quarta-feira, julho 29, 2009

Timing



- Você acredita em predestinação? Tipo, como se agente nascesse e morresse com tudo já programado, como se nossa estrada tivesse um destino certo e nós só fossemos passeando por ela, tipo telespectadores, e vivendo cada momento exatamente como ele deveria ser... sem surpresas, como um roteiro pré-definido por alguém que acha que tem o direito de brincar com a nossa história...

Ela coçou a cabeça com as unhas pintadas de um tom de pérolas, claro e agradável, que a conferiam um visual mais inofensivo do que de costume.

- Não. Eu acho que não... quer dizer, seria reconfortante, né? Saber que a culpa das coisas que agente faz, que acontecem, não é exatamente nossa e que alguém tem um plano pra você... faz as coisas parecerem mais seguras...

- E mais chatas – ele completou.

- É. Mais chatas. E sem expectativa.

- É. – ele riu. – Eu concordo. Sabe o que eu acredito?

- Sei... carpe diem e todos aqueles clichês né? – ela soou mais irônica do que de costume.

- Tenho tanta cara de clichê assim? – ele fez bico.

Ela apoiou a mão no ombro dele.

- Sabe o que minha mãe me dizia? – murmurou baixo, como um segredo.

- O que? – respondeu a pergunta retórica dela, mesmo sabendo que a resposta viria de qualquer jeito.

- Filha, nunca confia em um cara que usa xadrez.

Ele riu. Ela mordiscou de leve o lábio inferior, sorrindo. Ele estendeu a mão acariciou carinhosamente os cabelos morenos, curtos e repicados de Luiza. Gostava de tê-la como amiga.

- Sério...

- Tá, sério... no que você acredita, Arthur? – fez cara debochada fingindo interesse e arqueou as sobrancelhas.

- Eu acredito em timing. Acho que as coisas acontecem de acordo com as nossas atitudes, que nos guiam e resultam sempre em alguma coisa, mas somos nós que controlamos o tempo que isso leva para acontecer... e que podemos acertar, ou errar.

- Tá...

- Tipo, as coisas tem um certo tempo pra darem certo. Não adianta nada eu ganhar na megasena se não estiver preparado pra gastar esse dinheiro de forma adulta. Ou não adianta nada arriscar coisas importantes em um relacionamento no qual as pessoas ainda não tem maturidade suficiente. Pode não ser a hora certa, sabe?

O rosto de Luiza se fechou por alguns breves segundos, os olhos verdes agora opacos zapeavam nervosamente pelos dele como se procurasse alguma coisa ali.

- Timing? – ela repetiu baixo.

- É. Eu acho que as coisas não são predestinadas, mas para elas darem certo, tem que acontecer em um momento que as circunstâncias sejam favoráveis... Por isso que eu acho que com o tempo, qualquer coisa pode virar, é só saber qual o momento de agir.

- É... – ela murmurou baixo – pode ser. Faz sentido...

Ela ficou quieta por alguns segundos, movia os tênis all-star gastos nervosamente e observava o chão com atenção. Ela entendia o que ele quis dizer. Essa deveria ser a forma que ele encontrou, mesmo que sem querer, de dizer que achava que ainda não era a hora deles dois.

- Hey... que foi? – acariciou novamente os cabelos de Lou, o olhar preocupado procurava o dela.

- Hm...?

- Algo que eu falei?

- Ah... – ela riu baixo e sorriu amplamente, o sorriso falso que estava acostumada a ostentar quando queria fugir de alguma situação constrangedora.

- Não... não. Tava só pensando em tudo isso. Eu acho que o maior problema dessa sua teoria é que o tempo das pessoas é diferente, justamente por isso existem tantos conflitos. Se agente espera tanto o momento certo, o momento pode passar enquanto esperamos outro que pareça ainda melhor.

Ele ficou contemplativo por alguns segundos.

- Sabe? Tipo quando esperamos um buraco no trânsito pra entrar e perdemos várias chances tentando encontrar aquela que parece mais segura? De repente a abertura exata que precisamos pode demorar tempo de mais pra aparecer, ou pode nunca chegar...

- Ô loco, hein? – ele fez cara de impressionado, brincando.

Ela riu. Sabia que ele estava assustado com a seriedade da resposta dela.

- Por isso eu sou do tipo que arrisca. Eu prefiro tomar uma atitude do que esperar por uma hora que eu me sinta segura, mesmo porque, tudo o que é realmente importante e bom nessa vida tem um certo risco pra se conseguir... se não além de fácil de mais, não teria a menor graça.

- É, pode crer. – ele coçou a própria nuca, desconcertado.

Ela agora sorriu com felicidade autêntica, os dentes brancos e grandes aparecendo de um lado a outro da boca de lábios finos. Luiza se levantou bruscamente e tomou Arthur pela mão.

- De repente essa coisa de tempo me lembrou de uma coisa...

- O que? – ele se levantou também.

- Que ta no meu timing de tomar uma cerveja! Letz GO! Haha...


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