terça-feira, março 27, 2007

Sturm und Drang, ou entendendo um pouco sobre como eu penso.

Cá estou hoje, postando da forma como me é mais característica depois de uma desvirtuação básica. Achei-me na necessidade de explicar um pouco da formação dos meus conceitos. Na verdade, a conotação que meus textos recebem desde os primórdios, como tristes, depressivos ou pessimistas possuem uma base de verdade que de alguma forma me incomoda. Incomoda por não entenderem o porque. O fato deles assim serem não tem a ver com o meu estado de espírito, tem a ver com a formação meu pensamento, é mais ou menos isso que o texto de hoje fala. É uma tentativa rala de justificar o porque eu escrevo desse jeito, e ainda assim sou tão bobo alegre.

Quem me conhece sabe que eu baseio minhas abordagens “intelectualóides” do mundo basicamente em cinco filósofos: Baruch de Spinoza, responsável pelos meus momentos materialistas; André Comte-Sponville, responsável pelos meus momentos mais positivistas e humanistas; e três homens que são responsáveis por boa parte do pensamento contemporâneo, que por acaso, também são os três filósofos mais pessimistas da história, a chamada tríade do mal da filosofia: Soren Kierkegaard, o pai do Existencialismo e o dono da frase “subjetividade é a verdade, e a verdade é subjetiva”; Arthur Schopenhauer, que é conhecido por sua filosofia de que a vontade humana (o desejo) é dominante em relação ao seu intelecto, e que o mundo dos objetos vive dentro do mundo do desejo, e não vice e versa; e por último, mas não menos importante, Friederich Nietzsche, o senhor da genealogia da moral e do eterno retorno, o homem que mais influencia o pensamento moderno.

Muitos dos meus amigos, mais aqueles que lêem e não comentam, gostam de tentar entender como eu penso. Bom, pra eles, ta aí 70% da formação das minhas opiniões de bandeja. Com o adendo de um movimento literário, que apesar de pequeno, é meu favorito, e não foi citado ai em cima. E que dá nome ao texto.

Chama-se “Sturm und Drang”. É um pequeno movimento pré-Romântico existente somente na Alemanha. A tradução para o nome é “Tempestade e Ímpeto”, ou “Paixão e Energia”. Participaram desse movimento músicos como Bach e Mozart, pensadores como Rousseau e, fundamentalmente, um escritor genial chamado Johann Wolfgang von Goethe, ou simplesmente, Goethe.

O movimento ao qual eu me refiro surgiu dentro do Iluminismo, e alguns dizem que é a ele que o movimento combate, mas na verdade, ele é apenas uma crítica interna a algumas posturas iluministas, uma critica principalmente ao racionalismo e universalismo que ele propõe. Os autores do “Sturm und Drang”, ao contrário dos outros, não escrevem sobre a ordem natural do racionalismo – eles expressam violentamente as emoções mais difíceis. Eles incorporam a subjetividade do ser humano e a sua expressão individual, um êxtase de emoções e uma noção indistinta de liberdade com conotações psicológicas, sociais e morais. É nessa época que o conceito de gênio, das artes ou do pensamento, é criado.

É a partir desse período que nasce um interesse profundo na natureza humana. Nas suas paixões, que levam ao seu sucesso ou a sua queda. É aqui que bebe o Romantismo, em alguns aspectos. E todo mundo sabe que, embora eu negue até a morte, sou um eterno romântico. E que sou um aficionado pelo estudo do comportamento humano e principalmente das emoções e reações quanto a elas.

O livro chave desse movimento, e é agora que as pessoas me chamarão de doente, é a obra de Goethe “Os Sofrimentos do Jovem Werther”. Werther é uma personagem auto-biográfica de Goethe, que escreveu o escreveu aos 24 anos. O livro é um compilado de cartas de Werther, um jovem e apaixonado artista burguês que nunca consegue terminar suas obras, ao seu amigo Wilhelm, em que ele conta de forma bastante íntima sobre sua viagem a um vilarejo camponês. O livro, na verdade, é uma compilação dos sentimentos e sofrimentos – de Werther, que se apaixona por Lotte, uma mulher do vilarejo que é noiva de outro homem, e a forma como se desenrola o relacionamento, até o momento que Lotte diz a Werther que não podem se ver mais. Werther já havia realizado que o triângulo jamais poderia ser, e que para que isso terminasse, um dos três teria que morrer. Já que ele não conseguiria jamais machucar alguém ele acaba se matando com um tiro de pistola, emprestada por Lotte e seu marido, que não “sabiam” que ia dar nisso.

Trágico? Oh yes. A verdade é menos sinistra. Goethe, ainda bastante jovem, conheceu e se apaixonou instantaneamente por uma mulher chamada Charlotte. No mesmo baile, conheceu o noivo dela. Depois de um tempo de rejeições ele simplesmente foi embora. Anos depois ele escreveu “O Fausto”, virou uma das primeiras celebridades literárias, converteu-se ao Romantismo, influenciou Darwin e se arrependeu de ter escrito “Werther”. Embora o livro seja muito bom.

A coisa é muito simples. Existem visões e visões da realidade, que é subjetiva por si só. Embora as coisas estejam lá, cada um observa de um jeito, muito graças ao seu repertório. O meu repertório é basicamente pessimista, ele lida muito com as emoções, com os sentimentos, e por conta disso, meus textos soam mais tristes e depressivos que os da maioria. Isso não quer dizer que eu seja triste ou depressivo, só que a forma de expressar de forma escrita e mais intelectualizada dos meus pensamentos é.

Agora já sabem um pouquinho mais sobre minha loucura. Bwahuaehae.

6 comentários:

Anônimo disse...

Eu nunca tive seus textos como tristes. Pelo menos a maioria.
Acho que tudo que você escreve parece Gabs =P (wtf?!). Quero dizer é que todos têm muito a sua cara, seu jeito de específico de escrever. Uns sendo um pouco 'tristes' ou filosóficos, mas pra mim parecem você ;]

Agora eu tenho certeza pra que servem aqueles livros no seu banheiro, uahuahua ;P
Gabs é referência!

Liene disse...

Isso explica, na verdade, porque Gabs pessoalmente e Gabs no blog são tão diferentes, embora não dê pra negar que os dois são o Gabs.

Mas cá entre nós, os negritos me incomodam demais. Eu sempre dou uma ênfase neles e leio meio gritadinho. Mas não é pra ler assim. Ah. =/

Gabriel Cal disse...

Imagna se eu fosse assim na vida real, e ainda falasse com negrito.

Ô loco, insuportável.

Anônimo disse...

Menos que você falando que nem seu professor.

Luanin disse...

Sabe que nem me pareceu assim tão surpreendente, talvez até mesmo porque quando ele, o menino que escreve o texto, começou a ler e tornar a sua visão intelectualizada do mundo mais preta e branco, eu estava lá... de certa forma colaborando para estas idéias. Não sei, mas creio que somos um tanto semelhantes na maneira de ilustrar o mundo com palavras...

De toda forma, amei o post e vou incluir alguns títulos a minha lista de "livros a ler".

Kissus

Anônimo disse...

Comentário dosado. Ou pílula de opinião.
É muito interessante como alguns homens conseguem ser a frente de seu tempo.
Muitos dos intelectos pelos quais nos baseamos hoje escreviam seus pensares e mazelas que pareciam inóspitas formas de loucura para sua sociedade na época e que se encaixam perfeitamente na nossa sociedade contemporânea. Eu aprecio suas faculdades mentais apesar de achá-las profundas de mais.