quinta-feira, dezembro 06, 2007

Três Telefonemas e uma mente Difusa

Eu nunca atendo o telefone de casa.

O que isso quer dizer? Que eu nunca atendo o telefone de casa, ué. Não adianta ligar pro meu telefone esperando que eu atenda, não vai acontecer. Existem quatro pessoas que moram no mesmo recinto e que tem disponibilidade similar pra atender, e, além disso, ninguém nunca liga pra mim em casa. Quando eu digo que ninguém nunca telefona pra mim em casa, eu estou obviamente, tomando como base a vida telefônica do membro mais importante da minha família, o Skol, que recebe ao menos o dobro de telefonemas residentes do que eu e isso porque ele sequer consegue falar qualquer coisa que não seja um latido ou grunhido indecifrável – não que se consiga entender tudo o que eu digo sempre. Eu falo exatamente da mesma forma que um médico escreve, precisa-se de treino pra compreender a minha ortografia-verbal.

Além de o telefone nunca ser pra mim, ainda tem outros dois motivos pelos quais eu não atendo o telefone em casa. O primeiro é o fato físico da preguiça e da surdez. Quer dizer, até eu perceber, com o fone de ouvido enfiado na orelha, que aquele barulhinho de fundo não é um charme da música e sim o telefone tocando, a pessoa já perdeu a paciência e desligou. Existem, no entanto, pessoas insistentes, ligam duas, três vezes, deixam tocar até cair a ligação, essas coisas... Até elas as vezes desistem, porque depois de escutar eu ainda preciso me preparar mentalmente, reunir força de vontade suficiente, para conseguir levantar de qualquer lugar que eu esteja e caminhar com toda a boa vontade do mundo até o telefone da sala (eu sempre atendo na sala, nunca nos quartos)... e olha, o trajeto as vezes parece uma eternidade. Eu adoraria ter um frigobar no meu quarto, facilitaria tanto as coisas. Enfim...

O segundo motivo é a memória. Minha memória não vai muito bem. Sério, eu tive que reler os dois parágrafos anteriores umas 3x enquanto escrevia para lembrar do que eu estava falando, não é algo a se subestimar! O pior é que quando eu estou sozinho em casa e a pessoa resiste bravamente a toda a minha malemolência, e espera eu atender ao telefone, ela sempre decide se vingar: “Gabriel, então diz que eu falei pra pessoa y que não sei o que é no dia de são domingos do pau verde ok?”, “OK”. Mal sabe ela que eu sou totalmente incapaz de passar um recado adiante. Quer dizer, eu até repassaria se meu cérebro não houvesse deletado a informação sem permissão no momento que o telefone fez “tutututu”. Parece que o “tututu” é um código secreto do FBI para apagar toda e qualquer memória recadonesca que eu poderia ter adquirido nos últimos segundos.

Pior é quando é importante, que eu tenho que ficar repetindo o recado baixinho pra mim mesmo, “Tio Joaquim ligou pra Mamãe dizendo que a Tia Maria morreu de Câncer de Unha, favor retornar”... “Tio Joaquim ligou pra Mamãe dizendo que a Tia Maria... o que mesmo?”... É complicado. E de domingo o telefone em casa não para, apesar de NUNCA ter ninguém além de mim por lá.

Daí é foda, dois, três recados ao mesmo tempo, e eu tendo que ficar repetindo baixinho pra decorar: “Lost ligou pra Amanda dizendo que tem role hoje a noite na casa do Puga, e que a Tita passa aqui as dez pra dar carona”, “Júlio ligou pra mamãe pra dizer que não conseguiu falar com ela e que hoje a noite vão pegar um cineminha”, “Conte ligou pro Matheus, três vezes, a Gabriela ligou quatro vezes, todos vão tomar sorvete no Mc do Shopping”. Beleza... decorado... Ai eles chegam e precisa passar o recado: “Amanda, Puga ligou pro Conte pra dizer que hoje vai tomar sorvete e não conseguiu falar com você”, “Mãe, a Gabriela ligou quatro vezes pra dizer que vai numa festinha com você e a Titã e passa aqui as dez pra te buscar”, “Matheus, o Júlio diz que ele e o Conte vão pegar um cineminha com MC hoje a noite, te ligou três vezes”.

Porra, meu, compra uma secretária eletrônica né... Daí eu tomo bronca porque não consigo passar recado direito... fala sério, pega um papel e anota, sei lá! Ou liga no celular, todo mundo tem celular hoje em dia, as pessoas só não se acham se não quiserem...

5 comentários:

Luciana disse...

As pessoas em casa tem conciencia de que eu não dou o recado, e quando telefonam e perguntam se eu vou dar eu sou clara "cara, eu ACHO que eu vou esquecer. Se eu lembrar, eu dou. Tenta o cel."

Liene disse...

Da última vez que me pediram pra passar um recado eu disse sinceramente "se eu não me esquecer, digo sim", e a pessoa, que eu não sei quem é, disse "nossa, obrigado pela boa vontade", como se eu esquecesse de propósito só por ela ser completamente indiferente pra mim.

Mas vale também dar o celular da pessoa procurada e dizer "dê o recado você mesmo".

Mariana Cesar disse...

Eu sempre dou recados, acho que isso chega até ser uma qualidade nos dias de hoje.

Aqui no trampo, a galera vai almoçar e desvia o ramal para o ramal das outras pessoas que não foram almoçar.

Beleza, se o meu Outlook está aberto, já mando o recado direto para a pessoa por e-mail. Agora se está fechado, eu tenho uma mega coleção de post-it para dar de presente com coisinhas escritas para as outras pessoas.

É, isso realmente é uma qualidade.

E bom, eu não precisei treinar muito para compreender a sua ortografia-verbal. Das vezes que conversamos (não lembro de foram 'muitas'), eu o entendi completamente.

Talvez seja porque eu sou meio tagarela e não deixei você falar, tipo assim. Hehruehrue.

Beijo, Gabs! ;*

J. Junior disse...

Referente a o post: "Eu sou Escorpiano", tenho a acrescentar: http://oh-dreame.blogspot.com/

Gabriel Cal disse...

Pisciano viadinho.