a sua vida, a minha funcão não é resolver as suas dúvidas... Eu não sou mais a mesma, e você... você vai ser para sempre você. Eu tenho que ir, Jammie... eu tenho um avião para pegar. Adeus."

E dizendo aquilo ela se levantou e com passos lentos e curtos se afastou da mesa, desaparecendo logo em meio as outras pessoas. Estático, ele manteve-se ali, sentado... deslizou as mãos pelos cabelos e chorou enquanto observava outro avião levantar voô.
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Pós-Escrito:
Galera, feliz ano novo! Hehe.... eh isso!
=P

7 comentários:

Mai Saito disse...

aaah! e pq a mulher tem que ser a paixão e ficar com papel de evil abandonadora? u.U


ta, ta...falei só pra encher o saco. Acho que os papeis ficam melhores assim mesmo U_U....

Unknown disse...

Gostei =) nao foi machista ahahahh! ta todo romanticozinho, quem ve pensa...
beeijo!

Anônimo disse...

Lindo, Gab! Realmente inspirador...

Beijinhos!

Anônimo disse...

Esqueci de dizer que tive um relacionamento exatamente no molde desses arquétipos...

Unknown disse...

Tá faltando o primeiro post no Brasil =P
=*

Unknown disse...

E o primeiro post do ano!
=*

Anônimo disse...

Cri cri....