domingo, março 11, 2007

Uma opinião original sobre o nada, e nada sobre originalidade.

Admito que morro de dó das pessoas que precisam de sua criatividade para viver. Minha mãe, por exemplo, que precisa inovar e criar novas promoções, novos eventos o tempo inteiro. Eu sofreria de uma agonia imensa se tudo o que me mantivesse empregado fosse a minha capacidade de criar coisas novas. Eu não sou um grande criador. Eu cheguei a essa conclusão dado ao ócio criativo que vivo nesse momento.

Não é que minha mente não seja capaz de desenvolver coisas bacanas ou assuntos interessantes a serem debatidos. É que eu me canso de tal forma comigo mesmo e com os meus pensamentos que eu sequer tenho forças de colocá-los num papel de uma forma que agrade, não tanto aos leitores, mas a mim mesmo. Eu prefiro a morte a criar algo que agrida o meu próprio senso de orgulho e intelecto, algo que me soe sacal ao ponto de eu não ter forças suficientes sequer de re-ler e colocar os negritos/itálicos que o pessoal já está acostumado por aqui.

Eu cheguei a ensaiar um discurso, essa semana, que falava da originalidade. Sobre como tudo é uma releitura de outro algo, como tudo é uma versão de alguma outra coisa, frase essa que retirei referencialmente do meu filme favorito, Closer, mas que provavelmente já havia sido usada em centenas de textos, livros e filmes. Mostrava como até mesmo esse blog é uma releitura de outro que já existiu, e como todos nós compomos o nosso comportamento de acordo com uma série de referências tanto da nossa origem quanto do ambiente ao nosso redor. Faz parte daquela minha linha de pensamento sobre como nós, humanos, somos influenciáveis e ao mesmo tempo influenciadores do nosso meio. Como dialogamos e trocamos através das nossas vivências com outras pessoas e situações e acabamos por incorporar um ou outro traço que não nos pertencia antes, e a doar os que possuímos para outrem.

Ironizava em alguns aspectos o fato de gostarmos de acreditar que somos todos únicos e originais. Mas isso é paradoxal, não podemos ser originais por conta de toda a influência externa que recebemos, mas é ela que nos faz assim, tão únicos. A combinação da nossa origem e das nossas referências, que dificilmente são iguais as das outras pessoas, é o que faz com que cada um de nós sejamos tão diferentes, mas sempre com algumas coisas em comum.

Acho que o link a ser feito entre esse texto, que eu tentava produzir durante a semana e que simplifiquei no amontoado de palavras acima, e os dois primeiros parágrafos deste aqui é que a criatividade é necessariamente relacionada com as nossas referências. E as nossas referências são buscadas nas nossas experiências, sejam elas quais forem. Um criativo precisa ter o canal aberto ao mundo acerca dele, e mais que isso, tem que estar disposto a buscar coisas novas e absorvê-las, para somar com o que ele já possuía lá no seu próprio banco de dados e montar algo somando tudo isso, algo diferente, novo, porém, com uma base em algo que já fora feito antes. Pois bem, o que eu não tenho tido nessas ultimas duas semanas são experiências diferentes.

Quer dizer, experiências inspiradoramente diferentes. Eu não leio nada que presta faz muito, muito tempo. Eu não vejo um filme novo, cabeça e bacana à mais tempo ainda. Enfim, semana passada eu sequer fui pra faculdade. Minto, fui um dia e ainda sai mais cedo. Claro, fiz coisas que fazia algum tempo que eu não fazia, joguei futebol e fui conhecer uma balada nova. Mas isso não ajuda em nada a construir um repertorio à se escrever sobre. Então eu busco as coisas no que eu já cansei de ver, filmes que eu admiro, livros que eu gosto, músicas que me inspiram, mas tudo muito gasto e já amplamente explorado. Daí tudo o que eu escrevo parece sacal, batido, e tenho aquela impressão de que já esgotei totalmente, comigo mesmo, o assunto a ser debatido. E perco todo o tesão de fazê-lo.

Pois bem, essa é mais ou menos a justificativa que dou para não ter alimentado esse blog durante as ultimas semanas. Aliás, se for levar em conta que o último texto que postei aqui era algo do meu antigo blog, que já havia postado antes, então fazem quase 20 dias que eu não escrevo nada que preste. Oh well, pra quem queria atualizar o blog a cada dois dias, 20 é um montão. Espero que com essa apologia disfarçada as coisas finalmente deslanchem. Inspirações a parte, eu ando até relativamente feliz com as coisas. E todo mundo sabe que eu escrevo muito melhor quando eu tou na fossa. Closer tem uma frase pra isso também.


Aos que não entendem nada das referências desse blog em particular, eu dou uma de graça. Os negritos/itálicos nas palavras contundentes, ou chaves, ou enfáticas, é algo que vem dos quadrinhos. Divirtam-se descobrindo as outras.

3 comentários:

Ana disse...

Estou comentando aqui, como eu disse que faria. :D

Pois bem, o início do seu texto falando sobre criatividade, calhou perfeitamente com o motivo pelo qual me fez desistir de cursar designer. Eu sabia que teria que me tornar quase uma escrava da criação, e isso poderia destruir tudo aquilo em que eu acredito, entre outras palavras, o livre ato de criar, - seja a partir de experiências concretas, ou de simples referenciais.
É quase como ter que se encaixar na padronização de tudo. E, como você mesmo disse, acabaríamos caindo no ciclo de repetições infinitas.

Eu acredito que o mundo está sedento de idéias novas, e principalmente de pessoas que realmente estejam interessadas/dispostas a procurar ou desvendar os mistérios da vida.
Concordo quando você diz que recebemos muita influência externa, por isso se torna difícil sermos totalmente originais, mas ao mesmo tempo, não acredito que isso nos impeça de trazer algo novo, ou uma pequena nuance que os demais não foram capazes de perceber, ou ainda não haviam alcançado uma certa maturidade (tanto intelectual, quanto de experiências de vida) que lhes permitisse isso.

Ao meu ver falta mais ímpeto pela busca de uma originalidade, até mesmo para conseguir reconhecer o que esse misto de influências causa em nossa vida, e o que de fato nós podemos fazer e criar com isso.

Posso estar enganada, mas vejo a maioria das pessoas simplesmente repetindo, ao invés de dar uma opinião própria, o que não deixaria de ser uma expressão da originalidade.


Falei até demais. u.u
Desculpe se ficou confuso!
Beijos. :*

Charlotte Grapewine disse...

Posso estar enganada, mas vejo a maioria das pessoas simplesmente repetindo, ao invés de dar uma opinião própria, o que não deixaria de ser uma expressão da originalidade


concordo.
a originalidade pode começar daí, né? o simples fato de você não deixar-se influenciar por alguma coisa e ter sua opinião própria, já é um grande passo!

mas o ciclo será sempre o mesmo. somos influenciados para influenciar. é fato.


mas...
continue assim. postar de 2 em 2 não criaria tanta expectativa aos seus leitores.

principalmente pelo fator do tempo de leitura e tamanho dos seus textos. u.u

beijo, gabs! ;*

Liene disse...

Eu acho que influência não tem nada a ver com referência. Fazer referência absolutamente não quer dizer que você está sob influência de alguma coisa.

Desse jeito, você pode ser originalmente criativo com uma base, uma referência. Eu acho impossível criar sem nenhuma referência.

Mesmo porque eu acredito que todas as idéias já existam. É o que você faz a partir delas que te faz criativo ou não.

Paradigmas, pilares, outras bobagens...?

Mas ter que ser criativo pra viver deve doer mesmo...